Milagres dos peixes
Os livros de Marcos e Mateus trazem a história do milagre dos pães e peixes. De acordo com os evangelhos, uma multidão se ajuntara e estava seguindo Jesus. O evento teria acontecido no Mar da Galileia (também conhecido como Lago de Genesaré), em Israel. Ele chamou os discípulos e disse: - "Tenho compaixão deste povo, porque há três dias que estão sempre comigo e nada têm que comer. Não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho". Cinco pães e dois peixes foram multiplicados e mais de 5.000 pessoas foram alimentadas. Algumas versões dizem que sobraram sete, outras que sobraram doze cestos.
Em 1973, quando quase tudo precisava de liberação para ir a público, o álbum “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, recebeu várias “canetadas”. Das onze faixas do disco, cinco foram pensadas para serem apenas instrumentais (o número foi elevado para oito); três letras foram vetadas praticamente em sua integridade; “Os escravos de Jó” e “Hoje é dia de El-Rey” sofreram cortes; “Cadê” foi vetada na íntegra.
Além da faixa título, duas não sofreram cortes: “Sacramento” e “Pablo”.
Os milagres produziram resultados, dos mais variados. O dos peixes, o primeiro, no Mar da Galileia, deixou milhares de pessoas satisfeitas, felizes e impressionadas com o poder de transformação do Filho de Nazaré. O outro, na década de 70, também produziu transformações (boas e ruins), mas não impediu a beleza do produto final que é, hoje, raríssimo, elogiado pelo mundo inteiro. Segue a vida...
O mundo de hoje a por situações semelhantes aos “milagres”, em vários sentidos. Começo com a Inglaterra. Li, em artigo de Vilma Gryzinski, que uma cidadezinha inglesa, Grimsby, com 88 mil habitantes, vive situação ímpar: 53% dos adultos não trabalham, 33% estão sob licença médica e 11% estão desempregados. Somou? – 97%!
Não precisamos ter inveja dos ingleses. Cá, é pior. Dos 27 estados brasileiros,12 têm mais beneficiários de bolsas que trabalhadores CLT. Os casos mais críticos estão no Norte e Nordeste do País. O “campeão” é o Maranhão: 659 mil com carteira assinada e 1.224 recebendo bolsa-família. Essa relação provoca, de imediato, falta de apetite para o batente (trabalhar pra quê?), ausência de investimento, ócio generalizado, diminuição da expectativa de vida etc.
Por enquanto, ainda dá para colocar o lixo pra debaixo do tapete. O problema maior virá daqui a alguns anos, quando chegar a hora de pagar as aposentadorias de todo esse pessoal (contribuintes e bolsistas): não vai ter grana! E é aí que a porca vai torcer o rabo, o focinho e as orelhas. Teremos que achar a fórmula que multiplicou pães, peixes e – quem sabe? - picanhas.
* Executivo do segmento shopping centers ([email protected]).
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