Bombardeios de Israel matam mais de 190 em Gaza em 2 dias, enquanto Trump volta a falar em controle
Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou na quinta que 2.876 pessoas foram mortas desde que Israel retomou ataques em 18 de março
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que pretende assumir o controle da Faixa de Gaza e transformá-la em uma "zona de liberdade" nesta quinta-feira, durante visita oficial ao Catar, enquanto uma campanha de ataques aéreos israelense deixou quase 200 mortos no enclave palestino nos últimos dois dias.
A declaração do presidente americano acontece em meio à sua primeira agenda externa — uma agem pelo Oriente Médio que não incluiu parada no Estado judeu — e em um momento em que organizações internacionais vêm alertado para um aumento severo da fome no enclave palestino.
— Tenho ideias para Gaza que acredito que são muito boas, para transformá-la em uma zona de liberdade, para que os Estados Unidos se envolvam e simplesmente a transformem em uma zona de liberdade — disse Trump, que anteriormente já revelou seu interesse em criar uma "Riviera" em Gaza, com a realocação da população palestina para outros países.
Enquanto o republicano expunha seus planos para a região no Catar, a cerca de 2 mil km da Faixa de Gaza, uma segunda onda de ataques aéreos israelenses deixavam um grande número de vítimas em território palestino pelo segundo dia consecutivo.
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Com a contagem ainda em andamento durante os trabalhos das equipes de resgate em solo, jornais israelenses noticiaram mais de 100 mortos no enclave, citando fontes palestinas — por volta das 15h50 (9h50 em Brasília), o Times of Israel publicou que a contagem havia chegado a 115, apenas nos ataques desta quinta-feira.
Amir Selha, um palestino de 43 anos do norte de Gaza, relatou "intensos bombardeios israelenses durante toda a noite". Em entrevista à agência sa AFP, ele afirmou que drones com quatro hélices do Exército lançaram panfletos em seu bairro na manhã de quinta-feira, pedindo aos moradores que se mudassem para o sul.
— Projéteis de tanques estão sendo disparados 24 horas por dia, e a área está lotada de pessoas e tendas — disse.
O grupo terrorista Hamas, que lançou um ataque em larga escala contra o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, acusou nesta quinta-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de minar os esforços de mediação para a libertação de reféns e um acordo de cessar-fogo ao realizar operações militares em Gaza.
"O criminoso de guerra Netanyahu mina os esforços de mediação por meio de escalada militar deliberada, demonstrando indiferença aos seus reféns e colocando suas vidas em risco", posicionou-se o grupo em um comunicado.
O governo americano, que tem em Israel seu principal aliado na região, tenta equilibrar dois interesses distintos em meio à crise em Gaza. Ao mesmo tempo em que mantém o apoio aos aliados, defende o desmantelamento do Hamas e patrocina o plano de retirada da população palestina do enclave, Trump também almeja alcançar um cessar-fogo na região — algo que prometeu e que comemorou como uma vitória sua, quando da do acordo que levou à troca de reféns por prisioneiros no começo do ano.
A exclusão de Israel do roteiro da primeira viagem internacional de Trump ao Oriente Médio foi apontada por analistas como uma sinalização da Casa Branca sob o republicano de que a escalada atual não serve aos interesses de Washington.
O jornal israelense Haaretz noticiou que o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, teria conversado com Netanyahu várias vezes ao longo da quarta-feira para tentar estabelecer alguma base para uma nova trégua, mas o premier não abriu mão de que metade dos reféns deveriam ser libertados antes de qualquer nova conversa.
O porta-voz da agência de defesa civil de Gaza, istrada pelo Hamas, Mahmud Basal, disse em um comunicado na quinta-feira que Israel "está empregando uma política de redução de áreas e esvaziamento de regiões povoadas para pressionar e aterrorizar civis". A ONU estima que 70% de Gaza seja agora uma zona proibida declarada por Israel ou esteja sob ordem de evacuação.
Na quarta-feira, ao menos 80 pessoas morreram em bombardeios pelo território palestino. Em Jabaliya, no norte de Gaza, montes de escombros de concreto e metal retorcido ocuparam os locais em que antes haviam prédios.
Netanyahu afirmou na segunda-feira que os militares entrariam em Gaza "com força total" nos próximos dias, caso a liderança palestina não libertasse os reféns. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou na quinta que 2.876 pessoas foram mortas desde que Israel retomou os ataques em 18 de março.