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Solidariedade

Jaboatão: empresário abriga vítimas da chuva na sede da própria empresa, no Jordão

Durante as fortes chuvas das últimas semanas, empreendedor recebeu vizinhos que teve casa inundada e decidiu criar o abrigo

O surgimento de lideranças, desde os tempos antigos, se confunde com a necessidade para garantir a sobrevivência. Imbuído de um sentimento de solidariedade e de querer proteger os seus, o empresário Messias Neves dos Santos criou, no espaço da própria empresa, o Abrigo Darik Sampaio, que visa atender e dar e aos moradores da região do bairro de Jardim Jordão, principalmente em épocas de chuva forte, em Jaboatão dos Guararapes. 

Ainda funcionado de maneira improvisada, mas com muita boa vontade de ajudar, o empresário colocou à disposição a sede da sua empresa, durante as fortes chuvas que atingiram a Região Metropolitana do Recife, desde a última semana.  

Mesmo com a empresa funcionando, a Leão do Norte Arquitetura auxiliou no acolhimento de uma família que teve a casa inundada a poucos metros. Mais de 14 pessoas trabalham no local. 

“Na semana ada teve uma chuva muito intensa e uma família aqui próximo precisou de socorro, a casa alagou, a esposa precisou buscar ajuda em Paulista, porque não conhecia ninguém por aqui. Era um casal de jovens, Igor e Geovana, com o filhinho Gabriel, criança ainda de colo”, contou. Durante o tempo em que ficam abrigadas, as pessoas recebem alimentação também fornecida pelo empresário.

Contudo, isso não foi um fato isolado, buscando envolver a comunidade, o empresário demonstrou que recebe as pessoas da comunidade há tempos, inclusive, oportunizando diversos jovens. 

“Aqui é meu negócio e minha casa, mas esse lado de acolher as pessoas vem de antes. Eu abria a casa, temos alguns computadores potentes e internet boa, e aos finais de semana eu abria o local para os jovens daqui”, disse. 

Indo para além de um ato de generosidade, Messias pauta suas ações a partir de tudo que aprendeu no mundo dos negócios e de suas experiências em contabilidade e istração, mostrando que o centros mais periféricos também estão na rota do desenvolvimento.

“Tem um livro de C. K. Prahalad (A Riqueza Na Base Da Pirâmide), que fez uma revolução tremenda na Índia, também Muhammad Yunus, que é banqueiro dos pobres, baseado nessas duas referências, a obra diz que quando o povo está distante dos centros istrativos e políticos, ele se desenvolve mais”, refletiu. 

Retribuição
Mato-Grossense de nascimento e um desbravador de todo território nacional, Messias está em Pernambuco há mais de 15 anos. Aqui disse ter encontrado um local hospitaleiro e de um povo solidário.

“Aqui em Pernambuco, pode faltar água, ou até mesmo internet, mas não vejo faltar solidariedade. Às vezes falta água aqui, o vizinho empresta a mangueira dele. Quando falta internet, e a gente precisa de um serviço pesado, pegamos emprestado dos outros vizinhos da região”, começou. 

“Fui reeducado pelos pernambucanos, nos centros do agronegócio, tem muita gente com dinheiro e não consegue identificar o outro como ser humano. Aqui se dá bom dia ou boa noite, pega a mochila do outro no transporte público, nunca vi isso em outros lugares do Brasil”, revelou. 

Abrigo de chuva Darick Sampaio, no Jardim JordãoAinda de forma improvisada, o Abrigo de chuva Darik Sampaio, no Jardim Jordão, abriga pessoas que foram vítimas das fortes chuvas - Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco 

Assim, o empresário busca retribuir tudo o que recebeu do povo pernambucano através do trabalho e da oportunidade, algo que divide com o presidente da Frente Empreendedora Empresarial do Agro Global (FEEONA), Bruno Luz, no qual compartilha o olhar da necessidade de corrigir as mazelas sociais. 

“Essa empresa começou de uma iniciativa e do espírito associativista que adquiri, participando não só de associações comerciais, mas também do Instituto Atitude, no Mato Grosso, com o projeto ‘Pão Nosso’, onde distribuíamos mais de 12 mil pães para as comunidades. Inspirado nisso, montamos a Frente Empreendedora Empresarial do Agro Global (FEEONA), para justamente trabalhar essas questões”, iniciou a explicação. 

“Isso aqui, nada mais é do que um segmento do que fizemos em outros espaços. E para fazer, o que na linguagem da tecnologia é ‘pivotar’, montamos esse hub, no qual pessoas da comunidade vão prestar serviço.

Homenagem 
O nome do abrigo homenageia a Darik Sampaio, jovem morto por uma bala perdida, durante ação policial em março do ano ado; o filho de Messias, Pedro Dantas, era amigo de Darik e costumava frequentar a empresa nos finais de semana. 

“Quando eu abria a empresa aos finais de semana, o Darik vinha jogar videogame aqui. E um dia, voltando da academia, ele (Darik) estava na frente da escola, um amigo me chamou, nesse instante o menino entrou e eu não consegui ir atrás dele, porque estava fazendo aqui meu ganha-pão. Hoje estou aqui pagando um pouco da minha dor”.

Marcado pelas lembranças e com o sentimento que poderia fazer mais, Messias resolveu tomar uma atitude, lançando luz nas necessidades desses jovens que vivem na periferia.

Amigos de Derick recordam a lembrança do garoto Amigos de Darik recordam a lembrança do garoto - Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco 

“Nessa situação de ter perdido o Darik por 30 segundos, a minha luta aqui é oportunizar garotos, que apresentam suas dificuldades. A luta é essa, tirar as crianças da rua, aprendi isso com Sebastião Barreto Campello, fundador do Pró-criança, ao qual prestei serviço e quando digo que fui reeducado aqui, porque vejo que apesar das dificuldades locais, o ser humano está mais ao centro, diferente de outros lugares”.

Dessa forma, sonha com um futuro em que possamos viver em uma sociedade mais justa e com pessoas que tenham atitude para mudar sua realidade. 

“É uma história de que o povo faz muito mais quando está longe dos centros políticos e istrativos. Acredito que muito dos nossos problemas está no desiquilíbrio de uma sociedade que quer ter sem ser. O poder público pode fazer mais, porém não estou aqui para criticar, estou para fazer, se servir de exemplo, ótimo”.

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