Bateau Mouche: um Réveillon, 55 mortes e muitas perguntas sem resposta
Produção resgata um dos maiores desastres do Brasil e expõe falhas que poderiam ter evitado mortes
Na virada de 1988 para 1989, o Brasil assistiu estarrecido à tragédia do Bateau Mouche 4, uma embarcação que deveria oferecer um Réveillon luxuoso para brasileiros e turistas, mas que acabou no fundo da Baía de Guanabara, levando consigo 55 vidas. Décadas depois, a série documental “Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça”, da Max, revisita o caso com uma abordagem detalhada e emocional, trazendo à tona informações que mostram as falhas, irresponsabilidades e a sensação de impunidade que marcou o início daquele ano.
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É quase impossível assistir ao documentário sem ter a sensação de “estômago revirado”. Sob direção de Guto Barra e Tatiana Issa, a produção tem um compromisso claro: narrar os acontecimentos e entender o impacto duradouro na vida dos sobreviventes e familiares das vítimas. Depoimentos como o de Bernardo Amaral Goulart, filho da atriz Yara Amaral, e o de Renata Fiszman, sobrevivente que tinha apenas 18 anos na época, dão dimensão humana à tragédia. São relatos que informam e que fazem o público sentir.
A tragédia do Bateau Mouche 4 não foi um acidente inevitável. O documentário mostra como negligência e corrupção ajudaram a construir esse desastre: a embarcação, originalmente projetada para 20 pessoas, navegava com quase 150 ageiros; reformas irregulares alteraram sua estrutura sem qualquer fiscalização adequada; e mesmo tendo sido parado pela Marinha antes do embarque, foi liberado pouco tempo depois — uma decisão que selou o destino dos que estavam a bordo.
A série documental equilibra informação e emoção sem cair no sensacionalismo. Se, em “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, Barra e Issa exploraram um crime que escancarou a fragilidade do sistema judicial brasileiro, aqui eles voltam a expor como o descaso e a busca por lucro acima da segurança criaram uma tragédia anunciada.
Ao longo dos episódios, “Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça” reconta uma história antiga, mas que provoca uma reflexão necessária sobre responsabilidades que nunca foram devidamente assumidas. Um documentário que revisita o ado sem deixar de questionar se aprendemos algo com ele.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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