Riscos à saúde nas corridas de rua reacendem debate sobre segurança e exigência de atestado médico
Rodrigo Souto Maior, delegado do CREF12/PE, analisa o cenário
Mortes recentes em provas esportivas chamam a atenção para a importância da orientação profissional e da avaliação física adequada. Rodrigo Souto Maior de Oliveira, profissional de educação física e delegado do CREF12/PE, analisa o cenário e propõe um olhar equilibrado entre segurança e o à prática esportiva.
Nos últimos meses, notícias de mortes de corredores durante provas de rua no Recife e outras cidades brasileiras geraram grande comoção. O impacto emocional atinge tanto iniciantes quanto atletas experientes e levanta uma questão urgente: como garantir que a prática esportiva aconteça de forma segura e orientada?
“Estamos, de fato, em um momento delicado. Essas tragédias causam medo e insegurança, especialmente entre quem está começando a correr e também entre familiares de corredores. É fundamental que a comunidade esportiva se una para oferecer apoio, informações confiáveis e, principalmente, para refletir sobre as responsabilidades envolvidas”, afirma Rodrigo Souto Maior de Oliveira, profissional de educação física e delegado do Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região (CREF12/PE).
Segundo Rodrigo, é essencial que as causas dessas mortes sejam investigadas com profundidade. “Somente com esse entendimento poderemos identificar os fatores de risco reais e implementar medidas preventivas mais eficazes”, pontua.
Uma responsabilidade compartilhada
Rodrigo reforça que a segurança na corrida de rua — assim como em outras práticas esportivas — é uma responsabilidade compartilhada entre atletas, organizadores de eventos, profissionais de saúde, profissionais de educação física e gestores públicos. “Não se trata apenas de cobrar exames, mas de promover uma cultura de prevenção, orientação técnica e acompanhamento profissional desde os primeiros os”, destaca.
Avaliação física, sim. Atestado médico obrigatório, não necessariamente
A recente discussão sobre a obrigatoriedade de atestados médicos para frequentar academias e participar de corridas de rua também ganhou força diante desse cenário. Rodrigo, no entanto, traz uma visão crítica e ponderada.
“Particularmente, não vejo que tornar obrigatório o parecer cardiológico para treinar em academia tenha impacto direto na redução de mortes em corridas de rua. Pelo contrário, pode afastar pessoas da prática de exercícios, o que é prejudicial para a saúde pública”, analisa.
De acordo com ele, a exigência generalizada do atestado médico cria barreiras de o, especialmente entre pessoas de menor poder aquisitivo, ao mesmo tempo que não previne necessariamente os riscos se não houver acompanhamento contínuo. “A avaliação física feita por um profissional de educação física é uma ferramenta poderosa para mapear riscos, definir objetivos e individualizar o treino”, defende.
A posição do CREF12/PE
O Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região (CREF12/PE), segundo Rodrigo, segue em consonância com o Conselho Federal (CONFEF), sendo contrário à obrigatoriedade irrestrita do atestado médico para a prática em academias ou corridas amadoras.
“O CREF entende que a triagem e a avaliação física devem ser conduzidas por profissionais qualificados da área de educação física. Quando forem identificados fatores de risco, aí, sim, o encaminhamento para avaliação médica é necessário e recomendado”, explica.
Rodrigo ressalta que em eventos competitivos ou em casos específicos — como pessoas com histórico de problemas cardiovasculares ou sedentárias por longos períodos — o exame médico pode ser exigido pelos organizadores como critério de segurança.
Conectando academia, corrida e prevenção
A lógica, segundo o delegado do CREF12/PE, é a mesma para academias e corridas: iniciantes precisam de orientação e avaliação individualizada, veteranos devem realizar reavaliações periódicas, e a decisão de encaminhamento médico deve partir da análise criteriosa dos profissionais que acompanham o praticante.
“A promoção da saúde a por incentivar a prática regular e segura de exercícios. Se colocarmos obstáculos excessivos, arriscamos desestimular a população a se movimentar. O equilíbrio está em avaliar bem e agir de forma integrada entre os profissionais da saúde”, conclui.
Riscos da corrida de rua sem orientação: avaliação, hidratação, alimentação e fortalecimento
Com o aumento da popularidade das corridas de rua, cresce também o número de pessoas que iniciam na prática esportiva sem os cuidados adequados. Embora correr pareça algo simples e natural, negligenciar a preparação física e os cuidados básicos podem levar a lesões, desidratação e até problemas cardíacos. A seguir, o especialista explica como minimizar os riscos.
Avaliação física: primeiro o para correr com segurança
Antes de calçar o tênis e sair correndo por aí, é fundamental ar por uma avaliação física. Essa etapa permite identificar condições preexistentes — como problemas cardíacos, respiratórios, posturais ou lesões musculoesqueléticas — que podem ser agravadas com o esforço físico.
“Além de garantir a segurança, a avaliação física ajuda a individualizar o treino conforme as capacidades e limitações de cada pessoa, otimizando o desempenho e prevenindo lesões”, destaca o profissional de educação física.
Entre os testes recomendados estão:
- Anamnese (entrevista sobre histórico de saúde);
- Avaliação postural e antropométrica;
- Testes de flexibilidade e força muscular;
- Avaliação funcional, como o FMS (Functional Movement Screen);
- Teste de esforço cardiológico (eletrocardiograma em esteira);
- E, se possível, a ergoespirometria, que avalia o consumo de oxigênio.
