Premiado, diretor Kleber Mendonça Filho fala sobre história em Cannes: "Difícil de expressar"
O cineasta pernambucano iniciou sua trajetória no Festival de Cannes como crítico de cinema
Kleber Mendonça Filho tinha 30 anos quando foi pela primeira vez ao Festival de Cannes, em 1999, ainda como crítico de cinema, e acompanhou a conquista da Palma de Ouro pelo drama “Rosetta”, dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne. ados 26 anos e estabelecido como diretor, o pernambucano do Recife lançou em Cannes seu mais novo projeto, “O agente secreto”, e reencontrou os irmãos belgas na mostra competitiva do evento, que chegou ao fim neste sábado (24), na Riviera sa.
E se os Dardenne deixaram a cerimônia com o prêmio de melhor roteiro, Kleber fez ainda mais bonito. Além de receber o prêmio de melhor direção, ele subiu ao palco para representar Wagner Moura, premiado como melhor ator.
Em 2019, Kleber chegou perto de conquistar a Palma de Ouro ao levar para casa o Prêmio do Júri por “Bacurau”, codirigido por Juliano Dornelles. O diretor se juntou a Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Hector Babenco e Walter Salles como os brasileiros com mais presença na mostra competitiva de Cannes, com um total de três participações (esteve na disputa com “Aquarius”, em 2016, em participação marcada pelo protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff no tapete vermelho do Palácio dos Festivais).
"Minha relação com Cannes é muito pessoal e até difícil de expressar. Muito antes de ir, eu era um jovem cinéfilo que entendia a importância histórica do festival. Frequentei como crítico por muitos anos sem nenhuma pretensão, até que em 2005 exibi o curta “Vinil verde” na Quinzena dos Realizadores", lembrou em entrevista ao Globo o cineasta, de 56 anos, que deixou a crítica em 2010.
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"Não foi planejado, mas olhando agora vejo que foi uma transição quase cartesiana, larguei um trapézio e peguei outro. Eu amava a crítica, mas senti que tinha chegado a uma espécie de limite. Acabei deixando pouco antes de começar a filmar meu primeiro longa (“O som ao redor”)".
Foi em Cannes que Kleber conheceu Wagner Moura, em 2005, quando o ator apresentava “Cidade baixa”, de Sérgio Machado, na mostra Un Certain Regard. O baiano de 48 anos é o protagonista de “O agente secreto”. Ele interpreta Marcelo, especialista em tecnologia que volta ao Recife em busca de paz, fugindo de um ado misterioso. Mas logo percebe que a cidade não é o refúgio tranquilo com que sonhava. O elenco tem ainda Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Udo Kier, Hermila Guedes, Thomás Aquino e Alice Carvalho.
"Queria há um tempo desenvolver um filme para Wagner. Além de ser um grande ator, é uma grande pessoa. Ele poderia ter chegado dois dias antes das filmagens, mas quis chegar um mês antes ao Recife. ou um mês ensaiando, trabalhando, andando. Acho que ele não queria se sentir um estrangeiro trabalhando no Brasil".