A força da indústria audiovisual
A importância dos 60 anos da TV Globo na formação da identidade cultural
Não é tão somente por conta do meu envolvimento com o audiovisual, que me rendo aos 60 anos da TV Globo. Em tempos de intolerância e insensatez, saudar e comemorar com quem deu provas da capacidade de empreender neste Brasil, é algo digno de um senso de respeito. No caso, em nome da identidade cultural. E, também, pela dimensão socioeconômica da TV e do setor que atua.
Evidentemente, ainda há quem discorde de mim. Com mais ou menos veemência. Opinar é um exercício democrático. Contudo, contestar sem respeitar uma história empreendedora e, genuinamente, brasileira, é tentar por a emoção de embates ideológicos acima da racionalidade socioeconômica do empreendimento. E o paradoxo é que nessa questão, os extremos se afinam.
Por si só, o ato de empreender neste país já representa um desafio. E ver isso acontecer numa área, profissionalmente, multidisciplinar e que envolve fatores como inovação e criatividade, representa outra barreira por superar. Costumo dizer que produzir cultura e entretenimento não é igual a ociosidade que se tem em conta para se consumir. Pelo contrário, mobilizam-se os mesmos fatores e insumos necessários para quaisquer atividades econômicas.
Ao evoluir nesta minha análise, atenho-me a aspectos, que bem dizem sobre a relevância de se comemorar os 60 anos, desta que é uma das maiores empresas de comunicação do mundo. Afinal, sou parte de uma geração de brasileiros que enxergou a TV como uma real protagonista do projeto de integração nacional. Orgulha-me ter uma convicção de que fui também formado sob essa influência cultural. Por isso, não tenho nenhum pudor para escancarar uma essência televisiva, que tanto diz respeito à minha formação. Consigo separar o joio do trigo e entender que muita coisa boa pude aprender com a Televisão.
De fato, a TV Globo tem muito a ver com isso. Já consciente desse significado e, muito tempo depois, quando fui Secretário Nacional do Audiovisual, tive o privilégio de conhecer de perto seus estúdios. Um verdadeiro exemplo do que representa a moderna atividade industrial. Uma "fábrica" que opera nos 365 dias do ano, mostrando da divisão do trabalho à combinação dos fatores de produção, uma grandeza econômica. Em números daquela época (2016), a TV empregava sozinha, cerca de 10% da mão de obra total do audiovisual. Uma utopia alcançada pela visão de futuro do jornalista Roberto Marinho. Um feito irável quando visto lá fora, porque aqui há quem negue enxergá-lo. Disney só representa uma referência, porque seu "sucesso nacional" foi em Orlando e não em Jacarepaguá.
Por essas e outras razões (e não apenas pelos 60 anos da Globo), é preciso desmistificar a falsa ideia de que a Televisão nativa seja uma vilã nacional. Sigo outro roteiro.