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Futebol

Ancelotti na seleção: treinador foi convencido a antecipar chegada ao Brasil; veja os bastidores

Pessoas próximas ao técnico relataram que ele via o desafio com o Brasil como uma oportunidade única, tanto pelo prestígio da camisa quanto por ser um trabalho de menor desgaste

Carlo Ancelotti deixará o Real Madrid como o treinador mais vitorioso da história do clube, encerrando um ciclo que terminou sem títulos na temporada 2024-25 e marcado por uma série de lesões, desgaste interno e falta de reforços. Agora, o técnico italiano se prepara para assumir a Seleção Brasileira, com foco na Copa do Mundo de 2026, que será disputada nos Estados Unidos, Canadá e México.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vinha tentando contratar Ancelotti há pelo menos dois anos. Houve abordagens em 2022 e 2023, mas o Real Madrid conseguiu mantê-lo ao estender seu contrato até 2026. Desta vez, porém, com o fim de um ciclo evidente no clube espanhol, o cenário foi diferente. Após a eliminação na Liga dos Campeões diante do Arsenal e uma temporada sem conquistas, o treinador ficou mais aberto à transição.

As negociações com a CBF foram discretas, mas intensas. O presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, sempre tratou Ancelotti como “o sonho” para liderar o projeto do Brasil até a Copa. A federação também cogitava o nome de Jorge Jesus, atual técnico do Al Hilal, mas foi em Ancelotti que concentrou seus esforços. Intermediários da CBF estiveram no Estádio Santiago Bernabéu no dia 16 de abril, durante o jogo de volta contra o Arsenal, e se reuniram com o treinador no dia seguinte, em sua casa, para concluir as tratativas.

Ancelotti, que inicialmente pretendia assumir o Brasil apenas no meio do ano, foi convencido a antecipar sua chegada para o fim de maio, com o objetivo de comandar a Seleção já nos compromissos de junho pelas Eliminatórias Sul-Americanas. Ele assinou um contrato inicial de um ano, válido até o fim do Mundial de 2026, com possibilidade de renovação. A estreia oficial está prevista para o dia 8 de junho, quando o Brasil enfrenta o Uruguai, seguido de um amistoso contra os Estados Unidos no dia 12, ambos em solo norte-americano.

Internamente, Ancelotti sempre manifestou interesse em treinar uma seleção nacional antes de encerrar sua carreira. Pessoas próximas ao técnico relataram que ele via o desafio com o Brasil como uma oportunidade única, tanto pelo prestígio da camisa quanto pelo fato de ser um trabalho de menor desgaste em comparação à rotina intensa dos clubes europeus.

A saída de Ancelotti do Real Madrid foi facilitada pela deterioração do ambiente no clube: a perda de jogadores-chave como Kroos, Nacho e Joselu, a frustração com a falta de reforços na defesa, o grande número de lesões e o enfraquecimento da comissão técnica — com a iminente saída de seu filho Davide Ancelotti para buscar uma carreira solo como técnico principal — contribuíram para sua decisão. Havia também um crescente desconforto com a forma como o clube tratava sua sucessão, negociando abertamente com Xabi Alonso.

Ainda que Ancelotti tenha publicamente declarado seu desejo de permanecer até 2026, nos bastidores ele já itia a mudança de planos. O desgaste da temporada, somado ao julgamento por evasão fiscal na Espanha, que envolveu questões de direitos de imagem da sua primeira agem pelo clube, também pesaram.

Com a chegada de Ancelotti, a CBF espera não apenas recuperar o prestígio da Seleção, mas também reorganizar um elenco jovem e promissor rumo ao hexa. Ele terá à disposição jogadores que já conhece bem — como Vinícius Júnior, Rodrygo e o recém-chegado Endrick —, e pretende implementar uma estrutura mais europeia de trabalho, com foco em disciplina tática e aproveitamento individual.

A aposta da CBF em Ancelotti é estratégica: busca-se, com ele, não só resultados imediatos, mas também a construção de uma nova identidade para o futebol brasileiro. A missão será difícil, mas o desafio é do tamanho do treinador.

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