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CINEMA

"Tempo de Guerra" é uma imersão nas memórias do co-diretor durante a Guerra do Iraque

Filme foca nos protocolos, nos procedimentos e nas relações entre os membros de um pelotão das forças especiais da Marinha

"Tempo de Guerra" não é um filme comum sobre um conflito armado, mas é um retrato visceral da Guerra do Iraque. O filme estreia hoje nos cinemas brasileiros com trama inspirada nas experiências do veterano Ray Mendoza, que por sinal é um dos diretores do longa-metragem ao lado de Alex Garland

A produção cinematográfica ressalta os protocolos, os procedimentos e as relações entre os membros de um pelotão das forças especiais da Marinha (Seal) na Guerra do Iraque, durante uma missão de vigilância na cidade de Ramadi. O co-diretor Mendoza, que é um ex-Seal, buscou reproduzir com fidelidade uma emboscada experimentada por ele e seu grupo. 

Masculinidade
A cena de abertura é um exibicionismo de testosterona que transmite ao público uma informação importante: os soldados provam que atendem aos padrões tradicionais de masculinidade. O início poderia indicar que "Tempo de Guerra" seguiria os clichês do gênero, como a reprodução desses comportamentos, mas o desenvolvimento da trama traz uma imersão diferente.    

A invasão norte-americana ao Iraque gerou um ambiente hostil através das constantes missões armadas com o intuito de localizar armas de destruição em massa ou apoiadores de organizações contrárias aos Estados Unidos. Essa tensão é trabalhada através do tédio e da rotina dos personagens que fazem constantemente a vigilância da região. 

Relações
A experiência de Ray Mendoza é traduzida nas relações internas entre os personagens e no cumprimento dos protocolos, flertando com uma linguagem documental. Como resultado, o espectador compartilha do tédio dos personagens até o momento em que a missão de reconhecimento dar errado e a ação toma conta do filme -  o que exige paciência de quem assiste. 

As experiências do ex-militar trazem uma maior fidelidade ao filme, no entanto, mesmo com esse rigor narrativo, "Tempo de Guerra" é um produto cinematográfico, ou seja, é arte e entretenimento. Ao buscar por cumprir uma maior veracidade das memórias do co-diretor, a trama afasta o espectador da possibilidade de conjecturar o mundo ficcional da obra, por supor que a realidade seja de conhecimento de todos. 

Em trabalhos anteriores, como "Ex Machina: Instinto Artificial" (2014) e "Guerra Civil" (2024), Alex Garland gera suspense seguido de um debate de interesse público, uma dinâmica que não existe em "Tempo de Guerra".  Tudo indica que o cineasta foi um mentor para Ray Mendoza, que nunca tinha dirigido um filme antes, tendo trabalhado como produtor e conselheiro militar em outras obras audiovisuais. 

Elenco
Garland e Mendoza assinam juntos o roteiro de "Tempo de Guerra", que conta com um elenco repleto de atores em ascensão de Hollywood. Entre os nomes estão D'Pharaoh Woon-A-Tai ("Reservation Dogs"), Will Poulter ("Guardiões da Galáxia: Volume 3"), Joseph Quinn ("Gladiador II"), Kit Connor ("Heartstopper"), Noah Centineo ("Adão Negro") e o ator brasileiro Henrique Zaga ("Os Novos Mutantes"). 

Apesar disso, como o filme aposta em menos dramatização do conflito ao longo do roteiro, muitos desses atores são desperdiçados. Um dia tedioso é insuficiente para conhecermos todos os personagens do pelotão, contudo, acabamos não tendo a oportunidade de conhecer nenhum deles, incluindo o próprio Ray, interpretado por D'Pharaoh Woon-A-Tai. 

Em suma, "Tempo de Guerra" promove uma experiência visceral e fidedigna, inclusive tediosa até o clímax da ação, que consegue envolver o espectador no conflito armado com excelência, mas sem o apego emocional, incessantemente necessário no cinema.

Confira o trailer: 

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