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Saúde e bem-estar

A geração que cresce entre a obesidade e a ansiedade

O médico Rafael Coelho destaca a nova pesquisa da Revista Lancet

Estou sempre tocando no tema obesidade — e não é à toa. Os números mais recentes da Comissão Lancet sobre saúde e bem-estar de adolescentes me fizeram, mais uma vez, voltar a esse debate. O novo levantamento alerta que um em cada quatro adolescentes no mundo poderá desenvolver obesidade ou transtornos mentais até 2030. Um dado alarmante, que revela uma bomba-relógio prestes a explodir na saúde pública global. O estudo atualiza uma edição anterior de 2016 e mostra que pouco avançamos em quase uma década. Hoje, quase 1,1 bilhão de adolescentes seguem expostos a problemas de saúde que poderiam ser prevenidos ou tratados com políticas públicas eficazes. Entre os principais desafios apontados estão o HIV, a depressão, a gravidez precoce, a má nutrição e as lesões não intencionais — todos afetando, sobretudo, os mais jovens e vulneráveis.

Mas o que mais chama a atenção é a explosão da obesidade e dos transtornos mentais nessa faixa etária. De acordo com a projeção baseada nos dados do Global Burden of Disease, até 2030 teremos 464 milhões de adolescentes com sobrepeso ou obesidade — um salto de 143 milhões em comparação com 2015. Em algumas regiões da África e da Ásia, o número de jovens acima do peso aumentou até oito vezes nas últimas três décadas. Em países de alta renda, na América Latina e no Oriente Médio, a expectativa é que um terço dos adolescentes esteja com excesso de peso ao final da década.

Como médico que acompanha de perto os temas de obesidade e emagrecimento, vejo na obesidade algo que vai muito além da balança ou da aparência. Ela está associada a uma série de comorbidades sérias e, muitas vezes, silenciosas: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias (colesterol e triglicerídeos alterados), apneia do sono, doenças cardiovasculares, alterações hormonais e distúrbios osteoarticulares. Sem falar no impacto psicológico: adolescentes obesos têm mais risco de desenvolver depressão, baixa autoestima, ansiedade, isolamento social e até pensamentos suicidas.

A obesidade é uma doença inflamatória crônica. E quando ela começa na adolescência — ou até na infância —, o risco de se tornar um problema persistente na vida adulta aumenta consideravelmente. Estudos indicam que crianças obesas têm até 80% mais chance de se tornarem adultos obesos. Isso significa uma geração com maior risco de infarto, AVC, infertilidade, doenças hepáticas e até alguns tipos de câncer, como o de cólon e o de mama.

O relatório da Lancet aponta ainda que a pandemia de Covid-19, as mudanças climáticas e o avanço do mundo digital têm agravado esse cenário. Não é difícil perceber por quê. Durante a pandemia, os jovens ficaram mais tempo em casa, com redução drástica da atividade física, aumento do sedentarismo, mudanças no padrão alimentar e mais tempo diante das telas. Soma-se a isso o fácil o a alimentos ultraprocessados, ricos em calorias, gorduras e açúcares, mas pobres em nutrientes. O ambiente digital também traz novos desafios: cyberbullying, pressão estética, excesso de estímulos e comparação constante nas redes sociais, o que impacta diretamente na saúde mental dos adolescentes. Tudo isso num momento da vida em que o cérebro está em desenvolvimento, e a construção da identidade é altamente influenciada pelo entorno.

Precisamos de programas de educação alimentar nas escolas, espaços públicos seguros para a prática de esportes, e ações que promovam o bem-estar mental, emocional e físico dos adolescentes.A obesidade não é uma escolha pessoal — é um fenômeno multifatorial que envolve genética, comportamento, ambiente social, o à informação e às oportunidades. Enquanto não tratarmos a questão com a seriedade e a complexidade que ela exige, continuaremos empurrando o problema para o futuro — e o preço será altíssimo. A boa notícia é que a prevenção funciona. Com políticas consistentes, é possível reverter o crescimento da obesidade juvenil. Mas o tempo para agir é agora. Ignorar a saúde dos adolescentes hoje é comprometer a saúde dos adultos de amanhã.

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Acontece

Excesso do uso do celular impacta negativamente na saúde

O uso em excesso do celular não impacta apenas no cotidiano e no processo de aprendizagem em sala de aula. Afeta também a saúde física, mental, emocional e social. Principalmente em crianças e jovens. Muitas vezes, provoca até dependência, mais ansiedade e depressão, prejuízos ao sono, redução na atenção e memória. Para tratar o assunto e trazer orientações a pais e professores, na hoje (26.5) haverá  palestra gratuita e aberta ao público, às 19h, no Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), na Imbiribeira. Quem abordará o tema será Daniel Becker, que é palestrante internacional, escritor, sanitarista, pediatra, foi colaborador do UNICEF e da OMS e atua como consultor de fundações e empresas. O docente aposentado dedica sua vida ao ativismo pela infância.


