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Cinema

"Rust", de Alec Baldwin, ganha lançamento discreto nos EUA, anos após tiroteio fatal

Produção ficou marcada pela morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins

Como planejar o lançamento de um filme que se tornou famoso por uma tragédia no set?

Os responsáveis pelo malfadado faroeste "Rust" vêm tentando descobrir isso.

O filme finalmente foi lançado nesta sexta-feira nos EUA, três anos e meio a pós a morte de sua diretora de fotografia, Halyna Hutchins, atingida por uma bala real disparada de um revólver com o qual o astro do filme, Alec Baldwin, ensaiava em um set no Novo México.

Agora o filme finalmente chega aos cinemas após anos de processos judiciais, investigações e dois julgamentos criminais, com seu lançamento decididamente silenciado.

Sem conseguir atrair a atenção de festivais de cinema mais importantes, "Rust" estreou no último outono em um pequeno festival na Polônia.

Agora, está sendo lançado em um número limitado de cinemas (nenhum até agora em Nova York) e sob demanda, abrindo mão da tradicional estreia no tapete vermelho, e sem entrevistas de Baldwin.

Segundo os responsáveis, o principal objetivo ao finalizar o filme e pressionar por seu lançamento era destacar o trabalho final de Hutchins, uma promissora diretora de fotografia de 42 anos quando foi assassinada.

Um acordo judicial prevê que parte dos lucros do filme seja destinada ao marido e ao filho dela.

"Se eu tivesse que fazer um apelo a alguém para que assistisse", disse o diretor do filme, Joel Souza, "eu diria que muitas pessoas realmente boas trabalharam muito duro para finalizar este filme em homenagem a ela."

Souza foi ferido no tiroteio pela bala que matou Hutchins, que a atravessou e se alojou em seu ombro.

Ele disse que, a princípio, duvidava que algum dia quisesse voltar à indústria cinematográfica. Mas, eventualmente, um plano surgiu para finalizar "Rust", com Souza de volta à cadeira de diretor.

O plano não só teve a aprovação do marido de Hutchins, Matthew, como foi o cerne de um acordo firmado com os produtores, incluindo Baldwin, após ele entrar com uma ação por homicídio culposo. Brian Panish, advogado de Matthew Hutchins, disse em um e-mail esta semana que os produtores de "Rust" ainda não pagaram o valor integral da indenização devida à família, que venceria em 2023.

A produtora afirmou que parte do acordo está vinculada aos lucros do filme, que serão destinados ao pagamento de Hutchins, nomeado produtor executivo do filme, e de seu filho, Andros, que tinha 9 anos quando a mãe morreu.

Os produtores originais não se beneficiarão financeiramente com o lançamento, disse Melina Spadone, representante da Rust Movie Productions.

Portanto, o lançamento envolve um equilíbrio delicado: gerar renda para a família Hutchins e, ao mesmo tempo, promover o filme com a sobriedade necessária.

Após Matthew Hutchins chegar a um acordo com os produtores, as filmagens terminaram em Montana em 2023, com uma nova diretora de fotografia, Bianca Cline.

Os cineastas decidiram usar apenas armas falsas, incapazes de disparar.

A prioridade de Cline e Souza era resgatar o máximo possível do trabalho original de Halyna Hutchins, o que significou um quebra-cabeça de tomadas antigas e novas, empregando truques de edição e, em alguns casos, efeitos especiais.

À medida que o filme era finalizado, o drama jurídico em torno do tiroteio fatal só se intensificava.

Hannah Gutierrez-Reed, a armeira que carregou uma bala real na arma naquele dia de 2021, foi condenada por homicídio culposo e sentenciada a 18 meses de prisão.

Diante de seu próprio processo criminal, Baldwin foi a julgamento em Santa Fé sob a acusação de homicídio culposo, mas um juiz indeferiu o caso após constatar que o estado havia ocultado provas da defesa. (Baldwin agora está processando os promotores pelo que ele chama de "acusação maliciosa".)

Casos anteriores marcados pela tragédia tiveram um lançamento mais amplo.

Após a morte do ator Brandon Lee durante as filmagens de "O Corvo", o filme foi lançado em mais de 2 mil cinemas em 1994 e arrecadou mais de US$ 50 milhões. (Teve um orçamento maior do que "Rust", cuja produção foi retomada com um orçamento de cerca de US$ 8 milhões.)

"Rust" terá uma exibição inicial bem menor neste fim de semana, em cerca de 115 telas em todo o país. Também foi lançado simultaneamente em serviços como Amazon Prime Video, Apple TV+ e Fandango at Home.

Representantes disseram que o plano de distribuição foi elaborado com a intenção de maximizar os lucros da família Hutchins.

Alguns críticos questionaram a decisão de lançar o filme, incluindo vários diretores de fotografia que rejeitaram o plano de estrear o filme na Polônia.

Mas pessoas envolvidas no projeto disseram que queriam homenagear a memória de Halyna.

"No longo prazo, acredito que é melhor que haja um filme finalizado, em vez de apenas uma tragédia e depois nada", disse Devon Werkheiser, ator do filme, em um vídeo postado em sua conta do Instagram esta semana.

Rachel Mason, amiga de Halyna Hutchins, que fez um documentário sobre a tragédia lançado em março, recebeu permissão para ler suas mensagens de texto sobre a produção de "Rust" e seus cadernos, onde registrou ideias para o filme. "Halyna queria fazer 'Rust'", disse ela.

"Ela não teria tocado em um filme com o qual não se importasse."

No documentário, a mãe de Hutchins, Olga Solovey, que está processando a produção junto com o marido e a outra filha, disse que queria ver o trabalho concluído.

Souza, o diretor, disse que alguns membros do elenco e da equipe se reuniriam em Los Angeles na quinta-feira à noite para uma pequena exibição privada.

"É difícil divulgar", disse ele. "Como você o comunica? A melhor maneira que me vem à mente é esperar que as pessoas gostem do filme por seus méritos."

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