Emoção política. E racionalidade essencial
A política emociona. Desde os discursos de Joaquim Nabuco no Teatro Santa Isabel. Em favor do abolicionismo. Em 1886. Até a vibração do então governador Nilo Coelho, inaugurando o sistema de barragens do Pontal, no Sertão do São Francisco. Na sua gestão, 1967-71.
A emoção na política vem do dizer. E do fazer. A emoção do dizer está no compromisso. No vínculo que se cria entre o político e a cidadania. Quando o agente público vai ao ar e assume a responsabilidade do que pregou. E a emoção do fazer está na entrega. No ato de cumprir o prometido. No gesto de coerência entre o dito e o feito.
Estive presente em Petrolina quando Nilo Coelho fez a entrega. Barragens. Água. Para irrigar. E para beber. Num dia maravilhoso de verão brabo. Em que o sol armorial deitava calor até a alma. A certa altura, o ex-governador, emocionado, disse; “E é daqui, desta canícula feita de suor e obstinação, que vamos inundar palmos de terra para que o sertanejo produza cada vez mais”.
A genialidade de Montesquieu, na tripartição dos poderes do Estado, em Executivo, Legislativo e Judiciário, de 1786, existe até hoje. É uma construção institucional que confere à política as condições objetivas para alcançar seus objetivos. Mas a função estatal não se esgota no mecanismo puro da lei. Ela precisa da política. Do entendimento. Da conversa. Da negociação. Inspirada na cooperação. E batizada no interesse público.
O episódio recente da emenda que altera a destinação do empréstimo negociado pelo governo estadual merece reflexão por parte da política pernambucana. Os recursos seriam orientados principalmente para construir o Arco Metropolitano. Elemento essencial para a mobilidade do transporte no Grande Recife. O projeto foi emendado para destinar metade dos recursos para municípios. Comprometendo a execução do projeto original.
Não se trata, aqui, de inventariar as razões segundo as quais chegou-se a este ponto. Mas trata-se de olhar o futuro. Pela ótica do interesse superior da comunidade pernambucana. Os níveis de interesse do estado, no caso, alcançam três considerações. A primeira consideração é econômica. Pernambuco disputa, hoje, com Ceará e Bahia, um conjunto importante de investimentos que determina a criação, ou não, de estágio de crescimento diferenciado. O Arco Metropolitano é parte desse esforço.
A segunda consideração é institucional. Na perspectiva do processo orçamentário. E de alocação de recursos públicos. Ao Executivo compete definir prioridades. Na lógica de um planejamento que requer fixação de prioridades, controle e avaliação. E ao Legislativo cabe analisar os projetos-de-lei conforme sua constitucionalidade e legalidade. E não alterar a finalidade do projeto. A ponto de inviabilizar sua execução.
A terceira consideração é política. Pernambuco é uma escola do pensar. E do unir. Gervásio Pires Ferreira reuniu a província para dialogar, no Império, com D. João VI. Agamenon Magalhães congregou forças políticas para lidar com Getúlio Vargas. E trouxe para Pernambuco, na República Velha, os ministérios do Trabalho e da Justiça. Marco Maciel e Roberto Magalhães aliaram-se a Tancredo Neves para consolidar e redemocratização do país em 1985.
Está na hora de fazer a alta política. E mostrar que Pernambuco sabe resolver seus problemas com a eficácia da racionalidade.
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