Produtora espanhola fala sobre parceria de mais de 40 anos com Pedro Almodóvar: "Quase um messias"
Esther García é uma das palestrantes do Rio2C, evento de inovação e criatividade que acontece na Cidade das Artes, no Rio, a partir desta terça-feira (27)
Uma casualidade. É como Esther García, produtora espanhola conhecida por trabalhar com Pedro Almodóvar, define o início de sua trajetória cinematográfica. Há 50 anos, ela estudava taquimecanografia e se sentia destinada a uma carreira como secretária.
À época, atuava numa associação cultural na periferia de Madri quando soube que um colega de instituição buscava alguém para resolver problemas burocráticos num filme que estava sendo rodado. A obra era “Pim, pam, pum... ¡fuego!” (1975), de Pedro Olea. Após uma visita ao set, Esther percebeu que não havia mais volta.
De lá para cá, produziu clássicos de Almodóvar como “Tudo sobre minha mãe” (1999) e “Fale com ela” (2002), além de sucessos de outros realizadores como “A vida secreta das palavras” (2005), de Isabel Coixet, “Relatos selvagens” (2014), de Damián Szifron, e “Sirât” (2025), filme de Oliver Laxe que acaba de conquistar o Prêmio do Júri no Festival de Cannes.
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Em visita ao Rio, a produtora é um dos principais nomes na programação do Rio2C, encontro de inovação e criatividade que acontece entre hoje e domingo na Cidade das Artes, na Barra, na Zona Oeste carioca.
— Nunca imaginei que iria trabalhar com cinema em minha vida. Fui chamada, a primeira vez, para fazer a parte mais tediosa do processo de produção, que era organizar e apresentar documentos para sindicatos e órgãos oficiais — lembra a produtora três vezes premiada com o Goya. — Após a parte chata, pedi para visitar o set e me encantei. Ver pessoas de diferentes áreas se unindo diante de uma ideia me pareceu fascinante. Naquele momento eu pensei: quero fazer parte desta família e trabalhar com isso por toda minha vida.
Em seguida, Esther trabalhou como secretária de produção na série “Curro Jiménez” (1976-1979). E foi nessa época que foi apresentada a Pedro Almodóvar.
— Me reuni com Pedro para conversar sobre um curta. Ele me pareceu alguém completamente fascinante. Era quase um messias. As coisas que dizia eram completamente novas, diferentes, de um lugar que despertava muita paixão e emoção. Infelizmente, o projeto foi interrompido por falta de dinheiro — lamenta.
A primeira parceria entre produtora e realizador viria poucos anos depois com “O matador” (1986), em que Esther trabalhou como assistente de produção. Depois disso, eles não se separaram mais, com ela exercendo diversas funções nas obras do cultuado diretor. Foi gerente de produção em “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988) e “Ata-me” (1989), produtora executiva em “Má educação” (2004) e “O quarto ao lado” (2024), produtora em “Volver” (2006) e “A pele que habito” (2011). Além disso, Esther atua como diretora de produção na El Deseo, companhia de Pedro Almodóvar com seu irmão mais novo, Agustín Almodóvar.
— Vejo uma conjunção entre nós três, que não é uma fórmula 100% estruturada, mas conseguimos trabalhar e nos entender ao longo dos anos. É um trabalho muito bem dividido. Temos que fazer todos os esforços todos os dias para que os sonhos de Pedro se tornem realidade — diz ela. — Quando trabalha com um gênio, você é capaz de perceber. É difícil encontrar genialidade nas pessoas. Existem muitos diretores que são talentosos, outros são batalhadores, Pedro é um gênio.
Atores de renome
Nos últimos anos, Esther acompanhou Almodóvar em sua investida fora da Espanha, pelo cinema internacional. A empreitada inclui os curtas “A voz humana” (2020), com Tilda Swinton, e “Estranha forma de vida” (2023), com Ethan Hawke e Pedro Pascal, e o longa “O quarto ao lado”, com Julianne Moore e, mais uma vez, Tilda. Após trabalhar em inglês, a produtora sonha com um roteiro de Almodóvar ambientado no Brasil.
— O som do português brasileiro me encanta. E encanta Pedro. É doce e melodioso, um idioma belíssimo. Estou muito disposta a fazer um filme no Brasil. O mais importante é que Pedro o escreva. Ele adora o Brasil, tem muitos amigos brasileiros. Adora Caetano e toda a família, já esteve muitas vezes no país — diz a produtora, que fala dos desafios de produzir fora da Espanha. — É ótimo trabalhar com atores de renome internacional, mas sempre exige um esforço adicional. O mercado americano tem alguns costumes e hábitos muito diferentes dos da cinematografia espanhola. As condições dos sindicatos, as exigências dos agentes sempre resultam em incômodos, pois saímos de um modo com que estamos acostumados a trabalhar. Mas sempre valeu a pena.
No momento, além de trabalhar no lançamento de “Sirât”, Esther García se dedica à pré-produção do novo filme de Almodóvar, que começa a ser rodado em junho, quando as informações sobre o projeto serão anunciadas.