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FESTIVAL DE CANNES 2025

Kleber Mendonça Filho, o diretor brasileiro que fez Cannes se apaixonar

"O Agente Secreto" é o terceiro filme do pernambucano a competir em Cannes, depois de "Bacurau", em 2019, e "Aquarius", em 2016

O brasileiro Kleber Mendonça Filho, vencedor do prêmio de melhor direção em Cannes neste sábado (24), faz parte de um pequeno círculo de cineastas com presença regular no evento, com um cinema social que se baseia tanto no realismo mágico quanto na militância política.

O diretor ganhou essa distinção por "O Agente Secreto", seu terceiro filme a competir em Cannes, depois de “Bacurau”, em 2019, e “Aquarius”, em 2016. "Bacurau" ganhou o Prêmio do Júri, empatado com o filme francês "Os Miseráveis".

Amor pelo cinema
Em 2021, Kleber Mendonça (Recife, 1968) foi membro do júri presidido pelo cineasta americano Spike Lee, depois que ficou à frente, em 2017, da Semana da Crítica, uma seção paralela de Cannes.
 

Mas não é de causar surpresa que Kleber se sinta em casa em La Croisette: como crítico, ele já visitou o festival cerca de 20 vezes e, em 2005, apresentou o curta-metragem "Eletrodoméstica" na Quinzena dos Realizadores, antes de fazer sua grande estreia com "Aquarius", de Sônia Braga.

"Também sou programador de cinema. É algo que adoro fazer desde 1998, há quase 30 anos. Adoro descobrir curtas-metragens de jovens cineastas e montar os filmes", contou o cineasta à AFP.

Sua paixão pelo cinema se reflete no documentário "Retratos Fantasmas" (2023), também apresentado em Cannes, sobre os antigos cinemas de Recife.

Mas, acima de tudo, Kleber Mendonça é um cineasta politicamente de esquerda, que não teve medo de denunciar “um golpe de Estado” contra a presidente Dilma Rousseff quando ela sofreu um impeachment no Congresso.

Quando um artista "está com raiva, frustrado, ele acaba mudando em poesia, literatura ou filmes", confidenciou o diretor em 2019.

Casado com a produtora sa Emilie Lesclaux, seus filmes são baseados em roteiros elaborados, com referências à política, ao cinema e às desigualdades sociais.

Assim, “Bacurau”, um filme de gênero sobre uma pequena comunidade que descobre ter um talento especial para a violência, assim como um grito de resistência dos povos indígenas contra o governo de Jair Bolsonaro.

"O Agente Secreto" é outro thriller, que acompanha um professor (Wagner Moura) que retorna ao Recife para se reunir com seu filho em 1977, em plena ditadura, sem saber que sua cabeça está a prêmio.

"É engraçado porque cada filme traz novas reações. Todos os meus filmes foram muito difíceis de fazer, foram muito ambiciosos", disse o diretor que fez de Recife uma cidade emblemática do cinema brasileiro.

Seu primeiro longa, "O Som ao Redor" (2012), analisa o medo que toma conta de uma comunidade após a chegada de uma empresa de segurança privada. Essa reflexão sobre as aulas sociais ganhou prêmios em mais de uma dúzia de festivais e foi internacional pelo The New York Times como um dos dez melhores filmes do ano.

"Aquarius", por outro lado, reflete os efeitos colaterais do progresso capitalista no Brasil contemporâneo, com uma protagonista assediada por especuladores imobiliários.

Mas o realismo de Kleber Mendonça não é límpido. Ele é tingido de elementos fantásticos, típicos de filmes de gênero e de terror, como, por exemplo, em "Bacurau", repleto de cenas macabras.

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