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Rodovias ainda são principais vias de escoamento da produção

Apesar das limitações e da necessidade de investimentos para reformas e ampliações, o modal permanece como o mais usado no Brasil para o transporte de cargas

Meio utilizado para o transporte de parte majoritária da produção brasileira, as rodovias também são essenciais para o escoamento da produção nacional. De acordo com a última pesquisa Custo Logístico, realizada pela Fundação Dom Cabral, 75,9% do que é produzido no Brasil circula pelas estradas. 

O índice traz uma dimensão da relevância das rodovias para o desenvolvimento econômico. Com uma extensão de mais de 1,7 milhão de quilômetros, segundo a “Síntese do Setor Rodoviário” divulgada pelo Ministério da Infraestrutura, as vias terrestres para o transporte de cargas impõem uma série de desafios para a logística do País, que tem dimensões continentais. 

DÉCADA DE 1950
Escolhidas pelo poder público ainda durante a década de 1950 como principal meio de escoamento, as rodovias se impõem em relação ao transporte ferroviário e marítimo. Apesar do maior custo de manutenção, o modal rodoviário traz vantagens operacionais, como o transporte porta a porta, ampla flexibilidade de rotas e maior possibilidade de adaptação dos veículos para o transporte de diferentes tipos de carga. 

Diogo Bezerra, secretário de Mobilidade e Infraestrutura de PernambucoDiogo Bezerra, secretário de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco | Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

No entanto, o modal também tem limitações, especialmente com relação à capacidade. No comparativo com navios ou algum sistema de via férrea, essa restrição é vista como uma desvantagem e traz um entrave nos processos logísticos que precisam istrar grandes quantidades de produtos.  

Para o coordenador do curso de Logística da Faculdade Senac-PE, Over Montes Causil, o uso da multimodalidade poderia trazer diversos benefícios para o setor de logística no País. 

“Misturar vários modos de transporte, como o ferroviário, aquaviário e o aeroviário, seria de muita ajuda nos processos logísticos para um país de tamanho continental como o Brasil. Combinar de forma inteligente vários modos de transporte aumentaria a eficiência dos processos de distribuição, além de que se ganharia uma alta na produtividade pela utilização otimizada dos espaços/volume caso todo o processo seja bem planejado”, avalia. 

MANUTENÇÃO
Para Causil, uma das maiores dificuldades do uso predominante do modal rodoviário está na adequação de um planejamento de manutenção. 

“As estradas, por causa de peso dos veículos e mercadoria, precisam ar periodicamente por manutenção preventiva. Porém, como isso não é feito, a deterioração acontece, e a vida útil diminui. Para recuperar essas estradas, muitas vezes é necessário fazer um novo processo corretivo que sai mais caro que o preventivo”, afirma o especialista. 

A percepção é confirmada pela Pesquisa CNT de Rodovias 2024 que trouxe um panorama de mais de 111 mil quilômetros de estradas. O levantamento avalia 100% da malha rodoviária federal pavimentada e 100% da malha concedida à iniciativa privada, assim como as principais rodovias estaduais do País. Os dados apontam que a maioria das estradas são classificadas como regulares, ruins ou péssimas em relação ao seu estado. 

BR 101, no Recife BR 101, no Recife | Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Levando em conta variáveis, como condições do pavimento, das placas, do acostamento, de curvas e de pontes, as rodovias foram classificadas da seguinte forma: ótima (7,5%); boa (25,5%); regular (40,4%); ruim (20,8%) e péssima (5,8%).

INVESTIMENTO
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a estimativa é de que o investimento necessário para a reconstrução, restauração e manutenção do pavimento das rodovias corresponde a R$ 99,7 bilhões. 

Segundo o especialista Over Montes Causil, a garantia da circulação em rodovias de boa qualidade poderia impactar de forma significativa os custos do setor. “Estradas mantidas em boas condições significam veículos com menos danos e produtos com menor risco de perdas de qualidade. Assim, carros, mais eficientes e menos produtos defeituosos, diminuem os custos para qualquer empresário e consequentemente os lucros por evitar altos custos de qualidade e de manutenção de veículos”, explica. 

Para ele, outros fatores também podem auxiliar no desenvolvimento da logística no País por meio do modal rodoviário. 

“Na minha percepção, além de melhorar a manutenção das vias também é preciso reforçar a segurança nas estradas com o intuito de diminuir os riscos de perdas de mercadorias. Outra necessidade é a construção de novos corredores que diminuam as distâncias entre algumas regiões. Essas medidas podem ser usadas para melhorar a eficiência dos processos logísticos”, comenta Causil. 

