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Nem 8, nem 80

Trumpetadas arrogantes e anômalas

A grandeza da América é uma autosserventia e não um preceito econômico

Enganam-se os que ainda pensam na grandeza dos princípios econômicos alardeados e ditados pelo inescrupuloso Donald Trump. A ausência de economistas com consistência acadêmica e, até mesmo, a reação negativa de certos megaempresários, que lhe deram apoio político, são sinais explicativos adversos, que põem em risco iminente a economia americana. 

A arrogância e anomalia das recentes decisões de política externa de Trump só me levam a acreditar no pior. Seu pífio entendimento sobre os EUA voltarem a ser melhor e maior que todos, apenas me revela um componente pessoal. Para mim, serve como forma de expressar uma autosserventia, que nutre  a soberba de ser um bilionário excêntrico, agressivo e autoritário. Um ser extravagante, que só ajuda a enxergar o capital como um modelo inspirado na fantasia do demonismo. Eis, então, o cara que, ao se por na sua estupidez para fazer o  melhor e o maior,  transforma os alicerces do capital numa obra exótica de "capetalismo".

Não posso mais crer que o impossível seja inalcançável. Assistimos incrédulos a cenas inimagináveis. Trump pode não ter conseguido aquela sua intenção sórdida de atuar como protagonista de Sodoma, que pediu que o "mundo lhe beijasse o traseiro". As respostas comerciais parecem vir, de modo paulatino, num comportamento incisivo, mas, absolutamente, diplomático. Com essa reação compatível com os manuais da diplomacia, fizeram-no pedir uma trégua dissimulada, mas sem que isso provocasse um turbilhão de ameaças internas, sobretudo, para a estabilidade da economia, tão intencionada pelos americanos.

O certo é que o "efeito bumerangue" dos tarifaços sistemáticos orquestrados como "trumpetadas", tem projetado maus momentos para a economia dos EUA. Para quem apostou numa duvidosa restauração da estabilidade, quando a economia nem se traduzia em indicadores preocupantes à época eleitoral, a ameaça que se vislumbra hoje pode ser um verdadeiro caos.

Além do fantasma de uma inflação que paira nos ares, a ameaça do desemprego e as perdas de tantos rentistas, que fazem das suas poupanças apostas em ações e títulos, são riscos factíveis. O efeito de tudo isso para os agentes básicos de mercado, sejam consumidores ou poupadores, compõem uma cultura desacostumada à tais rupturas de confiança e credibilidade. E nisso tudo, cabe lembrar que à sinofobia estrutural disfarçada pelo "patriotismo" americano, não impediu um contraponto que mostra um certo poder da China, conquistado pelas próprias regras econômicas semeadas pelo mercado. Em larga medida, um trunfo assumido com a posse expressiva de títulos da dívida americana. 

Será que valerá à pena insistir com a travessura das "trumpetadas"? Até onde a corda consegue ser esticada? Vale lembrar que os chineses são bons de corda e sabem exercer sobre ela as melhores técnicas de equilíbrio. Insistir na "trumpetada" representa uma decisão muito arriscada.

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