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NEGÓCIOS

Boeing está preparada para revender jatos destinados à China a outros clientes, diz CEO

Previsão era entregar "cerca de 50" aeronaves para clientes chineses este ano, segundo Kelly Ortberg

A Boeing está preparada para encontrar compradores alternativos para aeronaves destinadas à China que estão presas em uma disputa comercial com os Estados Unidos, à medida que a fabricante de aviões busca reduzir o impacto nas entregas de jatos e na recuperação de seus lucros.

A China recusou o envio de novos aviões da Boeing após a implementação de tarifas alfandegárias adicionais de 145% por parte do presidente Donald Trump sobre as importações chinesas para os Estados Unidos, confirmou nesta quarta-feira Kelly Ortberg, presidente da gigante americana em entrevista à CNBC, após a empresa divulgar resultados melhores do que o esperado.

A medida chinesa deixou incerto o destino de cerca de 50 jatos que estavam programados para serem entregues ao país ainda este ano.

— Estamos trabalhando com nossos clientes neste momento, não vamos esperar muito tempo — disse Ortberg na entrevista. — Vamos dar aos clientes a oportunidade, se quiserem receber os aviões. É isso que preferimos fazer. Mas, se não, vamos recolocar esses aviões no mercado para quem quiser comprá-los.

Entre as companhias aéreas dispostas a receber as aeronaves rejeitadas pela China está a Air India. Até o fim do mês ado, a companhia havia aceitado 41 jatos 737 Max originalmente construídos para companhias aéreas chinesas, e sinalizou que está interessada em receber mais.

Ortberg afirmou que a empresa está retirando três aeronaves 737 Max de seu centro de entregas na China.

— Tínhamos três aviões na China prontos para serem entregues e acredito que dois já voltaram” aos Estados Unidos. — Estamos trazendo o terceiro de volta também — explicou Ortberg.

— Não vou deixar que isso descarrile a recuperação da nossa empresa — acrescentou o CEO enquanto os investidores reagiam positivamente à reviravolta com uma alta nas ações.

— Portanto, seremos bastante pragmáticos sobre o que faremos com os aviões que ainda não foram fabricados — afirmou Ortberg, que mencionou a possibilidade de “redirecionar” as aeronaves já concluídas para outras companhias aéreas.

A Boeing é a maior exportadora dos Estados Unidos em termos de valor. A gigante americana já havia fechado a venda de 130 aviões para clientes chineses, entre companhias aéreas e empresas de leasing. Mas, como alguns compradores preferem não aparecer no site da empresa, o número pode ser ainda maior.

Ano da virada
A Boeing divulgou resultados do primeiro trimestre que superaram as estimativas de Wall Street, proporcionando à fabricante de aeronaves um grau maior de estabilidade para lidar com as disrupções no comércio global que têm complicado as exportações.

A empresa informou nesta quarta-feira que utilizou US$ 2,3 bilhões em caixa livre nos três meses encerrados em 31 de março, à medida que acelerava a produção de jatos. Esse valor foi melhor do que os US$ 3,4 bilhões de consumo de caixa previstos por analistas, segundo dados compilados pela Bloomberg. O prejuízo ajustado por ação, de 49 centavos, foi o menor em mais de um ano.

As ações da Boeing chegaram a subir até 8,7% por volta das 9h40 em Nova York. Até terça-feira, os papéis acumulavam queda de 8,2% no ano, acompanhando a baixa do índice Dow Jones Industrial Average.

Chamando 2025 de “nosso ano da virada”, o CEO Kelly Ortberg afirmou que a empresa está no caminho para aumentar a produção de seu carro-chefe, o jato 737 Max, nos próximos meses, até atingir o limite mensal de 38 unidades imposto pelos reguladores dos EUA. A empresa buscará então permissão para elevar esse número para 42 unidades “ainda este ano” — movimento que ajudaria a gerar caixa após a recente greve e as crises na linha de produção.

A possível repercussão tarifária lançou uma sombra sobre o desempenho recente da Boeing, que vinha sendo positivo, como evidenciado no relatório do primeiro trimestre, que mostrou melhorias nos lucros e no consumo de caixa.

Outro possível resultado negativo da disputa comercial é o impacto sobre os fornecedores — muitos dos quais são empresas menores que terão dificuldades para absorver custos mais altos. Ortberg afirmou que a empresa está monitorando de perto os fabricantes de peças, mas ainda não detectou sinais de fragilidade, enquanto a Boeing se prepara para aumentar a produção dos modelos 737 Max e 787 nos próximos meses.

A Boeing pretende, eventualmente, atingir um ritmo mensal de produção de meados dos 50 jatos da linha Max, após ar por várias etapas de aumento de produção, segundo Ortberg. Por ora, a meta é alcançar o limite de 38 unidades mensais imposto pela istração Federal de Aviação (FAA), para então aumentar gradualmente para 42 e além, desde que os indicadores de produção se mantenham estáveis.

Essas medidas devem ajudar a melhorar o fluxo de caixa, com Ortberg reiterando que a Boeing pretende reverter o consumo de caixa registrado no primeiro semestre e ar a gerar caixa na segunda metade do ano.

— Há muitos clientes buscando o (737) MAX — acrescentou, em referência aos modelos mais vendidos da Boeing. —Não vamos esperar muito. Não deixarei que isso descarrile a recuperação da empresa — garantiu Ortberg, acrescentando:

— Estamos no caminho certo para essa recuperação e para voltar a ter fluxo de caixa positivo no segundo semestre do ano .

A Boeing, no entanto, continua vulnerável aos impactos das tarifas de Trump. Ortberg já havia alertado que fornecedores também correm o risco de serem afetados pelas tensões comerciais, o que poderia aumentar os custos e provocar atrasos na produção de aeronaves.

“Embora estejamos monitorando de perto os desdobramentos no comércio global, nosso início de ano forte, combinado com a demanda por aviões e uma carteira de pedidos de meio trilhão de dólares para nossos produtos e serviços, nos dá a flexibilidade necessária para navegar nesse ambiente,” disse Ortberg em mensagem aos funcionários.

A Boeing informou que os resultados “refletem apenas as tarifas em vigor até 31 de março.”

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