Explosão de violência na primeira infância expõe urgência na proteção infantil
Homicídios de crianças de 0 a 4 anos cresceram 15,6% em 2023
O Atlas da Violência 2025 revelou um dado estarrecedor: os homicídios de crianças de 0 a 4 anos cresceram 15,6% em 2023, registrando a maior alta da série histórica. No acumulado da última década (2013–2023), os números também são alarmantes: violência sexual aumentou 383,4%, negligência 259,6% e violência física 195,7% — todas concentradas nessa faixa etária. A maior parte dessas violências ocorre dentro de casa, com familiares como agressores.
A primeira infância é uma fase crítica do desenvolvimento humano. A exposição à violência compromete severamente o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das vítimas — e mesmo quando não resulta em morte, deixa traumas invisíveis, duradouros e muitas vezes irreversíveis. Segundo o working paper “Prevenção da Violência contra a Criança”, produzido pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NI, a violência é um evento de estresse tóxico que impacta de forma negativa no desenvolvimento e provoca alterações fisiológicas e psicológicas na criança, podendo gerar agressividade, problemas de atenção, hipervigilância, ansiedade, depressão, dificuldades de adaptação escolar e transtornos psiquiátricos.
"A violência contra crianças é uma grave violações de direitos humanos. E ela acontece, em grande parte, dentro de casa. Quando o lar se torna o lugar do medo, não só destruímos a infância e causamos traumas imensuráveis nessa criança, como também perpetuamos um ciclo de violência e dor que atravessa gerações. Ignorar essa realidade é permitir que ela se repita" afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
"Crianças expostas à violência tendem a ter sua visão de segurança, confiança e proteção abaladas. Além disso, a violência contra crianças no âmbito familiar também leva à repetição da violência nas gerações seguintes, o que caracteriza o ciclo intergeracional da violência”, complementa Mariana. A Fundação defende a urgência na implementação de políticas públicas integradas e permanentes, com foco na prevenção, identificação e apoio às vítimas, articulando os setores de saúde, educação, assistência social, justiça e segurança pública.
Entre as recomendações publicados no guia Primeira Infância no Município – Políticas públicas institucionalizadas, destacam-se:
• Realizar diagnósticos locais: Saber onde estão as crianças, os riscos que enfrentam e os vazios de proteção é essencial para planejar ações eficazes.
• Zelar pela qualidade dos programas de proteção: Visitas domiciliares, fortalecimento dos vínculos familiares e capacitação de agentes comunitários têm efeito direto na prevenção.
• Garantir equipes qualificadas e orçamento estruturado: Sem profissionais preparados e financiamento definido, não há política pública que funcione de forma eficaz.
“Esperar a tragédia acontecer para agir é falhar com toda uma geração. Prevenir a violência contra crianças não é uma opção — é uma urgência moral, social e política. Cada bebê que morre ou sofre em silêncio revela o abandono de um sistema que deveria protegê-lo desde o berço”, reforça Mariana Luz.