Funeral do Papa Francisco: saiba quem são os cardeais favoritos para sucessão
Conclave para eleger novo Pontífice deve começar no início de maio
O mundo se despediu de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, neste sábado, em um funeral que reuniu cerca de 450 mil pessoas na Praça de São Pedro. Além disso, mais de 50 chefes de Estados viajaram de todo o mundo para participar da celebração.
A morte de Francisco, que comoveu milhões ao redor do globo, trouxe também para a Igreja Católica o dever de escolha de seu novo líder, num ritual conhecido como conclave.
O Colégio Cardinalício, composto por cardeais de todo o mundo, é o responsável por eleger esse sucessor, que assumirá o papel de orientar a Igreja em uma época de grandes desafios globais.
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Saiba quem são os possíveis sucessores de Francisco, segundo especialistas em Vaticano:
Cardeal Pietro Parolin - Itália
Atual secretário de Estado do Vaticano, Parolin ocupa o segundo posto mais importante na hierarquia do Vaticano desde 2013. Foi o primeiro cardeal nomeado por Francisco, em 2014. Além disso, é membro do Conselho de Cardeais, grupo criado para aconselhar o Papa na revisão da Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana.

Aos 14 anos entrou no seminário de Vicenza e foi ordenado sacerdote em 27 de abril de 1980. Em 1983, o cardeal italiano ingressou na Pontifícia Academia Eclesiástica e, três anos depois, no serviço diplomático da Santa Sé, aos 31 anos.
Diplomata experiente, serviu em países como Nigéria, Venezuela e México, além de atuar em negociações sensíveis envolvendo China, Vietnã e Oriente Médio. Parolin é visto como um nome “moderado” e que poderá dar continuidade às reformas iniciadas por Francisco.
Cardeal Matteo Zuppi - Itália
Matteo Maria Zuppi, nascido em 1955, em Roma, é arcebispo de Bolonha desde 2015 e também foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco, em 2019. Conhecido por sua postura progressista e proximidade com o Pontífice, Zuppi é presidente da Conferência Episcopal Italiana e membro da Comunidade de Sant'Egidio, um movimento católico dedicado à paz e ao diálogo inter-religioso. Também foi o enviado especial do Papa para o conflito na Ucrânia, tendo visitado Kiev, Moscou, Washington e Pequim nessa função.

O cardeal é reconhecido por seu foco em questões sociais, como a inclusão dos marginalizados e o cuidado com os pobres. Defensor de uma Igreja acolhedora e ativa, ele também está à frente de esforços de reconciliação, como o diálogo com a comunidade LGBTQIAPN+.
Cardeal Pierbattista Pizzaballa - Itália
Pizzaballa, de 60 anos, nasceu no dia 21 de abril de 1965 em Cologno al Serio, no Norte da Itália. Foi nomeado patriarca latino de Jerusalém, autoridade católica mais alta no Oriente, em 2020, e proclamado cardeal pelo Papa Francisco em 2023. Como líder da Igreja Católica no Oriente Médio, o italiano é frequentemente elogiado pelo trabalho em prol do diálogo inter-religioso entre cristãos, judeus e muçulmanos.

O cardeal foi ordenado sacerdote em 1990 e, após um período em Roma, foi transferido para a Terra Santa, ainda em outubro daquele ano. Em relação ao conflito em Gaza, ele elogiou a atuação do falecido Pontífice e lembrou que o Papa “era muito próximo da paróquia de Gaza”.
Tendo ado boa parte de sua carreira em Jerusalém, afastando-se de pontos polêmicos, sabe-se pouco sobre o posicionamento do cardeal em relação a questões delicadas para a Igreja Católica. No entanto, acredita-se que Pizzaballa daria, ao menos em parte, continuidade às reformas progressistas iniciadas por Francisco.
Cardeal Luis Antonio Tagle - Filipinas
Tagle tem 67 anos, é um dos pró-prefeitos do Dicastério para a Evangelização e arcebispo emérito de Manila, nas Filipinas, onde nasceu em 21 de junho de 1957. Foi nomeado cardeal em 2012 pelo Papa Bento XVI.

