Cardeais se reúnem para definir data do conclave que escolherá sucessor de Francisco
O cardeal espanhol José Cobo disse que não será previsível. "Se Francisco foi o papa das surpresas, este conclave também será", reforçou
Os cardeais pretendem definir nesta segunda-feira (28) a data de início do conclave que elegerá o líder espiritual de 1,4 bilhão de fiéis da Igreja Católica após a morte do papa Francisco.
O encontro dos chamados "príncipes da Igreja" para escolher a data estava previsto para começar às 9h00 locais (4h00 de Brasília). O conclave poderia começar em 5 ou 6 de maio, após os nove dias de luto decretados pelo Vaticano.
O primeiro pontífice latino-americano foi enterrado no sábado, após uma cerimônia solene de despedida na presença de líderes internacionais e de 400.000 pessoas.
Os cardeais foram convocados a Roma para escolher o novo papa. Do total de 135 com direito a voto - porque têm menos de 80 anos -, 80% foram designados por Francisco. Eles vêm de todas as regiões do mundo e muitos não se conhecem.
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"Personalidade aberta"
Patricia Spotti espera que o novo pontífice "seja como o papa que faleceu, como Francisco". "Deve ter uma personalidade aberta para todos", disse à AFP esta mulher de 68 anos que viajou de Milão a Roma para o Ano do Jubileu, celebrado em 2025.
Muitos fiéis temem que o novo papa represente um o atrás em relação ao legado do jesuíta argentino, marcado pela luta contra os abusos sexuais de menores de idade na Igreja, por mais espaço para mulheres e leigos e pela defesa dos pobres e migrantes.
"Nosso desejo é encontrar alguém que se pareça com Francisco, não que seja o mesmo, mas em continuidade", declarou o cardeal argentino Ángel Sixto Rossi, de 66 anos. "É possível que comece no dia 5", declarou sobre o início do conclave.
"É difícil dizer como imaginamos o perfil do novo papa", destacou o cardeal italiano Giuseppe Versaldi, de 83 anos, sem direito a voto. "Tem que haver continuidade, mas também avançar em frente, não apenas repetir o ado".
O cardeal espanhol José Cobo disse ao jornal El País que não será "nada previsível". "Se Francisco foi o papa das surpresas, este conclave também será".
Como no filme?
O conclave, que acontece a portas fechadas na Capela Sistina, provoca fascínio há vários séculos. O recente filme homônimo do diretor alemão Edward Berger, que venceu em março o Oscar de melhor roteiro adaptado, popularizou ainda mais o evento.
"Mais da metade de nós viveremos nosso primeiro conclave. É uma oportunidade para mostrar ao mundo que filmes como 'Conclave' e outros semelhantes não são a realidade", disse o cardeal espanhol Cristóbal López Romero ao portal oficial Vatican News.
O filme retrata o processo de eleição de um novo papa, em reuniões a portas fechadas. O relato fictício mostra as tensões entre diversas alas do Vaticano.
Mas as divisões dentro da Igreja não são uma ficção. As reformas impulsionadas por Francisco e seu estilo simples despertaram críticas entre os setores mais conservadores, que apostam em uma mudança mais focada na doutrina.
"Hoje, precisamos de união, não de divisão", advertiu no domingo o cardeal do Mali Jean Zerbo, de 81 anos, após uma oração dos cardeais diante do túmulo de Francisco.
As apostas
O cardeal alemão Reinhard Marx espera um conclave de "poucos dias".
Roberto Regoli, professor da Universidade Pontifícia Gregoriana, acredita que não será rápido. "Estamos em um período em que o catolicismo está enfrentando várias polarizações e os cardeais terão que encontrar alguém que saiba forjar uma unidade maior", disse.
Com os conflitos e as crises diplomáticas no mundo, o italiano Pietro Parolin aparece como um dos favoritos. O cardeal atuou como secretário de Estado com Francisco, depois de ocupar o posto de núncio na Venezuela.
A casa de apostas britânica William Hill o coloca à frente do filipino Luis Antonio Tagle, seguido do cardeal ganês Peter Turkson e do também italiano Matteo Zuppi.