" deportação seria assumir culpa por crime que ele não cometeu", diz mulher de ativista
Thiago Ávila foi capturado na madrugada de segunda-feira por militares israelense ao lado da ambientalista sueca Greta Thunberg
A psicóloga Lara Souza, mulher do ativista Thiago Ávila, afirma que o seu marido é um preso político e diz que o governo brasileiro deve se esforçar para trazê-lo ao país. Ele foi capturado na madrugada de segunda-feira por militares israelense ao lado da ambientalista sueca Greta Thunberg e de outros militantes a bordo do barco "Madleen" com ajuda humanitária para Faixa de Gaza.
Lara conta que Ávila se recusou o documento de deportação porque o texto dizia que ele reconheceria ter cometido um crime entrar ilegalmente em Israel. Junto há cinco anos, o casal tem uma filha de 1 ano e cinco meses.
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Como a senhora está tendo notícias sobre a situação do seu marido?
Pela advogada dele. Mesmo a embaixada brasileira não está tendo o a ele também, apesar deles terem tentado. A advogada está me ligando e me mandando mensagem para dar atualizações.
Quem contratou essa advogada?
É uma advogada de uma organização chamada Adala formada por advogados palestinos que atuam em Israel. São três advogados que estão advogando para os oito participantes que estão detidos e pelo que eu entendi é uma organização parceira da Flotilha.
Ele realmente optou por não a deportação?
Eles foram detidos em águas internacionais. Foram levados para um porto com base militar. A embaixada não sabia onde ele estava. O governo não estava comunicando nem para as embaixadas o que ia acontecer. Eles foram levados para o centro de detenção no aeroporto, para serem interrogados. Nesse momento, eles encontraram com as embaixadas. Foram separados para os interrogatórios, e tiveram que escolher se iriam com embaixada ou com advogado. O Thiago escolheu a advogada.
No documento apresentado como condição para ser liberado, eles aceitavam a deportação dizendo que eles tinham entrado ilegalmente no país, tinham descumprido as leis do país, então por isso seriam deportados. O Thiago e outros sete ativistas não aceitaram porque era assumir culpa de algo que eles não fizeram, de crime que eles não cometeram. E além disso tinha essa situação de fato que eles estavam sendo interrogados separadamente. Não sabiam o que estava acontecendo com os outros participantes. Não sabiam se estavam recebendo as mesmas condições.
E qual é a perspectiva dele agora?
Eles foram levados para outro centros de detenção Givon. A advogada me falou que a gente precisa esperar, enquanto eles estão presos ilegalmente. A defesa está pedindo que eles sejam soltos imediatamente, nem é um pedido de deportação.
Que avaliação a senhora faz da atuação da Itamaraty?
A gente teve apoio ontem (segunda-feira). Depois dessa decisão de não assumir a culpa, o que eu recebi foi que isso saia da alçada deles. Mas estamos considerando que é um pessoa que foi presa ilegalmente, ou seja, é um preso político. É que há um dever dos governos de trazer de volta os seus cidadãos.
Considera que a ação era necessária?
Essas ações são necessárias para que as pessoas vejam que que realmente proibir ajuda humanitária é crime de guerra.
Como responde às afirmações de que os ativistas estavam no “barco da selfie”?
A minha avaliação é que essa foi uma tentativa justamente de descredibilizar essa missão. A primeira coisa que foi colocada pelo ministro de Relações Exteriores de Israel foi justamente dizer que era um iate de celebridades. Menos de mês antes dessa missão, eles tentaram sair com outra flotilha e o barco foi bombardeado por dois drones israelenses. Felizmente ativistas que já estavam a bordo conseguiram pular no mar e se salvar. O fato de terem pessoas de alcance é justamente uma forma de, primeiro de proteção, dos ativistas. E de fazer as pessoas olharem e de usar o alcance que eles já tinham. Não são pessoas que precisam disso pra se promover.
Saíram informações da presença do Thiago em um funeral de um líder do Hezbollah (Hassan Nasrallah, morto em 2024 durante um ataque israelense ao Líbano). Tem gente que lê isso como o apoio dele a um grupo terrorista. Como responde?
O Thiago não tem qualquer ligação com o Hezbollah, nunca teve. Não é uma questão de apoio ou de qualquer tipo de conexão. O Thiago trabalha com comunicação, como correspondente internacional, com o jornalismo. Para esse funeral, eles convidaram jornalistas do mundo inteiro. O Thiago é ativista social há mais de 20 anos, desde a adolescência na área socioambiental, mas também sempre fez parte do ativismo dele essa defesa dos povos.