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Folha Gastronômica

Santo Antônio

Na próxima sexta-feira começa, oficialmente, as festas conhecidas como “juninas”. No dia de Santo Antônio. Depois vem São João (dia 24) e São Pedro (dia 29). A tradição de celebrar esses santos nos veio de Portugal, desde o início da colonização. Com importância diferente, segundo o lugar. Em Lisboa, mais popular é Santo Antônio – pelo papa Pio XI nomeado segundo padroeiro de Portugal, em 1934; junto com Nossa Senhora da Conceição, antes nomeada, em 1646, por D. João IV (O Restaurador). Sendo padroeiro de Lisboa, só para lembrar, São Vicente – com festa em 22 de janeiro. Fato parecido também aconteceu por aqui. Em que Santo Antônio é nosso padroeiro oficial; junto com Nossa Senhora do Carmo – co-padroeira, por decreto do Papa Bento XV, em 12 de novembro de 1918. Não por acaso nascendo, a capital da capitania de Pernambuco, como Santo Antônio do Recife. Mas apesar da grande devoção a esse santo, nossa principal festa foi sempre São João, o santo mais celebrado no norte de Portugal – de onde vieram todos os nossos primeiros colonos.

Só para lembrar Santo Antônio (batizado como Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo) nasceu em Lisboa (15 de agosto de 1195), bem próximo à Sé – onde está hoje museu e capela que lhe é dedicada; e morreu em Pádua, na região do Vêneto, no eremitério da Comune di Camposampiero (13 de junho de 1231). A festa em sua homenagem se dá nesse dia porque a tradição católica celebra sobretudo as datas de morte dos seus santos e mártires. As comemorações começam na noite da véspera. No início, se davam sobretudo na Praça da Figueira, no Rossio e no eio Público – ornamentadas com arcos (de folhas de buxo, alfazema, louro e flores) e fogueiras (onde eram queimados alecrim e murta). O momento mais importante dessa festa eram os bailes e os fogos de artifício. Depois, e aos poucos, a festa foi se espalhando por todos os bairros – sobretudo Castelo, Alfama, Madragoa, Bica. Hoje, em frente à quase todas as casas, são colocados “os tronos de Santo Antônio” – com a imagem do santo sendo decorada por arcos, flores, fitas e balões.  Havendo, também, concursos de ranchos e marchas populares, com desfile alegórico de blocos de cada bairro, que descem a Avenida da Liberdade; e encerrando-se, esse desfile, com show de fogos de artifício. Nesse dia os rapazes compram um pequeno “vaso de manjerico” (manjericão) para oferecer às namoradas; por ser, Santo Antônio considerado o santo casamenteiro. “Santo Antônio, santo Antoninho, arranja-me lá um maridinho”, diz antigo pregão popular. 

Essa festa revela, também, uma culinária muito especial. Servida em mesas espalhadas nas calçadas. O principal prato é a sardinha assada na brasa; por estarem, exatamente nessa época, mais gordas e mais saborosas. Recomendam-se alguns cuidados, na escolha: não devem ser muito grandes, nem pequenas – “aí está um caso em que a virtude está no centro”, ensina ditado popular. Devem também ser frescas – com couro brilhante (quase fosforescente), olho vivo e sem apresentar a cabeça manchada de sangue. Na hora de ir ao fogo, “o assador deve estar prevenido com cinzas ou com areia, para apagar a chama que eventualmente se forma com a gordura que as sardinhas largam ao assar”, segundo a escritora portuguesa Maria de Lourdes Modesto. Mas não só sardinhas, são servidas nessa festa. Também queijos frescos, pataniscas de bacalhau, febras de porco, chouriço, caldo verde (feito com batata, couve e linguiça), queijadas de Sintra, bolachas da Lapa e sobretudo arroz doce. Tudo acompanhado por vinho tinto e sangrias, com pedras de gelo e rodelas de limão galego.  No Brasil, nesse dia, as Igrejas distribuem aos pobres os famosos pãezinhos de Santo Antônio; que, segundo a tradição, deve ser guardado dentro de uma lata, como garantia de que não faltará comida durante todo o ano. Sendo recorrente a crença que esse pão, apesar de guardado por tanto tempo, não mofa nem estraga. Graças a Santo Antônio, claro. Por tudo, então, viva Santo Antônio!

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