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Whoopi Goldberg lança livro em que lida com perda da mãe e do irmão; confira detalhes

Na autobiografia "Partes de mim", que chega ao Brasil pela Globo Livros, atriz fala também sobre drogas, casamento e Oscar

Da mulher que supera violências em “ A cor púrpura” (1985) à vedete que finge ser freira em “Mudança de hábito” (1992), ando pela farsante que se descobre médium em “ Ghost - Do outro lado da vida” (1990) e pela cadeira cativa no talk show The View, Whoopi Goldberg construiu uma trajetória repleta de conquistas.

Em pouco mais de quatro décadas de carreira, a atriz e apresentadora de 69 anos ganhou fama, dinheiro e muitos prêmios — sendo uma das detentoras do EGOT, sigla usada para quem conquistou o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony.

Também sofreu perdas. No espaço de cinco anos, ficou sem a mãe, Emma Harris Johnson (1931-2010), vítima de um derrame, e seu único irmão, Clyde K. Johnson (1949-2015), após um aneurisma cerebral. Um luto que Whoopi transformou em palavras no livro “Partes de mim”, que a Globo Livros lança nesta quinta-feira (15) no Brasil.

"O luto nunca vai embora de verdade, mas foi interessante para mim descobrir que ele evolui. O luto tende a mudar de forma — conta Whoopi em entrevista ao Globo via e-mail.

"Perda é perda. Não importa quem você seja, se é famosa ou não. Eventualmente, isso vai acontecer com você, e isso só prova que somos todos humanos no final das contas"

Altos e baixos
Na autobiografia, a artista fala sobre como deixou de ser Caryn Johnson, menina que vivia em um conjunto habitacional em Manhattan, Nova York, para se tornar Whoopi Goldberg, uma estrela de Hollywood.

Mas por mais que fale de seu início profissional e de sua luta contra as drogas na adolescência, o foco está no núcleo familiar formado por ela, pelo irmão, seis anos mais velho, e pela mãe.

Na obra, a autora lembra momentos duros vividos na infância, como a separação dos pais e o período em que a mãe esteve internada após um colapso mental.

À época, tinha apenas 9 anos e ou dois anos sem ver sua genitora — que, ao retornar para casa, não reconhecia os filhos.

Whoopi diz que não sofreu ao relembrar as memórias mais duras durante a escrita do livro.

"Como aconteceram, estes momentos não são particularmente difíceis. Eles são parte da minha vida. Revisitar essas histórias foi como ver de fora como eu cresci e evoluí. Acredito que o livro seja sobre a evolução de uma pessoa. Todos temos coisas que gostaríamos de não ter feito, coisas que gostaríamos que não tivessem acontecido. Mas aconteceram. Então, ou você lida com isso ou gasta um dinheiro extra conversando com um psicólogo. Mas você evolui"

Após a internação, Emma voltou a cuidar de Clyde e Whoopi e foi uma figura de apoio fundamental para a vontade da filha de seguir uma carreira artística.

“Quando contei a ela que queria ser atriz, ela me ouviu, conversou comigo a respeito disso e me apoiou.

Por causa dela, eu deixei de ser Caryn Johnson, a ‘garotinha esquisita’ da periferia, por quem ninguém dava nada, para ser eu, Whoopi Goldberg”, escreve.

Sentimento sagrado
Através do livro, mais do que os períodos de dificuldade, a autora transmite a felicidade de ter podido ajudar a família a ter uma vida boa.

Ela recorda momentos mágicos que proporcionou à mãe, como uma visita de Marlon Brando à sua casa ou encontros com os ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama.

"O livro é sobre meu irmão, minha mãe e eu. E o que percebi foi que tínhamos uma família grande e unida. Tive a felicidade de conseguir realizar alguns sonhos da vida de minha mãe. E o mesmo com meu irmão. Éramos três" lembra a artista.

"Falo muito das coisas que pude fazer para minha mãe, mas também pude fazer algumas coisas para meu irmão mais velho. Sinto que dei a eles a melhor vida que eles gostariam de me dar. Fui feliz de poder prover à minha família com alguns de seus desejos. E é um sentimento sagrado"

Whoopi ainda busca conforto no fato de a mãe não ter precisado ver Donald Trump assumir a presidência dos Estados Unidos (em 2017). Recentemente, a atriz se manifestou contra a proposta do presidente americano, agora em seu segundo mandato, de taxar filmes estrangeiros ou produções americanas rodadas fora do país.