Conhecido por seu compromisso com a justiça social, o combate à pobreza e a defesa dos direitos humanos, o filipino foi presidente da Caritas Internacional, organização humanitária da Igreja Católica, e já foi considerado um dos “favoritos” de Francisco.
Tagle é visto como um forte nome para dar continuidade às reformas progressistas iniciadas pelo Papa, sendo conhecido até mesmo como “Francisco asiático” devido à postura semelhante à do Pontífice. Caso seja escolhido, será o primeiro Santo Padre asiático da História.
Cardeal Péter Erdo - Hungria
Conhecido por sua postura conservadora, Erdo tem 72 anos e é arcebispo de Esztergom-Budapeste. Nasceu na capital húngara em 25 de junho de 1952, sendo o primeiro de seis filhos de uma família de intelectuais católicos. Caso seja escolhido, Erdo representará uma mudança na direção da Igreja Católica após anos de reformas progressistas iniciadas por Francisco.

O húngaro foi nomeado cardeal em 2003 pelo Papa João Paulo II, pouco depois de completar 50 anos. Foi, durante muito tempo, o cardeal mais jovem da Europa. Já se manifestou contra a permissão para que católicos divorciados recebam a comunhão e o acolhimento de imigrantes. Em um livro publicado em 2019, falou sobre a necessidade de “guardar a chama” da fé cristã tradicional.
É muito ativo na chamada nova evangelização, que luta contra a secularização em defesa do diálogo inter-religioso. Dada a localização na Hungria, onde o Oriente se encontra com o Ocidente, não é surpresa que Erdo seja o líder das relações católicas com as igrejas ortodoxas — ele também mantém contato com líderes da comunidade judaica.
Cardeal Peter Turkson - Gana
Turkson, de 76 anos, é arcebispo emérito de Costa do Cabo, em Gana, país onde nasceu em 11 de outubro de 1948. O cardeal já se manifestou sobre questões como crise climática, direitos humanos, pobreza e justiça econômica, e muitos acreditam que ele daria continuidade a reformas mais progressistas iniciadas por Francisco, caso seja escolhido.

Porém, o ganês também tem posicionamentos mais tradicionais sobre sacerdócio, aborto, casamento e homossexualidade. Ainda assim, durante o pontificado de Francisco, Turkson se mostrou mais flexível em relação a questões LGBTQIAP+, tendo argumentado que as leis em países africanos que criminalizam a homossexualidade seriam muito severas.
Caso seja escolhido, Turkson será o primeiro Pontífice negro e africano da história moderna. Há registros apenas de três papas do continente durante o início do primeiro milênio, que se acredita que eram negros. Mas desde então nenhum cardeal da África foi eleito para o cargo.
Cardeal Jean-Marc Aveline - França
Nascido em 1958, em Sidi Bel Abbès, na Argélia, Aveline é o arcebispo de Marselha, na França. É citado por alguns especialistas (sobretudo ses) como o "favorito" de Francisco a sucedê-lo, sendo considerado o mais "bergogliano" dos bispos do país.

Foi nomeado cardeal pelo Pontífice em 2022, e é conhecido por sua dedicação a questões de imigração e diálogo inter-religioso.
Cardeal José Tolentino de Mendonça - Portugal
José Tolentino de Mendonça, nascido em 1965 na Ilha da Madeira, em Portugal, é cardeal e atual prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, cargo que ocupa desde 2022. Poeta, teólogo e intelectual renomado, ele também foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco, em 2019. É da ala "progressista" da Igreja e tinha grande afinidade com o Pontífice.

Antes de assumir seu papel no Vaticano, Tolentino foi arquivista e bibliotecário da Santa Sé, além de reitor da Pontifícia Universidade Católica Portuguesa. Ele fala português e italiano fluentemente e inglês razoável, além das línguas clássicas hebraico e grego antigos.
Cardeal Mario Grech - Malta
Nascido em 1957 em Rabat, em Malta, Grech é o atual secretário-geral do Sínodo dos Bispos, cargo que ocupa desde 2020. Ordenado sacerdote em 1984 e nomeado bispo de Gozo em 2005, também por Francisco, Grech é conhecido por sua abordagem pastoral e pelo foco em questões relacionadas ao diálogo inter-religioso e justiça social.

