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Papo de Primeira

Brasil registra 156 casos diários de violência sexual contra crianças e adolescentes

Mais de 156 notificações diárias de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registradas em 2024 no Brasil, segundo levantamento da Fundação Abrinq com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A análise abrange o período de 2009 a 2024 e aponta que, em média, o país contabilizou anualmente 28 mil notificações de violência sexual contra menores de 19 anos, incluindo 19,4 mil casos de estupro e 8,2 mil de assédio sexual.

Os dados mostram que crianças e adolescentes representam 75,6% das notificações de violência sexual no período analisado. Em relação aos casos de assédio sexual, esse público correspondeu a 81,9%, enquanto nos registros de estupro, somaram 72%. A maioria das vítimas é do sexo feminino, com média acima de 85%. Meninos também são afetados, embora em menor proporção, 14,7% das vítimas de violência sexual e 12,7% dos casos de estupro.

Outro fator preocupante diz respeito à reincidência: em 2024, metade das meninas com até 19 anos que sofreram violência sexual ou estupro já havia sido vítima anteriormente, mesmo após atendimento pelo sistema de saúde. A repetição das agressões evidencia graves falhas na proteção e no acompanhamento dos casos.

“Crianças e adolescentes precisam se sentir seguros para relatar o que vivem. Por isso, o diálogo deve ser constante. O ambiente digital também exige atenção: é essencial orientar e acompanhar de perto. Só assim conseguimos reconhecer sinais e agir a tempo”, reforça Michelly Antunes, líder de programas e projetos sociais da Fundação Abrinq.

A violência ocorre, em grande parte, no ambiente doméstico. No último ano, 66,5% dos casos aconteceram dentro de casa. Escolas e vias públicas também figuram entre os locais citados, indicando que os espaços de convivência cotidiana nem sempre oferecem segurança às crianças e adolescentes.

Apesar de basear-se em notificações compulsórias da rede pública de saúde, os números são considerados subestimados pela Fundação Abrinq, pois muitas vítimas não denunciam por medo, vergonha ou vínculo com o agressor. A subnotificação reforça a dimensão oculta do problema e a necessidade de ações efetivas de prevenção, identificação precoce e denúncia. Casos suspeitos ou confirmados podem ser reportados ao Disque 100, ao Conselho Tutelar ou à delegacia mais próxima.

Em 2025, a campanha “Pode Ser Abuso” dá foco na identificação precoce dos sinais de abuso e na orientação prática de como agir diante de uma suspeita, com materiais educativos. A iniciativa também aposta em uma abordagem direta e ível, desmistificando o tema para quebrar o ciclo de silêncio e incentivar a denúncia. Detalhes em www.podeserabuso.org.br

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