Cultura organizacional robusta é crucial para longevidade das empresas
Minha irmã é dermatologista. A convivência me ensinou que, por melhores que sejam cremes e loções, a pele saudável depende da vitalidade do próprio organismo. Da mesma forma, a maquiagem até esconde manchas e cicatrizes — mas não as elimina: se derreter com o suor, deixará as imperfeições ainda mais evidentes.
Em uma empresa, a pele é a marca, e a cultura organizacional faz as vezes da vitalidade interior. Marcas que refletem uma identidade sólida, pautada em valores genuínos e alinhados a práticas sustentáveis, têm sua saúde alimentada pela integridade. Elas são, de fato, o que parecem ser: mesmo sob a mais inclemente das temperaturas, não há ali maquiagem para derreter sob o sol.
Essa integridade não se limita ao cumprimento da lei, ao tratamento justo e equânime dos funcionários e à atuação ética. Ela pertence àquelas empresas que, mais do que cumprir suas promessas, têm a profunda coragem de olhar "para dentro" e, assim, não se desviar de si próprias. Essas organizações constroem, pelos atos que refletem seus valores, uma reputação que, mais do que conquistar a preferência dos clientes, é brindada com sua lealdade.
Não à toa, a cultura organizacional se firmou como diferencial estratégico para a longevidade de empresas que atravessam gerações. Enraizada em valores genuínos, garante uma "vitalidade interna", que alimenta e fortalece as decisões estratégicas. E isso faz com que marcas centenárias não apenas sobrevivam, mas prosperem em cenários de mudanças econômicas, tecnológicas e sociais.
No Brasil, temos diversas empresas centenárias em diferentes setores. Em comum, são reconhecidas pela capacidade de adaptar seus negócios a novas necessidades de seus mercados sem perder de vista os valores que lhes dão sustentabilidade. É o que lhes permite inovar, mantendo sua excelência e credibilidade, ao mesmo tempo em que criam conexões duradouras com os consumidores.
A longevidade dessas empresas nacionais e também das estrangeiras de perfil similar não é fruto do acaso, mas de uma disciplina contínua em honrar seus princípios fundadores, mesmo diante de pressões externas. Essa integridade organizacional vai além da conformidade regulatória e dos códigos de conduta: trata-se de um comprometimento autêntico com a missão e os valores que moldaram suas histórias.
No campo oposto, estão as que partem para o "greenwashing" e o "woke washing" - e que, pasme, podem ser igualmente longevas. Mas, com consumidores cada vez mais atentos e críticos, colocam a reputação em risco ao simular comportamentos que, de fato, não estão incorporados em suas operações. Cedo ou tarde, acabam expostas.
Caso de uma gigante mundial de alimentos ao afirmar que suas embalagens seriam 100% recicláveis até 2025. Mas relatórios independentes apontaram que o progresso era insuficiente para alcançar essa meta. Outra, líder global de bebidas, adotou uma narrativa da reciclagem, mas consistentemente é apontada pelas auditorias globais de resíduos como uma das maiores poluidoras de plástico do planeta.
Essas – e muitas outras – acabaram expostas pelo fato de sustentabilidade e integridade serem resultado de uma cultura organizacional robusta e genuína, e não de campanhas de marketing.
Assim como a pele saudável reflete um organismo funcionando perfeitamente, a longevidade de uma empresa é alimentada por uma cultura sólida, que transcende modismos e se adapta aos tempos sem trair seus princípios. São organizações que constroem, ao longo de décadas — e até séculos —, uma reputação que não se dissolve sob o calor das crises. Elas são, de fato, o que parecem ser: genuínas, resilientes e perenes.
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