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OPINIÃO

O doce Sebastião Salgado

Mais uma vez os terríveis “Novos Tempos” que estamos atravessando, levaram o nosso Sebastião Salgado a se envergonhar de pertencer ao gênero dito humano e ir embora, como um verdadeiro sacrifício pessoal em nome da humanidade, como resposta aos cruéis e desumanos donos do mundo e seus fieis seguidores indiferentes ao sofrimento alheio, de gente, dos bichos e da natureza, cujos nomes e sobrenomes não precisam, nem merecem sequer serem citados, pelo perigo que representam à vida na Terra como se fossem seres sobrenaturais, donos da verdade absoluta acima da conveniência de tudo e de todos.

O grande Sebastião Salgado, nos faz lembrar seu divino homônimo São Sebastião, mártir romano do século III, venerado na Igreja Católica e outras religiões cristãs, como protetor contra pestes, guerras e fome, oposto de tudo que enfrentamos hoje, no tratamento dispensado aos seus semelhantes pelos monstros do séc. XXI.

A obra de Sebastião nos deixa um dos mais importantes legados de alerta a humanidade, ele não nos deixou, continua presente na sua mensagem, como verdadeiro fenômeno, suas fotos tinham vida, som, cor, movimento, emanavam, explodiam nas manifestações de tristeza, alegria, medo, perplexidade, fossem gente, flora ou fauna, falavam, sentiam, interagiam com o espectador.

Ambientalista, sociólogo, foto jornalista, antropólogo, dotado de talento extraordinário, documentou a existência terrena, lembro-me de fantástica matéria sobre a Amazônia, em conjunto com o repórter Ubiratan de Lemos, publicada na década de setenta na Revista “O Cruzeiro”.

Não podemos deixar de registrar a fundação do Instituto Terra, quando replantou a vida junto com sua eterna companheira Lélia Salgado, reflorestando a Fazenda Bulcão, na propriedade da família em Aimorés no Vale do Rio doce, Minas Gerais.

A retirada de Sebastião do contexto dos vivos é lacuna de difícil reparação que nos permita encontrar nos rincões do mundo, quem possa herdar, sua inestimável contribuição à paz, a esperança, a solidariedade, a compaixão para com o próximo, quem sabe se essa não seria uma mensagem apropriada para abertura da COP30, destacando a iniciativa a partir do anfitrião Brasil, tão carente que está de acontecimentos que nos orgulhem, nos destaquem no anonimato global.

Finalmente, a despedida de nós brasileiros na homenagem à Sebastião Salgado, não cabem num minuto de silêncio, nem em horas, nem em dias, até mesmo porque sua obra em preto e branco, são coloridas não praticam o silencio, falam, ei pessoal alegria! Vida! 

Fica o recado do bem, se contrapondo ao diuturno dissabor do convívio com tanta estupidez, crueldade, ignorância máxima, enfeitada de caras e bocas, trejeitos ridículos que os imbecis dos “Novos Tempos” tem nos servido, dentro e fora de casa.

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