Hidratação: cuidado que pode salvar vidas
A água representa entre 60% e 70% do nosso corpo. “Durante a corrida, a perda de líquido e eletrólitos pelo suor é intensa e pode levar a quadros graves se não houver reposição adequada”, alerta Rodrigo:
Antes da corrida:
- Beba entre 500 a 700 ml de água de 2 a 4 horas antes da prova;
- Cerca de 200 a 300 ml 30 minutos antes;
- Evite bebidas alcoólicas e cafeína.
Durante a corrida:
- Beba 100 a 250 ml de água ou isotônico a cada 15-20 minutos;
- Em provas acima de 1h, opte por bebidas isotônicas para repor sódio e potássio.
Após a corrida:
- Reponha 1,5 litro de líquido por quilo de peso perdido (pese-se antes e depois);
- A urina deve estar clara — um bom indicativo de hidratação.
- Sinais de desidratação incluem: boca seca, urina escura, tontura, cãibras, batimentos cardíacos acelerados, confusão mental e, em casos graves, colapso físico.
- “Se sentir esses sintomas, pare a atividade, procure um local fresco e se hidrate imediatamente. Em situações mais sérias, busque ajuda médica”, orienta o professor.
Alimentação: o combustível do corredor
Para garantir desempenho e recuperação, a alimentação deve ser equilibrada e adequada ao gasto energético da corrida. A orientação de um nutricionista é o ideal, mas algumas recomendações gerais podem ajudar quem está começando.
- Antes do treino: dê preferência a carboidratos complexos como batata-doce, mandioca, arroz integral ou pães integrais, com antecedência de 2 a 4 horas.
- Durante treinos longos: use carboidratos de rápida absorção, como gel de carboidrato, banana ou bebidas esportivas, especialmente em provas acima de uma hora.
- Após a corrida: combine carboidratos e proteínas para repor energia e reconstruir os músculos — opções como frutas, sucos, iogurte, ovos, frango e massas são bem-vindas. Micronutrientes como ferro, cálcio, potássio e magnésio também devem ser mantidos em dia, especialmente para quem sua muito ou segue dietas restritivas.
É importante ter um trabalho interdisciplinar entre o profissional de educação física e o nutricionista.
Fortalecimento e flexibilidade: prevenção de lesões
Correr não é apenas sair do ponto A ao B. “É fundamental preparar o corpo para ar a carga de treinos, principalmente nas articulações e musculatura de membros inferiores e do core”, explica Rodrigo.
Entre os exercícios mais indicados estão:
- Agachamentos, avanços, prancha e elevação de quadril (fortalecimento de pernas e quadril);
- Treinos de equilíbrio e mobilidade;
- Alongamentos ativos e ivos, especialmente para panturrilhas, posteriores de coxa e quadríceps;
- Exercícios funcionais que simulam gestos da corrida, como saltos, deslocamentos e adas.
“Um bom trabalho de fortalecimento aliado à melhora da flexibilidade contribui diretamente para a performance e reduz drasticamente o risco de lesões”, reforça o profissional de educação física.
Planejamento e orientação são indispensáveis
Iniciar na corrida de rua pode ser uma das decisões mais transformadoras para a saúde física e mental. Mas isso só acontece de forma segura quando o praticante respeita seu corpo, investe em preparação, hidratação, alimentação e acompanhamento profissional. Correr é para todos — desde que com responsabilidade.
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Vida de Corredor
Com a avaliação em dia, a musculatura preparada e o fôlego afiado, Valdir Monteiro segue acumulando quilômetros — e bem-estar. - Foto: Divulgação
Valdir Monteiro encontrou na corrida de rua mais que um esporte: um estilo de vida. Com treinos consistentes, musculação específica e avaliações físicas periódicas, ele se prepara agora para um novo desafio — sua primeira meia maratona. Praticante há mais de três anos, Valdir faz questão de cuidar da saúde e do rendimento com disciplina e acompanhamento profissional.
A sensação boa de correr e viver bem
A paixão pela corrida nasceu de forma natural. “Sempre gostei da sensação pós corrida, me faz bem”, conta Valdir Monteiro, 37 anos, professor. Há pouco mais de três anos, ele decidiu levar essa prática mais a sério, e desde então tem se mantido firme nos treinos e no autocuidado. Mais que bater metas ou alcançar pódios, o que move Valdir é o prazer. “Nunca tive grandes planos com a corrida porque sempre a vi como lazer”, revela. Mas, ainda assim, ele já participou de mais de 10 corridas oficiais e agora se prepara para um novo desafio: sua primeira meia maratona, prevista para o segundo semestre deste ano.
Avaliação física: compromisso com a saúde
Com disciplina de atleta, Valdir inclui na rotina não apenas os treinos de corrida, mas também a musculação direcionada. E tem um diferencial que pouca gente segue com regularidade: ele realiza avaliações físicas a cada três meses com um profissional de educação física qualificado.
“Já tem uns dois meses que fiz a última, e por esses dias devo fazer outra. Faço questão dessa avaliação. Meu avaliador refaz tudo nesse intervalo para acompanhar minha evolução”, destaca o corredor.
Disciplina e constância: fórmula pessoal para correr bem
Os treinos de Valdir variam entre duas e três vezes por semana. “Corro e faço musculação voltada para esse fim. Tento manter uma boa disciplina”, explica. Essa constância é o que tem garantido não só bons desempenhos nas provas, mas também saúde física e mental equilibradas.
Com um olhar tranquilo sobre o futuro, ele vai dando os firmes e conscientes. “Motivação e disciplina não faltam”, afirma. E assim, com a avaliação em dia, a musculatura preparada e o fôlego afiado, Valdir segue acumulando quilômetros — e bem-estar.
@vl_monteiro90