O coordenador da Faculdade Senac-PE aponta ainda a necessidade de mais investimentos para a otimização dos processos logísticos realizados no País. “O setor precisa de investimentos. Não só de recursos econômicos - que são importantes e vêm do setor privado e público-, precisamos também de investimentos em educação e profissionais na área de logística. Ainda temos muito déficit com pessoas treinadas em logística e gestão, com capacidade de utilizar as novas ferramentas tecnológicas em benefício da logística.”

PERNAMBUCO
Com um total de 13.479,95 quilômetros, sendo 10.409,78 deles sob juridição do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE), a rede rodoviária do Estado é dividida entre as rodovias que são federais, estaduais, estaduais existentes que coincidem com rodovias federais planejadas, os estaduais (com extensão acima de 0,5 km) e vicinais estaduais - termo usado para descrever as vias que não possuem revestimento asfáltico. 

BR 232, principal conexão entre a RMR e o AgresteBR 232, principal conexão entre a RMR e o Agreste | Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Neste ano, as estradas que estão sob tutela do Estado aram a ser beneficiadas com o programa “PE na Estrada”. Lançada pelo Governo de Pernambuco, a iniciativa tem o objetivo de viabilizar melhorias significativas das estradas e rodovias. Para tal, cerca de R$ 5 bilhões serão investidos na etapa inicial do programa. 

Segundo o secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco, Diogo Bezerra, a iniciativa foi criada depois da constatação da necessidade de um plano de ação âncora em relação à reestruturação, restauração e implantação da malha viária. 

“Lançamos recentemente um programa chamado ‘PE na Estrada’, que irá permitir que as principais estradas do nosso Estado tenham sua condição melhorada e já realizamos algumas entregas. Temos uma dimensão efetiva e podemos observar quais são as vias que têm mais volume de veículos. Realizamos um cruzamento de dados para saber as condições daquelas estradas e, a partir daí, elaboramos um ranking de prioridades”, explica Bezerra.

O programa deverá facilitar especialmente a conexão entre as rodovias e os outros modais existentes, garantindo um melhor fluxo. “Essa conexão entre portos, aeroportos e ferrovias, com a projeção da chegada da Transnordestina, garante que a produção possa ter um deslocamento efetivo ando pelo nosso Estado. Precisamos de todos os modais para que isso, de fato, aconteça”, destaca o secretário. 

ARCO METROPOLITANO
Entre as obras previstas no “PE na Estada”, um dos destaques é a construção do Arco Metropolitano. Com a promessa de facilitar o escoamento da produção da Mata Norte do Estado até o Porto de Suape, além de desafogar o deslocamento entre as cidades que farão parte do roteiro do Arco, a obra deverá receber um investimento total de cerca de R$ 1,3 bilhão. 

“O projeto foi dividido em duas etapas. A primeira parte [entre a BR-101, em Paudalho, e a BR-232, em Moreno] já foi encaminhada para validação do DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], já que é uma etapa que está prevista para ser executada pelo Governo Federal.”

Os custos da construção serão arcados pelo Governo de Pernambuco. “Essa parte precisa de um investimento maior, em torno de R$ 770 milhões. Ela será responsável por ligar a BR-232, ali na altura do Moreno, até a BR-101, na altura do Cabo de Santo Agostinho. É uma obra que tem importância não só logística, mas principalmente para a mobilidade da região”, detalha o secretário.

Um dos benefícios será promovido pelo desafogo do fluxo de veículos que transitam pela BR-101. Cortando alguns municípios da Região Metropolitana do Recife, a rodovia federal é usada tanto para o transporte de cargas quanto por veículos de eio. 

Com o Arco, a expectativa é de que os custos relacionados ao transporte logístico em Pernambuco sejam reduzidos já que o tráfego acontecerá em uma via construída especialmente para receber o alto fluxo de grandes veículos. 

“É a obra mais importante do Estado em termos de infraestrutura viária. O impacto para a população será considerável já que a conclusão do Arco representa uma grande entrega efetiva para o Estado. Na prática, [o Arco] vai representar a ligação de três BR’s: a BR-408, BR-232 e a BR-101. Quando ele estiver completo, vai permitir que toda a produção que a pelo Estado no sentido Norte-Sul e vice-versa deixe de ar por dentro efetivamente dos municípios”, completa o secretário.

Arte: Folha de PernambucoArte: Folha de Pernambuco

 

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