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OPINIÃO

Eternos Narcisos, reflexos de si, são acenos breves

Noventa dias foram suficientes. Para Trump desmontar uma ordem econômica. Vigente desde 1945. Com desvalorização trilionária. Das big techs. Aliadas do primeiro momento. Podem não chegar à undécima hora. Nascituros de uma oligarquia plutocrata. O que vai acontecer agora? Êxito ou fracasso?

Proponho dois cenários para horizonte de seis meses. Cenário 1, êxito da política tarifária de Trump. Cenário 2, fracasso da política tarifária de Trump.

No cenário 1, item-se as seguintes hipóteses: a) Submissão da maioria de países à imposição tarifária de Trump; b) Surgimento de poderosa oligarquia integrada pelos plutocratas da tecnologia, influindo sobre o poder político; c) Afirmação de uma ordem econômica desregulada, sem mediação de órgãos colegiados como a Organização Mundial do Comércio – OMC; d) Acento autoritário do eixo Estados Unidos e Rússia.

Neste cenário, prevê-se a formação de um polo de poder de natureza autoritária, liderado por norte-americanos e russos. Com enfraquecimento das organizações de decisão compartilhada, a partir da ONU. Declínio da participação de países de tom liberal. E crescente presença de estilo de governança autoritário. Uma combinação bem ao modo de Trump e Putin.

No cenário 2, item-se as seguintes hipóteses: a) Aumento da taxa de inflação mundial, inclusive de países como Estados Unidos, por conta do custo fiscal do tarifaço; b) Elevação da taxa de juros para combater a inflação insurgente: c) Redução da taxa média de crescimento do PIB pela diminuída atividade econômica dos países; d) Queda dos números de aprovação a Trump diante da instabilidade política; e) Redução do tamanho e influência global dos Estados Unidos pelo menor volume de trocas comerciais do país.

Neste cenário, prevê-se a formação de um polo de poder de natureza liberal, liderado por países da Europa, como Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Espanha, Suécia, Dinamarca, Noruega. Neste polo deve situar-se um país não-liberal: a China.

Estima-se, portanto, novo realinhamento de alianças globais. De um lado, Estados Unidos e Rússia. De outro lado, a Europa liberal e a China. Entre esses polos de poder, imagina-se papel estratégico, com movimento pendular, promovido pelos integrantes do BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Além dos membros associados recentemente. Note-se que, no BRICS, encontram-se Rússia e China, situados em polos diferentes de poder. O que pode facilitar o diálogo político e comercial entre os blocos.

ite-se que os cenários de êxito ou de fracasso de Trump vão depender de três variáveis: duas variáveis econômicas, a taxa de inflação e a taxa de crescimento do PIB norte-americano. E uma variável política, a taxa de (des)aprovação ao governo Trump. Se as taxas de inflação e de juros se mantiverem estáveis, e se a taxa de aprovação de Trump continuar alta, deve ocorrer o cenário 1, de êxito de Trump. Ao contrário, se as taxas de inflação e de juros se elevarem, e se a taxa de aprovação de Trump cair, deve se concretizar o cenário 2, de fracasso de Trump.

Em qualquer das duas hipóteses, o Brasil vai sair ganhando na guerra tarifária: porque vai ser aberta uma avenida chinesa de venda de commodities. Substituindo o produto norte-americano tarifado. E vai ser reaberta a negociação para fechar o acordo Mercosul-União Europeia. De modo que os consumidores europeus possam consumir bens de menor tarifação.

Narciso acha feio o que não é espelho. São entes sem capilaridade afetiva. Tornam-se breves.   


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