''O Agente Secreto'': sobre o que é o filme que deu ao Brasil dois prêmios em Cannes
Longa de Kleber Mendonça Filho tem Wagner Moura como protagonista
Os prêmios de melhor ator (Wagner Moura) e melhor diretor (Kleber Mendonça Filho) para “O Agente Secreto”, este sábado, no Festival de Cannes não chegaram a ser surpresa: a sessão de estreia do filme, no domingo ado, foi seguida por uma ovação de 13 minutos de aplausos, além de uma série de críticas favoráveis na imprensa sa.
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Ambientado no final dos anos 1970, durante a ditadura militar brasileira, o longa acompanha Marcelo (Wagner), um especialista em tecnologia que foge de um ado misterioso e volta ao Recife em busca de paz, mas logo percebe que o clima não é dos melhores. Além de Wagner, o elenco reúne nomes como Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Thomás Aquino e Udo Kier.
— Um dos elementos que mais me levaram a querer escrever o filme é que eu acho que o meu país tem um problema de amnésia auto-aplicada e que foi normalizada com a anistia em 1979, a anistia proposta pelo próprio governo militar que, desde 1964, tinha cometido incontáveis atos de violência contra a população brasileira — explicou o diretor na premiere em Cannes.
Veja uma cena do filme:
— E essa amnésia causou um trauma na psicologia do país. Foi normalizado cometer todo tipo de violência e depois simplesmente ar um pano em tudo, recomeçar do zero e aí trazer aquilo: 'Vamos seguir a vida e bola pra frente porque é muito desagradável falar de certas coisas'. E eu acho que isso é um elemento muito forte no meu desejo de fazer o filme — reforçou Kleber Mendonça Filho.
O filme, segundo o cineasta, vem sendo gestado há cerca de quatro anos. Wagner Moura contou que trocou várias ideias com o colega ao longo do processo de escrita do roteiro.
— A ideia do filme começa nesse momento que eu citei de pressão política. De distopia política mesmo! É um filme sobre valores, né? Quando os valores que vêm de cima são tortos, e quando a maioria das pessoas comunga com esses valores, é muito difícil e é muito corajoso você simplesmente ser quem você. Há sociedades e países, e o Brasil andou perto disso, em que você simplesmente ser gay, ser preto, ser indígena é um risco de vida grave. Politicamente essa era uma coisa que todos queríamos falar. Mas o meu interesse nesse filme é neste rapaz aqui — disse Wagner, apontando para Kleber.