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RIO DE JANEIRO

Um dia após sair de Bangu 3, MC Poze lança clipe com música que cita a polícia e imagens de prisão

Rapper investigado por apologia ao tráfico e associação ao CV lançou "Desabafo 2"

MC Poze do Rodo, investigado por apologia ao tráfico e associação com o Comando Vermelho (CV), lançou um clipe com imagens de sua prisão 31 horas após deixar o presídio de Bangu 3, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio, na terça-feira. A canção, intitulada "Desabafo 2", ultraou 900 mil visualizações no YouTube em apenas 10 horas e começa com versos como: “Avisa lá que não vão me parar”, “estão de olho grande nos meus ouros”, e 'filha da p*ta nenhum vai me intimidar".

O vídeo também reforça os momentos de tumulto e mostra a multidão — incluindo mulheres e crianças de colo — que se aglomerou na tarde da última terça-feira para ver o funkeiro deixar o presídio. Um dos destaques é quando Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o cantor Oruam, filho do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, subiu com mais dois homens no teto de dois ônibus que avam pela Estrada Guandu do Sena.

Na ocasião, a Polícia Militar, que havia reforçado o patrulhamento na porta da unidade penal com mais de 50 agentes, interveio disparando tiros de balas de borracha, lançando bombas de gás lacrimogêneo e borrifando spray de pimenta para dispersar a multidão. A ação provocou correria, mas não houve feridos graves. A PM afirmou que agiu após o início de atos de vandalismo e que utilizou os meios necessários para conter os manifestantes.

Em uma parte do vídeo, que já circula nas redes sociais como um sucesso, MC Poze do Rodo aparece, logo após sua soltura, revoltado com o tratamento dado pela polícia aos seus fãs:

“Mais uma vez estou aqui provando para vocês que sou artista. Então, para de me perseguir! Me deixa em paz, p*rra!”, disse o cantor, em trecho do clipe.

Desabafo 2
O clipe, lançado ontem, seria uma espécie de continuação do “Desabafo 1”, lançada pelo MC Poze do Rodo, em 2023. Nessa faixa, o rapper usa a letra para expressar sua indignação diante das críticas, "perseguições" e acusações, especialmente as relacionadas a apologia ao crime e sua imagem nas redes sociais.

Acusações contra Poze
Marlon Brendon Coelho Couto e Silva, o Poze, ficou cinco dias preso. A peça chave da investigação teria sido a presença do MC em um baile funk na Cidade de Deus, ocorrido dois dias antes da morte de um policial da Core durante uma operação na comunidade, há cerca de dez dias.

De acordo com as investigações, o MC realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Nessas apresentações, cita a polícia, há a presença ostensiva de traficantes armados com armas de grosso calibre, como fuzis, garantindo a "segurança" do artista e do evento.

O repertório das músicas apresentadas por MC Poze também foi analisado, o qual a polícia diz fazer "clara apologia ao tráfico de drogas, ao uso ilegal de armas de fogo e incita confrontos armados entre facções rivais, o que frequentemente resulta em vítimas inocentes".

Espetacularização de Poze
A espetacularização em torno da prisão de Poze do Rodo divide especialistas em segurança pública. A aglomeração em frente ao Complexo de Gericinó “lembrou a agem de um circo”, segundo o coronel da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública:

— A polícia precisa ter mais cuidado ao lidar com certas celebridades. É perceptível, pela decisão do juiz que expediu o alvará de soltura de Poze, que faltou uma investigação mais profunda. Virou uma prisão baseada em um fator social.

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