Desmatamento na Amazônia aumenta e reduz as chuvas, afirma estudo
Perda de árvores na região da Amazônia compromete a capacidade da floresta tropical de absorver dióxido de carbono, gás que aquece o planeta
O desmatamento na Amazônia provoca mais chuvas na estação chuvosa e menos chuvas na estação seca, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta quarta-feira (5), que destaca o papel “essencial” da floresta tropical na regulação do clima local e global.
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A perda de árvores na região da Amazônia, impulsionada principalmente pela agricultura predatória, mineração e desmatamento, compromete a capacidade da floresta tropical de absorver dióxido de carbono, gás que aquece o planeta.
As pesquisas anteriores já demonstraram que a redução da vegetação diminui a quantidade de água absorvida para a atmosfera, o que leva a condições geralmente mais secas.
Uma nova pesquisa, publicada na revista Nature, teve como objetivo obter uma visão mais detalhada, utilizando simulações climáticas regionais e dados de satélite da floresta entre 2000 e 2020.
Os pesquisadores, baseados na China e na Tailândia, descobriram que os impactos na Amazônia variam conforme as estações.
Foram registradas mais chuvas específicas sobre áreas onde as árvores foram derrubadas durante a estação chuvosa (de dezembro a fevereiro), enquanto na estação seca (de junho a agosto), quando as plantas mais necessárias, ocorreram menos chuvas em uma região mais ampla.
“Devido ao seu papel fundamental na regulação do clima regional e global, são necessários esforços contínuos para proteger as florestas remanescentes na Amazônia, bem como reabilitar as terras degradadas”, concluem os autores.
Os especialistas destacaram que a perda de árvores na Amazônia, muitas vezes causada pela expansão ilegal da agricultura, representa uma ameaça particular para as colheitas.
"Durante a temporada de chuvas, as áreas desmatadas experimentaram um aumento notável na ocorrência (0,96 mm por mês para cada ponto percentual de perda de floresta)", detalha o texto.
O aumento das precipitações “poderia agravar as inundações na estação chuvosa em certas regiões desmatadas, prejudicando a agricultura regional e a economia social”, disseram.
No geral, os autores descobriram que o desmatamento contínuo na Amazônia "poderia levar a uma redução no total de precipitações", o que ameaçaria a fauna, intensificaria as secas e agravaria os incêndios florestais, além de reduzir a capacidade de absorção de CO2.
A diminuição das chuvas regionais também poderia resultar em "perdas econômicas substanciais na agricultura".
Futura savana?
Em um comentário relacionado ao estudo e também publicado na Nature, Wim Thiery, professor associado da Vrije Universiteit, em Bruxelas, afirmou que a pesquisa foi "pioneira" e que esse tipo de estudo é importante para compreender as complexas interações entre desmatamento, mudança climática e saúde das plantas.
Isso poderia ajudar os pesquisadores a avaliar se a floresta tropical está se aproximando de um chamado "ponto de inflexão", o que poderia fazer com que esse ecossistema crucial se transformasse em uma savana, disse Thiery, que não participou da pesquisa.
Em um estudo publicado na Nature no ano ado, um grupo internacional de cientistas estimou que entre 10% e 47% da Amazônia estarão expostos às combinadas do aquecimento global e da perda da floresta até 2050, o que poderia levar a uma mudança generalizada em seu ecossistema, fazendo com que liberasse o carbono que armazena, impulsionando ainda mais o aquecimento global e intensificando seus efeitos.
A seca assolou a região da Amazônia desde meados de 2023 até 2024, impulsionada pela mudança climática causada pelo homem e pelo aquecimento do El Niño, ajudando a criar condições para incêndios florestais recordes.
A nível global, a tendência de destruição da floresta tropical continua, apesar das promessas do governo de acabar com essa prática até 2030, segundo o relatório "Forest Statement Assessment" de 2024, realizado por organizações de pesquisa, ONGs e grupos de defesa da região.