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Folha Gastronômica

O Papa do acolhimento

Papa Francisco ficará, para sempre, em nossos corações. Guardaremos o seu jeito simples, humilde, generoso, alegre e bem-humorado. Foi o Papa do acolhimento. Para ele, “todos (gays, transexuais, casais do mesmo sexo) são filhos de Deus, e podem ser abençoados como o resto dos fiéis”. Também acolheu imigrantes, refugiados, presos, índios, pessoas de outras religiões. A todos convocou para se unir em torno do meio ambiente, da ecologia, dos direitos humanos, da paz, da democracia. Criticou tanto o capitalismo desenfreado, quanto o marxismo e as versões marxistas da teologia da libertação. Permitiu que mulheres votassem no Sínodo dos Bispos. Pregou uma Igreja com menos fausto. Ele próprio decidiu não viver no Palácio Apostólico, mas em um quarto simples na casa de hóspedes Santa Marta. Ensinou a importância do respeito à vida e à dignidade humana. Tentou aproximar a Igreja do povo de Deus, lembrando que “precisava ir às periferias, não só as geográficas, mas também as existenciais”. Queria, em resumo, “uma Igreja feita de pastores com cheiro de ovelha”. 

Também encantou, a todos, com seus discursos. A mim, sobretudo, quando recorreu aos alimentos para explicar seu pensamento e transmitir valores. “O que podemos fazer? Botar fé. O que significa isso?  Quando se prepara um bom prato e falta sal, você então bota o sal. Se falta azeite, então bota o azeite. Botar é colocar, derramar”. O mesmo processo, segundo ele, ocorre na vida, que também precisa ser temperada com elementos espirituais para valer a pena. “Bote fé e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica direção. Bote esperança e todos os seus dias serão iluminados”. Com a mesma esperança que trouxe para todas as ovelhas de seu rebanho. Para ele, refeição era momento de união, de partilha, de hospitalidade, “Comer junto é uma ação evocadora e simbólica”. Não por acaso todos os domingos, na janela do apartamento pontifício, ao concluir a oração do Angelus, desejava aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro “Bom domingo e bom almoço”. Tinha prazer em comer e justificava “O prazer de comer vem de Deus”. Manteve sempre o gosto por pratos de sua própria terra, a Argentina – assados, empanadas, locro (feijão branco com vários tipos de carne), matambre arrolado,  alfajor, doce de leite. Com seus avós piemonteses, Giovanni e Rosa, aprendeu também a gostar de receitas italianas – pão caseiro, agnolotti (massa recheada), risoto, tagliolini, polenta, bolo de avelã, queijos,  segundo Roberto Alborghetti (em À Mesa com Papa Francisco).

Rejeitava tanto qualquer desperdício como o consumo exagerado. Era adepto da “cozinha dos restos”, que reaproveita os alimentos. Respeitando a natureza e seus produtos, frutos do trabalho dos homens e dom de Deus. Conta-se que certa vez foi à cozinha da Casa Santa Marta e disse, às cozinheiras, “Por favor, não joguem fora a água do cozimento da chicória. Eu a tomo com gosto. É boa e faz bem”. Em uma de suas homilias falou do pecado que era jogar fora o pão – o mais precioso dos alimentos. E, quando falou sobre a mentira, recordou as bolachas que sua avó preparava com massa leve, que crescia muito, mas que quando iam comer, estavam ocas por dentro – “Assim são as mentiras: parecem grandes, porém por dentro não têm nada, não há nada de verdadeiro ali”. 

Papa Francisco pregou, sobretudo, a inclusão de todos em volta da mesa, expressando sua preocupação com a fome. Assim como fez Jesus incluindo, em sua mesa, homens, mulheres, amigos, inimigos, ricos, mendigos, santos, pecadores, sãos e doentes. Uma bela lição.  Viva Papa Francisco! Hoje e sempre!Saudades dele. Muitas saudades.
 

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