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opinião

Das muitas vitórias de Zé Neves uma mora para sempre no coração do Santa Cruz

Na vida, construímos pontes, castelos, fortalezas. Fortunas e fama, às vezes. Mas nada se compara à amizade verdadeira. Claro que, na dinâmica da vida, nem sempre os verdadeiros amigos compartilham frequentemente o pão e o vinho. Porém, em nenhum dia, deixam de compartilhar a comunhão dos espíritos e das boas lembranças. Tenho a fortuna de ter vários amigos assim. Não vou citar para não cometer omissões. Hoje, quero homenagear um dos mais longevos e queridos. Um cara que não é perfeito, como todos os humanos, mas é querido, por uma legião de iradores. Como só os seres muito especiais alcançam ser.

75 anos

Levei meu abraço pela chegada dos primeiros 75 de Zé Neves. Uma comemoração sensacional, onde a alegria transbordava do coração de cada um dos que compartilharam o mágico momento. Conheci Zé Neves no primeiro dia de aula da Faculdade de Direito, em 1979. Com quase todo mundo já sentado no anfiteatro, porém antes ainda do início da aula, chega Zé. Aquela pessoa alta, agitada, girando a cabeça como um periscópio, procurando duas bancas vazias juntas. É que arrastava pela mão a doce Terezinha, a companheira de sempre, a perfeita tampa para tão complexa a.

Amizade

Nem lembro como, tão diferentes, ficamos amigos. Zé, sem nenhum traço de esquerdista, cultivava a democracia. Fez parte do time que escrevia no legendário Jornal Reflexo, que desafiava a censura dos militares, publicando o nome de cada responsável ou articulista. E não foi por coincidência que Dionary Sarmento, Leonardo Cavalcanti e eu, os responsáveis pela publicação, fomos bater no terrível Doi/Código, das inevitáveis torturas e muitos assassinatos. Registro isso para ressaltar a coragem cívica de Zé. Os perigos eram reais e imediatos. E ele nunca vacilou na sua arriscada colaboração pela reconquista da liberdade.

Santa Cruz

Pulando no tempo, em 1985 o Santa Cruz estava completamente arrasado. Fundo do poço financeiro. No meio da crise, Zé topou assumir a presidência. Tínhamos um grupo articulado na política do Santa. Fechamos com ele. Tácio Maciel nos representava como vice. Nos matamos de trabalhar, mas sob a liderança ousada de Zé, superamos tudo, por cima de muitos paus e milhares de pedras. Fomos campeões em 1986, Sylvio Belém à frente do futebol. Foi nesse ano que Zé fincou a bandeira tricolor em plena Ilha do Retiro.

Fato simbólico, inédito e irrepetível. Que até hoje enche de orgulho o peito sofrido dos santacruzenses. Caprichos do destino. Fomos bi, com Gildo Vilaça e eu formando a dupla de dirigentes de futebol. A minha vida esportiva podia parar por aí. Era a consagração. A torcida do Santa sempre foi diferenciada. Desde sempre o time querido da multidão. Mas, justiça se faça, foi naqueles tempos de Zé Neves que a garra e o amor às três cores ganharam dimensão inigualável no cenário mundial. Segue o líder. Na alegria e na tristeza, nunca vou te abandonar. Tudo isso, mantendo a boa convivência, o respeito, a amizade das outras torcidas, que não são adversárias, são coirmãs.

De lá para cá

Muitos episódios aconteceram. Há muito o que contar. Por hoje, paro na frase 'Presidente Campeão Arretado', que os amigos encomendaram para um outdoor, registrando o feito de 1987.

Viva Zé.

Campeão arretado.

No futebol e na vida.


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