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Nem 8, nem 80

Depois do Papa, vai-se o Pepe

Será que as lições de velhos humanistas servirão de alívio em tempos de etarismo e fracasso previden

Hoje faço desta coluna uma espécie respeitosa do que posso aqui chamar de "confessionário particular". Mesmo assim, antecipo que irei substituir o senso privado, de tudo aquilo que qualquer um julgaria como um ato reservado. De fato, nessa pegada diferenciada, farei uso  de uma atitude pública, aberta e transparente. Por conseguinte, confesso que exercer o humanismo e o respeito aos mais idosos são valores essenciais, por mais que algumas decepções com o rito dos mais jovens só aumentem aos meus olhos.

De pronto, quero realçar as iniciativas que, exercidas por meios dissimulados, encaram os mais velhos de hoje com um desdém irritante. Afinal, ainda sou do tempo que o olhar para os idosos era prática de absorção de conhecimento e sabedoria. O danado dos dias atuais está na condição contraditória de uma terceira idade mais saudável e que se sente produtiva, mas que enxerga seus sonhos e planos serem superados pelo preconceito e desrespeito.

Enganam-se os distraídos que não percebem o auge da maturidade, numa população cujo vetor etário já consagrou uma maioria idosa. Vale ainda acrescentar que isso constitui um viés do padrão demográfico e que tem significativos impactos nas relações econômicas. Que nos digam os indicadores de uma transição demográfica, que terminam por influir na economia. Seja pelo olhar direcionado para um contingente economicamente ativo que, enquanto jovem, irá contribuir com a subsistência dos mais velhos. Ou então, pelo que irá representar para as contas públicas o peso dos sistemas previdenciários. 

Diante disso, os fatos recentes que poderei associar à essa análise, ajudam-me a refletir sobre pontos que tratam das experiências dos idosos e, noutra dimensão, dos seus meios de subsistência para exercício pleno do ócio remunerado. Para tanto, destaco aqui o lamento pelas perdas recentes de Francisco e Mujica. E, em adição, a indignação pela roubalheira escandalosa, promovida em cima de milhares de aposentadorias.

Sim, de imediato, rendo-me às ausências de duas lideranças humanistas, enquanto fontes de inspiração para estes momentos de extremismos e soberbas.   Pelos valores natos do Papa e de Pepe, prevejo um vácuo desanimador, pois os sensos de justiça, ponderação e ética, tornaram-se escassos. Ambos foram senhores da experiência, em reconhecer e lidar, nas sua proposições econômicas, com ideiais humanistas. Farão muita falta.

O momento também reforça a necessidade de se reconhecer e garantir à relevância do papel social dos mais velhos. É, justamente, quando o mal causado pelo ataque criminoso aos aposentados se mostra imanente, de modo tão abusivo quanto cruel. 

Nesses cenários, o desafio está posto e de modos escancarado: será que as lições humanistas dos líderes serão um exemplo de instrumento de combate às práticas de etarismo, pela lucidez comportamental que o Papa e Pepe demonstraram? Serão também úteis enquanto lições de um revisionismo ético, diante dos malfeitos de uma previdência, estruturalmente, ultrajada por crimes hediondos?

Pois é, justo a pressa do tempo, que me carece ser infinito enquanto dure, terá que conceder respostas imediatas. A conferir.

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