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Israel anuncia que criará 22 novos assentamentos na Cisjordânia

Os assentamentos israelenses são considerados ilegais pelo direito internacional e a ONU os denuncia com frequência

Israel anunciou nesta quinta-feira (29) que criará 22 novas colônias judaicas na Cisjordânia ocupada, o que pode provocar uma tensão ainda maior nas relações do Estado hebreu com boa parte da comunidade internacional, já fragilizadas pela guerra em Gaza.

"Tomamos uma decisão histórica para o desenvolvimento dos assentamentos: 22 novas localidades na Judeia-Samaria", afirmou o ministro das Finanças, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, utilizando a designação israelense para o território palestino ocupado desde 1967.

"Esta é uma decisão histórica [...] que mudará a face da região e moldará o futuro dos assentamentos [israelenses] na Cisjordânia nos próximos anos", declarou o ministro da Defesa, Israel Katz, membro do partido conservador do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o Likud.

Desses "novos assentamentos", nove serão criados do zero, segundo informações divulgadas pelo governo. Os outros são 12 postos avançados criados por colonos sem aprovação do governo, que serão legalizados dessa forma. O último, Nofe Prat, é um bairro no assentamento de Kfar Adomim que se tornará istrativamente independente.

Os assentamentos israelenses são considerados ilegais pelo direito internacional e a ONU os denuncia com frequência.

A ONU também os considera um dos principais obstáculos para uma paz duradoura entre israelenses e palestinos, já que impede a criação de um Estado palestino viável.

O movimento islamista palestino Hamas, que governa Gaza e com o qual Israel está em guerra há quase 20 meses, condenou o anúncio israelense e disse que representa "uma grave violação do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas".

O Reino Unido também condenou a decisão de Israel, que classificou como um "obstáculo deliberado à criação do Estado palestino".

A ONG israelense Paz Agora, contrária à colonização, criticou a decisão e afirmou que o governo israelense já não esconde suas ambições de anexação.

"O governo israelense já não finge o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos assentamentos são seu principal objetivo", afirmou a organização em um comunicado.

Para a Paz Agora, esta iniciativa - a maior do tipo desde os Acordos de Oslo, com os quais Israel se comprometeu a não estabelecer novos assentamentos - modificará drasticamente a Cisjordânia e fortalecerá ainda mais a ocupação.

"Herança dos nossos anteados" 
O anúncio de Israel acontece após o enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ter declarado na quarta-feira que tinha "uma impressão muito boa" sobre a possibilidade de uma trégua na Faixa de Gaza após 600 dias de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.

A escalada militar de Israel em Gaza recebe cada vez mais críticas no exterior, inclusive entre os aliados mais próximos do país.

O plano foi divulgado no momento em que a França presidirá no próximo mês, com a Arábia Saudita, uma conferência da ONU que pretende estimular a solução de "dois Estados": Israel e uma Palestina independente e plenamente soberana, vivendo um ao lado do outro em paz.

O governo de Netanyahu, para quem a "criação de um Estado palestino seria uma enorme recompensa ao terrorismo", se opõe com firmeza a esta possibilidade.

Duas das 22 colônias anunciadas, Homesh e Sa-Nur, são particularmente simbólicas. Localizadas no norte da Cisjordânia, são de fato reassentamentos, já que foram esvaziadas em 2005 como parte do plano  israelense de retirada da Faixa de Gaza promovido então pelo primeiro-ministro Ariel Sharon.

Constituído em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema direita, o governo de Netanyahu é um dos Executivos mais à direita da história de Israel.

Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos ou contrárias aos assentamentos, sob o governo de Netanyahu o país avançou mais do que nunca em direção à anexação, ao menos de fato, da Cisjordânia, especialmente desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, a partir da Faixa de Gaza.

Smotrich diz abertamente: "Não tomamos terra estrangeira, e sim a herança de nossos anteados", escreveu na rede social X. "A próxima etapa: a soberania", acrescentou.

Quase 500.000 israelenses vivem em assentamentos na Cisjordânia, entre três milhões de palestinos.

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