Autora do remake de "Vale Tudo" justifica mudanças nos personagens: "Raquel sempre foi preta"
Nova versão da novela traz Taís Araújo no papel que foi originalmente interpretado por Regina Duarte
A Globo divulgou, nesta segunda-feira (24), o primeiro trailer do remake de “Vale Tudo”. A nova versão da novela, originalmente escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, estreia no dia 31 de março.
O vídeo, que movimentou as redes sociais, dá uma ideia de como será abordado o conflito entre Maria de Fátima (Bella Campos) e sua mãe, Raquel Acioly (Taís Araujo). O encerramento ficou por conta da aparição marcante da icônica vilã Odete Roitman (Déborah Bloch).
Em coletiva de imprensa virtual realizada na manhã desta terça-feira (25), autora, diretor e parte do elenco falaram sobre a produção. “Para o fã [da versão clássica], a essência da obra está mantida, com pequenas homenagens. Para quem não conhece a novela, acho uma excelente oportunidade de entrar em contato com esse exemplo máximo de um gênero que é tão caro para nós brasileiros”, destacou o diretor artístico Paulo Silvestrini.
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Manuela Dias, que assina a adaptação de “Vale Tudo”, revelou que um estudo realizado pela Globo apontou que 40% do público que assistirá ao remake teve contato com a primeira versão, que foi ao ar em 1988. Ela classifica seu trabalho como “uma obra atualizada com cheiro vintage”.
Alguns elementos clássicos da novela foram mantidos, como a logo e o tema de abertura cantado na voz de Gal Costa. No entanto, o folhetim ganhou em diversidade, com a inclusão de mais atores negros na sua releitura, por exemplo.
“A questão da representatividade é central para mim, desde ‘Justiça’. Eu acho que é função da dramaturgia servir de ferramenta para a transformação social. A gente conta histórias para se divertir, mas também para estruturar a teia de valores que sustenta a nossa sociedade”, destacou Manuela.
Para a autora, a escalação de atores com outros perfis étnicos para personagens que eram originalmente brancos tem a ver com o processo de letramento racial vivido pela sociedade brasileira nos últimos anos. “Acho que a Raquel, por exemplo, sempre foi preta. Ela era branca [na primeira versão] pela nossa incapacidade de perceber e dar protagonismo a uma atriz negra”, afirmou.
Uma mudança de perfil que recebeu muitas críticas nas redes sociais foi a da personagem Maria de Fátima. Fãs de “Vale Tudo” argumentaram que a escolha de Bella Campos para o papel tornaria inverossímil a boa relação dela com Odete Roitman, uma mulher que é a personificação do politicamente incorreto.
Manuela, no entanto, não vê problema na alteração. “Acho que a Odete é uma personagem tão pragmática. Serve quem está a serviço dela para executar a agenda dela. Ela tem um processo muito forte de identificação com a Maria de Fátima”, justifica.
Faltou pouco para que Taís Araújo recusasse viver Raquel, interpretada por Regina Duarte em 1988, no remake. O convite para o papel surgiu de forma inesperada, após um pedido da atriz a José Luiz Villamarim, chefe de dramaturgia da Globo.
“Eu não entendi nada. Fui pedir uma vilã ao José Luiz e ele me trouxe a maior heroína da teledramaturgia brasileira. Quando fui rever a novela no Globoplay, eu pensei: ‘Meu Deus, não posso perder essa oportunidade’. Uma personagem boa é a que tem conflitos, e o que não falta é conflito para a Raquel. É um perfeito no que diz respeito ao arco dramático”, destaca a atriz.