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Concursos e Empregos

Concursos públicos: como se preparar com filhos em casa 

Pedagoga dá dicas para pais e mães que estudam para concursos com filhos em casa

Estudar para concursos já é, por si só, uma maratona que exige foco, constância e resiliência. Quando se soma a isso a maternidade ou a paternidade ativa, o percurso se torna ainda mais desafiador.

A rotina com os filhos, especialmente quando pequenos, impõe obstáculos diários: falta de tempo, noites mal dormidas, interrupções constantes e, muitas vezes, um sentimento silencioso de culpa.

Valéria Oliveira, pedagoga e doutora em Educação pela UFPE, afirmou que um dos principais desafios enfrentados por mães e pais concurseiros foi conseguir tempo de qualidade para estudar. 

“A rotina com os filhos ocupa boa parte do dia, e muitos só conseguem estudar de madrugada ou em horários partidos, o que afeta diretamente a concentração e o rendimento”, explicou.

A especialista também apontou que a exigência de disciplina e constância dos concursos muitas vezes entra em choque com a imprevisibilidade da criação de filhos.

“Filhos pequenos adoecem, têm crises de sono, pedem mais atenção. Isso pode quebrar o ritmo de estudo com frequência”, disse.

Foi o que viveu Eduarda Vasconcelos, mãe solo e recém-aprovada em um concurso público da área de saúde. Durante sua preparação, ela precisou aprender a adaptar o cronograma aos imprevistos da maternidade.

“Tive que aceitar que não daria conta de tudo todos os dias. Quando parei de me comparar com quem tinha o dia inteiro livre para estudar, consegui focar melhor no meu ritmo”, relatou.

Estratégias 
Valéria defendeu que uma rotina de estudos eficaz para pais deveria levar em conta as responsabilidades com os filhos. Ao invés de metas diárias rígidas, ela sugeriu trabalhar com metas semanais. “Isso oferece mais flexibilidade e menos frustração”, afirmou.

Ela também recomendou o uso da técnica Pomodoro, com blocos de estudo de 25 a 40 minutos e pausas curtas, além de aproveitar os pequenos momentos do dia, como filas ou cochilos das crianças, para revisar conteúdos. “Aplicativos de questões são grandes aliados para estudar no transporte, por exemplo”, indicou.

Eduarda contou que usou essa lógica para avançar. “Meu filho dormia e eu corria para revisar alguma matéria. Às vezes, estudava no celular enquanto ele assistia a um desenho. Não era o ideal, mas funcionava.”

Ela também envolveu o filho pequeno em sua rotina: “Dizia para ele que a mamãe estava estudando para arrumar um trabalho bom, e ele começava a brincar de estudar também. Isso criou um clima positivo em casa.”

Rede de apoio 
Outra chave para conseguir estudar com os filhos foi contar com uma rede de apoio — ainda que mínima. “Ter alguém para ajudar, nem que seja por algumas horas na semana, alivia a carga mental e física”, destacou Valéria.

Segundo ela, isso reduziu a ansiedade dos pais, que conseguiam se concentrar mais sabendo que os filhos estavam seguros e bem cuidados.

Eduarda contou que, nos momentos mais críticos, pediu ajuda à mãe para cuidar do filho por uma ou duas horas.

“Era pouco tempo, mas o suficiente para eu revisar algo com foco total. Depois, eu conseguia estar mais presente com ele também”, lembrou.

O sentimento de culpa por não estar com os filhos em tempo integral foi um dos fardos mais pesados dessa jornada.

“Falar sobre isso, entender que é uma dor compartilhada por muitos, já traz alívio”, afirmou Valéria.

Ela ressaltou a importância de reforçar o propósito. “Você não está se ausentando — está investindo em um futuro melhor para todos.”

Ferramentas
Na organização do tempo, ferramentas digitais como Google Agenda, Trello e Notion se mostraram úteis, mas Valéria apontou que recursos simples como cadernos de metas, planners e quadros brancos também funcionaram bem. “O importante é encontrar um método que combine com a rotina da família”, disse.

Ela também sugeriu o uso de aplicativos que convertem texto em áudio, ideais para ouvir conteúdos enquanto se realizavam outras tarefas.

As crianças aprenderam, segundo Valéria, vendo os adultos tentando, errando e recomeçando. Eduarda também destacou isso em seu processo: “Meu filho cresceu vendo que, mesmo cansada, eu seguia tentando. Hoje, ele diz que quer ar em concurso também. Acho que plantei uma sementinha.”

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