Redução de frota da Azul afeta a Embraer? Veja a avaliação de analistas
Em pedido de recuperação judicial feito à Justiça dos EUA, companhia aérea estima redução de frotas
O pedido de recuperação judicial da Azul nos Estados Unidos, feito na quarta-feira, acendeu dúvidas de investidores sobre os possíveis efeitos da reestruturação na Embraer, uma de suas principais fornecedoras da companhia aérea. Os principais riscos estariam relacionados as encomendas de aeronaves.
Em relatório, analistas do J.P. Morgan afirmam que a reestruturação da Azul gera um “sentimento negativo” em relação à Embraer, já que a Azul é uma das principais clientes da fabricante. Eles ponderam, no entanto, que os efeitos nos números operacionais deste ano devem ser limitados.
Nesta quinta-feira, as ações da Embraer chegaram a cair 3% no início do pregão. No meio da tarde, perto das 16h, a queda era de 0,43%, com papeis negociados a R$ 66,55.
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Como parte da reestruturação apresentada à Justiça americana, a Azul informou ontem que iria reduzir a futura frota em 35%. Em 2025, a Azul prevê encerrar o ano com uma frota contratual de 170 aeronaves, 31 a menos do que a previsão anterior. Até o fim de 2027, a expectativa é reduzir o número de aeronaves de 218 para 172. A frota comercial inclui, além das aeronaves em operação, aquelas que estão previstas.
A preocupação entrou no radar porque a Embraer é uma das principais fornecedoras da Azul. O balanço de entregas e carteira da fabricante do 1º trimestre indica que a companhia aérea tem de 51 encomendas, o equivalente a 15% da carteira comercial da fabricante. A companhia também é a maior cliente da aeronave E195-E2, responsável por 34% dos pedidos desse modelo.
Encomendas de E2
A estimativa do J.P Morgan é de que o total encomendado com os pedidos do E2 somem cerca de US$ 3,4 bilhões, considerando os preços de tabela de 2018 (quando a encomenda foi ampliada de 30 para 51 jatos ). Como esse pedido é grande e relativamente antigo, os analistas ponderam, no entanto, que as margens devem ser mais apertadas do que as obtidas pela Embraer em encomendas mais recentes.
“No momento, é difícil avaliar se esse ajuste ocorrerá por meio de adiamentos, cancelamentos, renegociação de contratos ou outro formato”, ressaltam Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, em relatório do BTG Pactual divulgado nesta quinta-feira. A avaliação geral dos analistas, no entanto, é de que os efeitos da reestruturação da Azul sobre a Embraer não serão significativos.
Segundo cálculos do BTG, a exposição da Embraer à Azul corresponde a menos de 1% do valor de mercado da fabricante. A conta leva em consideração o total que a empresa tem receber relacionados a clientes domésticos. O valor, de R$ 209 milhões, inclui também a Força Aérea Brasileira. “Estimamos que a exposição da Embraer à Azul seja apenas uma fração disso - ou seja, menos de 1% do valor de mercado da companhia”, calcula.
ivo de US$ 9,57 bilhões
O banco ressalta que o modelo E2 oferece melhor desempenho econômico e devem continuar como peça-chave na recuperação financeira da companhia. “A Azul pode ter o a condições de financiamento mais favoráveis ao adquirir aeronaves produzidas localmente (Embraer), em comparação com modelos importados, como os da Airbus”, acrescentam.
Em caso de cancelamentos, a Embraer ainda poderia redirecionar parte da produção para outros clientes, aproveitando a forte demanda global por aeronaves regionais e os gargalos na cadeia de fornecimento do setor. Além disso, a companhia tem ampliado sua presença internacional, especialmente nas áreas de aviação comercial e defesa, o que reduz a dependência da Azul.
Outro fator que limita os impactos para a Embraer é a complexidade dos cancelamentos. Companhias aéreas costumam pagar depósitos antecipados ao fazer encomendas, o que gera custo caso optem por rescindir contratos. Na avaliação do BTG, o cenário mais provável é de adiamentos de entrega, e não de cancelamentos totais.
Em pedido de reestruturação feito à Justiça americana, a Azul informou ter um ivo total de US$ 9,57 bilhões, o equivalente a R$ 54 bilhões. O objetivo da recuperação judicial é elimitar US$ 2 bilhões em dívidas. Na lista de 30 maiores credores descobertos da companhia, estão duas empresas do conglomerado da Embraer, com mais de US$ 36 milhões a receber, ao todo, segundo a Azul.