A escola não funciona com a lógica Paralímpica
Nos últimos dias, ficamos feridos - não mais surpreendidos – por falas inconcebíveis para um ministro de educação. Dizer que estudantes com deficiência “atrapalham” o aprendizado de uma turma, é mais do que ignorância completa do objetivo e do cotidiano escolar, é um preconceito estabelecido por origem de concepção, visto as justificativas “inclusivistas” utilizadas (reforço as aspas reforçadas pelo ministro).
Tal posição tem várias implicações negativas. Primeiro, denota que há linhas perigosas no MEC, que podem erodir as já frágeis e incipientes políticas de educação inclusiva. Lembro com saudosismo, um dos últimos posicionamentos do ex-Ministro Rossiele Soares, no fim do mandato, propondo a necessidade de novas discussões, rapidamente enterradas pelos sucessores. Há tempos, urge um fortalecimento de diretrizes nacionais, que unifiquem esforços individuais de redes estaduais e municipais, e que neste campo demandam alinhamento e evolução.
Depois, assusta uma visão competitiva da educação, claramente baseada em premissas meritocráticas, onde quem não atende ao padrão determinado, não se encaixa e deve ser tratado de forma excepcional, postura contrária a tantos anos de ativismo de educadores especialistas em inclusão.
Não sabe, não conhece e não viveu o ministro experiências onde a educação brasileira mostra ao mundo do como podemos ter uma educação mais solidária, mais diversa e universal, permitindo a convivência com as diferenças, do respeito e da humanidade. Onde a inclusão acontece, existe a satisfação em promover o crescimento e desenvolvimento de estudantes com ou sem deficiência em harmonia, a tal ponto de estabelecer comportamentos naturais de cooperação, como se espera ocorrer nas demais esferas da vida dos educandos, preparando os indivíduos enquanto cidadãos.
Diferentemente de uma competição esportiva que testa os limites do corpo como as Olimpíadas e as Paralimpíadas, a escola deve existir para construção de um bem comum, que não separe e crie poucos vencedores em detrimento e uma infinidade de perdedores, pois assim reforçamos os ciclos viciosos de produção de desigualdades.
Não é que não seja fã dos esportes. Nas Paralimpíadas os competidores também derrotam o capacitismo e quebram recordes e preconceitos, mostrando o quão limitamos nossa interpretação a esteriótipos. Nos esportes também se celebra o espírito esportivo e adversários não se tornam inimigos, confraternizam e se parabenizam ao final.
No entanto, esta não é a lógica da formação educacional humana. Quando houver dúvida, rogo que olhemos para o futuro, para o que esperamos para a sustentabilidade planetária e convivência fraterna social. O verdadeiro desenvolvimento da civilização virá com mais humildade, com mais senso de comunidade e com ministros que “atrapalhem” menos.