Com uma formação teológica sólida, tendo um doutorado em direito canônico pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, Grech tem sido uma figura importante no desenvolvimento do Sínodo, órgão consultivo do Papa para discutir questões cruciais para a Igreja.
Cardeal Robert Francis Prevost - EUA
O cardeal Robert Francis Prevost nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1955, e é bispo emérito de Chiclayo, no Peru. Em 2023, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos, substituindo o cardeal Marc Ouellet.

Sua função principal é auxiliar nas nomeações e transferências de bispos. Naquele mesmo ano, foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco. É frei, religioso da Ordem de Santo Agostinho.
Cardeal Wilton Gregory - EUA
Wilton Gregory, nascido em 1947 em Chicago, nos Estados Unidos, é o atual arcebispo de Washington D.C.. Em 2020, ele se tornou o primeiro cardeal afro-americano da Igreja, tendo sido nomeado por Francisco.

Gregory é conhecido por seu compromisso com questões de justiça social, igualdade racial e por seus esforços para combater o abuso sexual clerical. O cardeal ainda tem defendido fortemente ações contra as mudanças climáticas.
Cardeal Fridolin Ambongo Besungu - República Democrática do Congo
Fridolin Ambongo Besungu, nascido em 24 de janeiro de 1960 em Boto, República Democrática do Congo, é arcebispo de Kinshasa desde 2018. Em 2019, o Papa Francisco o elevou ao cardinalato. Além de suas responsabilidades arquidiocesanas, o cardeal tem se destacado como defensor da paz e da justiça social na RDC.

Existem brasileiros na disputa?
Sim. Dois cardeais brasileiros se encontram entre os possíveis sucessores de Francisco. No entanto, são consideradas remotas as chances de o novo Santo Padre vir do Brasil — ou mesmo da América Latina.
Conheça os brasileiros na disputa:
Cardeal Leonardo Ulrich Steiner
Anunciado pelo Papa como cardeal da Igreja Católica em maio de 2022, Steiner tornou-se o primeiro cardeal da Amazônia brasileira. Nascido em Forquilhinha (SC), ele fez sua profissão religiosa na Ordem dos Frades Menores em 1976, ainda aos 25 anos, e foi ordenado sacerdote dois anos depois. Nomeado bispo em 2005 pelo Papa João Paulo II (1920-2005), ele tomou posse como arcebispo de Manaus em janeiro de 2020, após assumir o cargo ocupado por Dom Sergio Castriani desde 2012.
Bacharel em Filosofia e Pedagogia pela Faculdade Salesiana de Lorena, o cardeal também obteve a licenciatura e o doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum de Roma. Ainda em 2020, ele disse ter considerado sua nomeação para cardeal como “uma expressão de carinho, acolhida, proximidade e cuidado do Papa Francisco para com toda a Amazônia”. Ele também declarou que a colaboração que pode oferecer ao Pontífice é fazer com que a Amazônia seja lembrada.
Cardeal Sérgio da Rocha
Nascido em Dobrada, no interior de São Paulo, o cardeal é mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, também em São Paulo, e doutor pela Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Ele foi professor de Teologia Moral na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1989-2001) e colaborou, em Porto Velho (RO), no Projeto Missionário Sul I / Norte I e na Escola de Teologia Pastoral de São Luiz de Montes Belos.
Antes de assumir a arquidiocese de Salvador, Rocha foi arcebispo em Teresina e em Brasília. Em 2021, Dom Sergio da Rocha foi nomeado membro da Congregação para os Bispos pelo Papa Francisco. A Congregação para os Bispos é um dos principais organismos da Cúria Romana, que cuida da criação das dioceses, da nomeação de bispos, das visitas “ad Limina” e dos encontros de bispos novos. Em 2023, foi nomeado como integrante do Conselho de Cardeais.