Logo Folha de Pernambuco
Carreiras e Empresas

O que as empresas têm a ver com o empréstimo com garantia do FGTS

Leia Também

• Alinhando estilo pessoal e cultura organizacional

• Estabilidade no trabalho: o que realmente importa?

• não é confronto, é cuidado

O que as empresas têm a ver com o empréstimo com garantia do FGTS

O empréstimo consignado com garantia do FGTS, popularizado pelo programa “Crédito do Trabalhador”, chegou ao mercado com a promessa de ser uma alternativa simples e de custo ível para quem precisa de dinheiro rápido e sem tanta burocracia. A possibilidade de utilizar até 10% do saldo do FGTS e 100% da multa rescisória como garantia para obter crédito com juros menores parece, à primeira vista, uma boa oportunidade. No entanto, por trás dessa facilidade, existem riscos que não podem ser ignorados — e que impactam diretamente a relação entre empresas e seus empregados.

Por mais simples e ível que seja, todo empréstimo deve ser encarado com responsabilidade. Um crédito mal planejado não resolve problemas financeiros; ele apenas posterga uma situação que tende a piorar. Muitos trabalhadores recorrem a empréstimos sem se organizar financeiramente, movidos por necessidades imediatas ou pela falsa ideia de que aquela solução resolverá tudo. O resultado costuma ser um efeito rebote: em vez de aliviar, o empréstimo agrava a situação, criando um ciclo de endividamento difícil de reverter.

 

O perigo

É aí que mora o perigo do consignado do FGTS. O desconto das parcelas ocorre diretamente na folha de pagamento, o que dá ao trabalhador a sensação real de uma redução salarial. Mesmo sem alteração no salário bruto, a percepção de perda é inevitável: ao ver o valor recebido em conta diminuir, o impacto no orçamento mensal é imediato. Quando a parcela é mal calculada ou simplesmente não cabe no bolso, falta dinheiro para despesas que, antes do empréstimo, não faltavam, e o salário termina bem antes do próximo depósito. É aí que vem o entendimento de que é preciso ganhar mais, e o desconforto com a remuneração cresce e se transforma em insatisfação e pressão junto às lideranças por mais dinheiro.

Infelizmente, as consequências não param por aí. Essa insatisfação tem outras repercussões no ambiente de trabalho. Empregados endividados tendem a apresentar queda de produtividade, desmotivação e aumento da ansiedade. Tudo isso, somado à pressão por mais dinheiro, faz até despertar nas pessoas o desejo de ser desligadas sem justa causa, para ter o ao saldo da rescisão e conseguir pagar as dívidas. Em situações mais graves, surgem até pressões para obtenção de mais empréstimos com a empresa ou em nome de terceiros, o que aprofunda ainda mais o problema.

 

Compromisso

Diante desse cenário, qual é o papel das empresas? Embora não sejam diretamente responsáveis pela gestão financeira de seus empregados, as organizações não podem se isentar do impacto que a saúde financeira dos profissionais traz para a operação. Cabe ao empregador atuar como um agente de orientação e apoio, ajudando a esclarecer o que é o empréstimo consignado, como funciona o desconto no contracheque, que dívidas mais longas com parcelas menores podem significar juros maiores e quais são os riscos de um endividamento mal planejado ou com algo supérfluo e desnecessário.

Empresas comprometidas com o bem-estar dos seus times podem — e devem — promover ações de educação financeira, sejam elas palestras, materiais explicativos ou canais de atendimento para dúvidas. O foco deve ser, sobretudo, naqueles que possuem menor o à informação, evitando ruídos que gerem insatisfação e agravem o problema.

Transparência é a palavra-chave. Deixar claro que o empréstimo não é um “dinheiro extra”, mas um adiantamento que impactará diretamente o salário líquido ajuda a alinhar expectativas e evita surpresas e frustrações futuras. Aquelas pessoas que já estão endividadas merecem atenção redobrada: para elas, cada nova dívida pode ser o empurrão final para uma situação insustentável.

Por fim, é importante reforçar que um empregado endividado é um empregado desmotivado. Isso afeta diretamente o clima organizacional, os resultados da empresa e pode gerar um aumento das pressões internas, tanto por melhores salários quanto por desligamentos. Cuidar da saúde financeira das equipes é também cuidar da saúde da própria empresa e, mais diretamente, do desafio de se ter equipes estáveis, produtivas e focadas no resultado da empresa.

O consignado com garantia do FGTS não é vilão, mas precisa ser tratado com a seriedade que merece. Empresas que entendem isso saem na frente: transformam um risco em oportunidade de criar uma cultura de responsabilidade financeira, com ganhos para todos.

 

 

Newsletter