Empréstimo CLT pode afetar a renda mensal das famílias pernambucanas

O novo modelo de empréstimo consignado para trabalhadores com carteira assinada já soma mais de R$ 174 milhões contratados em Pernambuco, segundo dados do Ministério do Trabalho. Com valor médio de R$ 4.942,60 por contrato, a alta adesão à linha de crédito traz uma preocupação: o nível elevado de endividamento das famílias. 

O comprometimento de parte da renda mensal com novas dívidas pode agravar ainda mais a situação financeira de muitos lares. A modalidade de empréstimo pessoal voltada para CLT desconta as parcelas diretamente da folha de pagamento do trabalhador, com parcelas limitadas a 35% do total do salário. Em casos de demissão, até 100% do valor da multa rescisória pode ser utilizada para quitar o saldo devedor, além de comprometer até 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). 

Com 3,3 milhões de endividados, Pernambuco tem quase metade de sua população no vermelho, segundo o último Mapa da Inadimplência, da Serasa.  

Quando analisados os dados do país, a situação financeira não é animadora. Dados da Confederação Nacional do Comércio revelaram que a proporção de famílias endividadas cresceu de 76,4% em fevereiro para 77,1% em março deste ano. 

Em meio à corrida por alívio financeiro, a linha de crédito, lançada pelo Governo Federal em 21 de março, surge como alternativa para quitar as dívidas com juros altos, mas o que parece solução pode virar armadilha, se não utilizado com cautela. 

Riscos

De acordo com o economista da Fecomercio Pernambuco Rafael Lima, o novo Empréstimo Consignado CLT acende um sinal de alerta ao ampliar as possibilidades de endividamento em um contexto no qual grande parte da população brasileira já enfrenta um alto grau de comprometimento financeiro, especialmente com dívidas no cartão de crédito e parcelamentos.

A pesquisa da Confederação Nacional de Lojistas (CNDL) mostrou que 69 milhões de consumidores possuem compras parceladas. O total representa 42% dos consumidores entrevistados. “O valor das parcelas segue o limite de até 35% da renda, lembrando que oito a cada dez famílias já estão com uma média de 30% da renda comprometida com algum tipo de dívida. Então, já vai aí para 65% da sua renda comprometida”, pontuou Lima.

O economista Filipe Braga também destaca a redução do valor disponível do FGTS e à perda de até 100% da multa rescisória em caso de demissão como principais riscos. “A demissão por justa causa poderá trazer dificuldades para quem estava contando com esses valores para se manter ou ainda para dar entrada em um imóvel, por exemplo”, explicou.

Juros

O Empréstimo CLT, no entanto, oferece taxas de juros mais baixas do que as praticadas geralmente nos empréstimos pessoais do mercado. Por isso, se utilizado com responsabilidade e planejamento, pode ser uma alternativa vantajosa para quem busca quitar dívidas em atraso que acumulam juros elevados.  

“É aconselhável contratar (o Empréstimo CLT)  para pagamento de dívidas que possuem custos mais altos, como cartão de crédito. Não acredito que o Consignado CLT deva ser utilizado, por exemplo, para compras de bens de consumo, pois esse cenário poderia criar uma dívida e trazer problemas no futuro”, afirmou o professor de economia da UniFBV Wyden Filipe Braga.

De acordo com a Caixa Econômica Federal, a instituição oferece empréstimo consignado para CLT com taxas de 1,60% a 3,17%, dependendo do score de cada pessoa. Já em um levantamento realizado pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP), a média de taxa de juros para crédito pessoal de mercado no país estava em 8,01% ao mês, em março deste ano. 

Mais de 80 instituições financeiras disponibilizam suas ofertas no aplicativo da Carteira Digital do Trabalhador, e os juros podem variar conforme cada banco.  

Dicas

Nesse aspecto, o trabalhador que pretende contratar o Consignado CLT deve ficar de olho nas diferentes taxas de juros oferecidas pelos bancos e  no futuro da saúde financeiro para os meses em que as parcelas serão descontadas na folha de pagamento. Para o economista Filipe Braga, o mais importante é avaliar o quanto da  renda já está direcionada às despesas mensais e dívidas existentes. 

“O trabalhador precisa saber quanto do salário dele está comprometido com os gastos fixos, assim ele consegue saber qual seria a margem livre para pagamento do empréstimo. Se possível, seria interessante ter uma pequena reserva para cobrir eventuais gastos que possam comprometer o orçamento durante o pagamento do empréstimo”, destaca. 

Além disso, é imprescindível que o cidadão aguarde 24 horas após as solicitações de ofertas antes de fechar qualquer contrato. Dessa forma, é possível verificar qual instituição oferece as melhores condições. 

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Bens

Antes de contratar o Empréstimo CLT, é importante que o trabalhador esteja ciente que, para certas aquisições, o consignado não é viável. “Não acredito que os empréstimos devam ser utilizados, por exemplo, para compras de bens de consumo, pois esse cenário poderia criar uma dívida e trazer problemas no futuro”. 

Com um planejamento bem organizado, o gerente comercial Lucas Freitas optou por contratar o Empréstimo CLT com um objetivo claro: quitar dívidas com juros elevados e retomar o controle das finanças.

Apesar de ter margem para solicitar um valor maior, Lucas decidiu agir com cautela. “Preferi pegar apenas o necessário para pagar as dívidas, sem comprometer demais minha renda mensal. Quis algo que coubesse no meu orçamento e não impactasse tanto o salário”, explica.

Antes de fechar negócio, ele analisou cuidadosamente as propostas e condições do crédito. “Foi uma decisão bem pensada. Fiz todos os cálculos com minhas despesas e avaliei todas as possibilidades para garantir que isso realmente me ajudaria e não se tornaria mais um problema”, revelou.

Para Lucas, o pagamento do acordo direto na folha ajuda a não esquecer ou ficar inadimplente com o banco. “Facilitou para mim porque o desconto em folha faz com que eu não me preocupe em ter que pagar e esquecer, ou de pegar o dinheiro e acabar utilizando para outra finalidade”, disse. 

Quando o empréstimo não é bem planejado, como no caso de Lucas, há o risco de endividamento. Com o lançamento do Empréstimo CLT, o economista Rafael Lima projeta um possível aumento nos níveis de endividamento nos próximos meses. Segundo ele, só a partir do final do primeiro semestre será possível observar os impactos da nova modalidade de consignado nos índices de comprometimento financeiro da população. Lima diz que é cedo para falar sobre as implicações, já que o empréstimo foi lançado há menos de um mês. “Só é possível ver como os consumidores estarão reagindo a essa nova modalidade de empréstimo a partir de junho”, esclareceu.