Road Show farmacêutico em Pernambuco

Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) dá início a uma nova temporada do seu road show de capacitação, voltado a profissionais do setor farmacêutico. Acontecerá quarta-feira, 28.5, a partir das 8h. O evento acontecerá no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Batizada este ano como Geração Farma, a iniciativa deve reunir cerca de 600 farmacêuticos. O evento reforça o papel estratégico do farmacêutico no cuidado com a saúde da população e na ampliação dos serviços clínicos prestados nas farmácias.  “Mais do que um evento técnico, o Geração Farma é um movimento de valorização do farmacêutico como protagonista da saúde no Brasil. Levamos conhecimento, inspiração e conexão para transformar a prática profissional e fortalecer os serviços clínicos nas farmácias, que hoje são portas de entrada fundamentais para o cuidado com a população”, afirma Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma. O evento contará com a presença de palestrantes convidados pela indústria farmacêutica, representando marcas de destaque como Cimed, Cremer, Danone, EMS, Medley, Nestlé, Prati-Donaduzzi e Unicharm, enriquecendo ainda mais os debates e trocas de experiências entre os presentes.


Instituto apoia a causa Down

O Instituto Maria Alcoforado de Barros Melo (IMA), instituição que oferece terapias me serviços gratuitos a cerca de 240 crianças com Síndrome de Down em Pernambuco em condição de vulnerabilidade social, completou dois anos. A entidade promove cuidado integral e multidisciplinar aos seus pacientes, sabendo que a base disso começa justamente pela rede de apoio dos pequenos. No IMA, as mães e entes familiares recebem, também, de forma 100% gratuita: como serviços em psicologia e odontologia. Informações: @fmo.edu.br


Clínica de fisioterapia disponibiliza tratamentos para disfunções estéticas e funcionais da pele e do corpo

Com a fisioterapia dermatofuncional, que atua unindo estética e funcionalidade, a clínica Fisio FPS, localizada na Imbiribeira, oferece soluções de tratamento para vários tipos de queixas, como gordura localizada, flacidez da pele, cicatrizes, estrias, diástase abdominal, entre outras. Os serviços de limpeza de pele e peeling facial também são oferecidos. Tudo isso com gratuidade para as comunidades de Tijolos e Tijolinhos e valores íveis para o público em geral. Para marcação e outrs informações, o contato pode ser feito pelo telefone 3312-8268, Whatsapp 9.7335-5602 ou presencial.


Em Pauta

Recife entra no mapa da medicina de precisão com novo centro de genética

O imunologista João Bosco Oliveira Filho e o empresário Paulo Nigro celebram a inauguração do NeoGenomica, laboratório brasileiro de sequenciamento genético – Foto: Sarah Daltri

A genética brasileira acaba de ganhar um novo capítulo com a chegada do NeoGenomica. Fundado no Recife em 2024, o laboratório nacional surge com a proposta de democratizar o o ao Sequenciamento do Genoma Completo (SGC) — uma das tecnologias mais avançadas da medicina moderna — e se posiciona como protagonista no cenário da medicina personalizada no país. A inauguração oficial da empresa aconteceu em São Paulo, na última quinta-feira (22), no centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, e reuniu médicos, pesquisadores e investidores. Por trás do projeto está o imunologista João Bosco Oliveira Filho, referência em imunogenética, que agora lidera um dos mais ousados movimentos da biotecnologia no Brasil: nacionalizar com excelência o exame genômico mais completo da atualidade.

Diagnóstico completo, feito no Brasil
Diferente da maioria dos testes de sequenciamento enviados para fora do país, o NeoGenoma — carro-chefe da empresa — é inteiramente processado em território nacional. O resultado: maior autonomia tecnológica, redução de prazos (21 dias em média) e exames com nível máximo de precisão para identificar doenças hereditárias, predisposições genéticas, tumores e condições que exigem tratamentos individualizados. O teste é feito por sequenciamento completo do genoma, sem necessidade de captura — o que proporciona maior cobertura e sensibilidade na identificação de variações genéticas. Essa abordagem coloca o laboratório em sintonia com o que há de mais moderno no mundo em termos de genômica aplicada à prática clínica.

“O sequenciamento do genoma completo é um dos exames mais avançados do mundo, mas, no Brasil, ainda é a uma parcela pequena da população. Nossa meta é ampliar esse o, tornando a análise genômica uma ferramenta clínica mais presente na tomada de decisões médicas”, afirma João Bosco.

Apoio estratégico e mercado em expansão
Em pouco tempo de operação, o NeoGenomica já soma mais de 10 mil testes genéticos realizados e segue ampliando sua atuação para atender pacientes em todo o Brasil. Parte desse crescimento acelerado se deve ao apoio de investidores estratégicos, como o Grupo JM e o executivo Paulo Nigro, ex-presidente da Aché e ex-CEO do Hospital Sírio-Libanês.

Para Nigro, o país está diante de uma oportunidade única de avançar na medicina de precisão.

“A genética tem evoluído rapidamente, e o Brasil ainda não explora todo o seu potencial. O NeoGenomica surge com um modelo eficiente e sustentável para atender essa demanda”, afirma o empresário.

O cenário também é favorável: com o avanço das terapias-alvo, imunoterapias e da oncologia de precisão, a busca por testes genéticos deve crescer exponencialmente nos próximos anos. O NeoGenomica entra nesse mercado com a vantagem de operar com tecnologia de ponta e produção local, o que pode reduzir custos e tornar os exames mais íveis a médio prazo.


  • Colaboração: jornalista Jademilson Silva - DRT/PE: 3468
  • @jademilsonsilva | [email protected]
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