“Você vai me dizer como escrever a história que eu quero? E se a história se ar na Europa? Olha, você poderia, por favor, baixar o preço dos ovos antes de começar?”, criticou em participação no programa matinal que apresenta.

“Se você quer mudar, precisa mudar nos Estados Unidos e tornar viável para as pessoas filmarem aqui. Não nos impeça de ir para o exterior e filmar, porque aí você estará nos limitando.”

Em “Partes de mim”, Whoopi também fala sobre seus relacionamentos, embora evite citar os nomes dos três ex-maridos, Alvin Martin (com quem foi casada entre 1973 e 1979), David Claessen (entre 1986 e 1988) e Lyle Trachtenberg (entre 1994 e 1995).

Em trecho, a atriz lembra um conselho que ouviu da mãe: “No terceiro casamento, minha mãe disse: ‘Pelo amor de Deus, Caryn, não é melhor só dar uma festa?’ Eu deveria ter ouvido o sábio conselho dela, mas não foi o que fiz.”

Da primeira relação nasceu sua única filha, Alexandrea Dean Martin, em 1974. Whoopi tinha 18 anos quando se tornou mãe. Aos 34 virou avó e aos 58 já era bisavó. Ela não sabe classificar que mãe ela foi:

"Tenho sido uma mãe, uma avó e uma bisavó há tanto tempo... Espero que eu tenha sido boa, que eu tenha sido sábia, que eu tenha sido uma boa ouvinte. Mas você nunca sabe de verdade"

No momento, a atriz tem planos para realizar “Mudança de hábito 3”. Em março, no tapete vermelho do Oscar, ela adiantou que o roteiro já foi finalizado, mas que os produtores ainda aguardam um sinal verde por parte da Disney.

Em 2023, em visita ao Vaticano, a atriz chegou a brincar com Papa Francisco sobre fazer uma participação no filme.

Leia trechos do livro:

Drogas e casamento
Na adolescência, quando estamos tentando compreender a vida, às vezes desenvolvemos hábitos que preferíamos não ter.

Aos dezesseis anos, eu comecei a usar drogas para me sentir melhor e acabei me tornando dependente. Todo mundo sabe como essa história termina.

Por sorte, ou algo do tipo, eu ei a frequentar um centro de apoio juvenil na Rua 18. Durante o dia, havia atendimentos de orientação para dependentes químicos. À noite, funcionava como um local de apoio para que os jovens se reunissem e se mantivessem longe do perigo.

Eu já conhecia o perigo e tinha tentado me livrar dele, mas ia até lá para ouvir as pessoas contarem por que fizeram o que fizeram e como conseguiram se libertar.

Após algumas semanas, eu comecei a pensar, “eu também não quero mais usar drogas. Quero ficar limpa”.

Eu entrei em um programa de reabilitação de drogas, e isso me levou ao meu primeiro casamento. Aos dezoito anos, eu me casei com o meu orientador da reabilitação.

Ele era fantástico, e o casamento fez sentido para mim na época, mas eu lembro de minha mãe perguntando: “Você tem certeza mesmo de que quer fazer isso?”

Vitória no Oscar
Eu me senti honrada em ser indicada como Melhor Atriz Coadjuvante junto de: Lorraine Bracco, Diane Ladd, Mary McDonnell e Annette Bening. Por algum motivo, nós cinco construímos um vínculo e fizemos um pacto.

Decidimos que quem ganhasse teria que convidar as outras quatro para um almoço. A vencedora pagaria a conta. Eu acho que todo mundo esperava que Annette Bening ganhasse aquele ano, então fiquei embasbacada quando Denzel Washington anunciou o meu nome.

Minha mãe não foi à cerimônia porque não queria demonstrar decepção caso eu perdesse. Minha filha, Alex, e meu irmão, Clyde, me acompanharam, estávamos todos muito elegantes. Eu olhei para as outras indicadas, e nós nos cumprimentamos com o polegar para cima.

Denzel Washington anunciou o prêmio e tive a imprenssão de que todos se levantaram quase antes de mim quando ele chamou o meu nome.

Do palco, eu vi as outras indicadas gritando e me aplaudindo. E, pela primeira vez, eu senti que fazia parte daquele mundo, era um sentimento muito bom.

"Partes de mim: a vida com minha mãe e meu irmão"
Autora: Whoopi Goldberg.
Tradução: Steffany Dias.
Editora: Globo Livros.
Páginas: 200.
Preço: R$ 64,90.

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