Ministro crê que jovem de 14 anos foi "instrumentalizado" para disparar contra pré-candidato
O senador 39 anos foi submetido a uma primeira cirurgia durante a madrugada de domingo na Clínica Santa Fé, e seu quadro é descrito como de 'máxima gravidade'
Colombianos saíram às ruas neste domingo em marchas pela paz e pela vida, principalmente em Bogotá, Medellín e Calí, um dia após Miguel Uribe, pré-candidato presidencial colombiano da oposição de direita, ser atingido por dois disparos na cabeça e um na perna por um atirador de 14 anos durante um evento de campanha na capital. Segundo comunicado da Clínica Santa Fé, o estado do senador de 39 anos, que foi submetido a uma primeira cirurgia no local, é de “máxima gravidade”.
O ministro da Defesa colombiano, Pedro Sánchez, anunciou neste domingo que mais de 100 oficiais investigam quem está por trás do ataque, cujas motivações ainda não foram determinadas, e ofereceu uma recompensa de cerca de US$ 725 mil por informações sobre o autor intelectual do crime. Para o ministro da Defesa, o adolescente foi “instrumentalizado” por “criminosos” para executar o atentado.
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O atentado, um dos episódios mais sombrios da política colombiana neste século, tornou vívida a memória sobre a história de violência política do país. Em 1948 e entre as décadas de 1980 e 1990, cinco candidatos à presidência foram assassinados. A maioria dos casos envolveu, supostamente, os cartéis do narcotráfico em aliança com outros políticos e agentes do Estado.
De todas as correntes ideológicas, 20 partidos políticos colombianos am uma declaração condenando o ataque, incluindo o Centro Democrático, partido de Uribe e principal movimento de direita do país, e a coalizão governista, o Pacto Histórico, de esquerda. “Este ato de violência não só ameaça a vida de um líder político, como também mina os fundamentos democráticos da nossa nação”, diz o texto. “Reiteramos nosso compromisso com uma Colômbia onde as diferenças sejam resolvidas por meio do diálogo e da argumentação, não com armas”, instaram.
Maria Claudia Tarazona disse neste domingo que seu marido, que está em uma UTI, luta “arduamente pela vida”. Mais cedo, o prefeito da capital, Carlos Fernando Galán, afirmou que o senador havia entrado nas “horas críticas” para garantir sua sobrevivência após ter sido submetido a um “procedimento neurocirúrgico” e outro “vascular periférico” na coxa esquerda.
Em outubro, Uribe anunciou a pré-candidatura à Presidência em 2026, no pleito que definirá o sucessor de Gustavo Petro, de quem é um dos maiores opositores. Para ser candidato do Centro Democrático, ele precisará superar dois nomes importantes próximos ao ex-presidente Álvaro Uribe, que, apesar do sobrenome, não é seu parente.
‘Pelas costas’
Vídeos publicados nas redes sociais mostram o político durante um discurso de campanha diante de várias pessoas quando tiros são ouvidos. Segundo o Centro Democrático, o senador foi atingido “pelas costas”. Em outras imagens, ele aparece deitado sobre um veículo, com o corpo ensanguentado e apoiado por um grupo de homens.
A polícia afirma que o atirador abriu fogo cerca das 17h30 (20h30 de Brasília) do sábado durante um evento organizado na zona oeste de Bogotá. O suspeito foi capturado por membros da equipe de segurança de Uribe e está ferido em uma perna, informou a polícia. Segundo uma averiguação inicial, ele não tem antecedentes. Outras duas pessoas que estavam no evento sofreram “lesões”, e uma arma de fogo do tipo Glock foi apreendida.
— Mais de 100 investigadores foram enviados juntamente com a procuradoria-geral da República e toda a comunidade de inteligência para descobrir o mais rapidamente possível quem está por trás desses eventos — disse o ministro da Defesa após uma reunião com Petro, ministros e comandantes graduados da polícia e do Exército.
No sábado, Petro pediu uma investigação minuciosa que comece pelos seguranças de Uribe, pois “todas as hipóteses estão abertas”.
As autoridades informaram que não havia nenhuma ameaça específica contra o político, um crítico veemente da esquerda, das guerrilhas e do narcotráfico, antes do crime. Como muitas figuras públicas no país, Uribe contava com proteção pessoal próxima.
Repercussão
O atentado foi condenado em todo o espectro político e também no exterior. Personalidades da direita colombiana, como o ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), culparam Petro por supostamente “semear o ódio” e “incitar a violência” contra a oposição.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, atribuiu o ataque à “retórica violenta da esquerda” e pediu a Petro para “moderar seu discurso incendiário”. Sem mencionar nomes, Petro afirmou que tais declarações são “oportunistas”. Nos protestos de domingo, era possível ver faixas e cartazes pedindo a renúncia do presidente colombiano.
O escritório da ONU na Colômbia condenou “firmemente” o atentado: “Confiamos que as autoridades esclarecerão e punirão o ocorrido.” Os governos de Brasil, Chile, Equador, México e a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, também repudiaram o ataque.
À Associated Press, Elizabeth Dickinson, analista de segurança do Crisis Group, disse que o ataque foi um retrocesso a uma época “em que a violência se converteu em ferramenta política nos mais altos escalões”. O mandante, disse, “claramente tinha a intenção de agitar o país”. O incidente assustou, acrescentou, porque evidencia um ciclo recorrente de violência “mesmo dentro de famílias que sofrem suas consequências há décadas”.
Perda da mãe
Em 25 de janeiro de 1991, Uribe, que na época tinha quatro anos, perdeu sua mãe, a famosa jornalista Diana Turbay, durante uma viagem na qual supostamente entrevistaria um líder com exclusividade.
Entretanto, a entrevista era uma armadilha de Pablo Escobar, que a manteve sequestrada como mecanismo de pressão para evitar a extradição de traficantes colombianos para os EUA. Durante uma confusa operação de resgate, Urbay morreu e deixou órfãos Miguel e sua irmã María Carolina.
Os fatos são narrados pelo Nobel de Literatura Gabriel García Márquez no romance "Notícia de um Sequestro", que inclui uma menção ao pequeno Miguel durante a angustiante espera de cinco meses entre o sequestro e a morte.
Em uma entrevista à revista Bocas, em 2021, Uribe disse que perdoou todos os envolvidos no crime.
— A reconciliação é a única coisa que ajuda a dar o próximo o e superar um momento tão difícil.
Integrante de uma família com história na política colombiana — seu avô Julio César Turbay foi presidente entre 1978 e 1982 — Uribe estudou em uma das melhores escolas de Bogotá, formou-se em Direito e fez mestrado na Universidade Harvard.
Ele foi vereador de Bogotá, secretário de governo e candidato à prefeitura da capital. Em 2022, foi eleito senador pelo partido de direita Centro Democrático e, no ano ado, anunciou que disputaria a Presidência.