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OPINIÃO

O futuro de Lula em números

Os números da mais recente pesquisa Datafolha, corroborados pelo levantamento da CNT, revelam um cenário incontornável: o terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha para um ocaso sem brilho, marcado pelo desencanto e pela perda de sintonia com a sociedade. Entre todos os estratos populacionais, a debandada dos jovens de 16 a 24 anos se impõe como o dado mais eloquente da erosão de sua popularidade. Com apenas 13% de avaliação positiva entre esse público – uma queda impressionante de 69 pontos percentuais em relação ao final de seu segundo mandato –, Lula assiste à fragmentação de um eleitorado que um dia lhe garantiu um dos mais expressivos ciclos de hegemonia política na história recente do Brasil.

O contraste entre três momentos-chave é inquestionável. No final de 2003, ainda em sua primeira experiência presidencial, Lula possuía 44% de aprovação entre os jovens, enquanto 42% avaliavam seu governo como regular e apenas 13% expressavam rejeição. O ápice viria em 2010, ao final de seu segundo mandato, quando 82% dos jovens avaliavam seu governo como ótimo ou bom, um patamar raramente alcançado por qualquer líder democrático. No entanto, em 2025, o cenário se inverteu: o percentual de aprovação despencou para 13%, enquanto a reprovação atingiu 45%. O que explica essa inversão radical de expectativas?

A resposta reside na desconexão entre Lula e a nova geração. O presidente, que no ado encarnava uma esperança renovadora para jovens trabalhadores e estudantes, hoje exibe ideias que soam ultraadas e não dialogam com os desafios imediatos de quem busca oportunidades em meio à revolução digital e às transformações globais. Os temas que dominam sua retórica permanecem ancorados em debates do século ado, distantes de um público que se preocupa com questões como a aceleração da inteligência artificial e a inserção no mercado de trabalho do futuro.

Outro fator decisivo para essa ruptura geracional é o fato de que a universidade brasileira está em crise, ao mesmo tempo em que o diploma perdeu parte de seu valor no mercado de trabalho. Se, em 2010, o o ao ensino superior era visto como um aporte para ascensão social, em 2025, os jovens não enxergam mais esse caminho como garantia de futuro.

Acima de tudo, Lula e seu governo estão sem projeto. A essa altura do jogo, não surge nenhum plano que possa revigorar sua gestão. Sua aceitação iva da eleição dos novos dirigentes do Congresso indica que ele sequer tenta recuperar a força presidencial sobre o orçamento da União. O líder que sobreviveu a escândalos, processos e derrotas eleitorais apostou na própria permanência, sem pavimentar uma sucessão ou promover a renovação política. Paralelamente, o PT, seu partido, envelheceu junto com Lula, não se renovou e não preparou novos nomes. Optou-se pela conveniência de manter em campo seu líder de massas.

Lula deveria ter saído no auge, como tanto gosta de alegorias de futebol: a exemplo de Pelé, poderia ter encerrado a carreira no melhor momento. Ou poderia ter se recolhido da política, como fez Fernando Henrique Cardoso, preservando assim o legado de sua popularidade de 82%. Em vez disso, a insistência na continuidade rendeu processos, prisão, desgastes e tem conduzido a um final melancólico.

Como agravante, pesquisas recentes indicam que a maioria dos brasileiros não deseja ver Lula em uma nova disputa eleitoral. Segundo um Ipec divulgada em 15 de fevereiro, 62% dos entrevistados defendem que o presidente não se candidate à reeleição em 2026. Em 2022, quando Lula venceu Bolsonaro, o então presidente ostentava índices de aprovação superiores aos de Lula hoje, o que ressalta a fragilidade da posição atual de Lula. Diante de um governo que se arrasta para seu último biênio sem vigor e de uma saúde cada vez mais frágil, a possibilidade de Lula estar na corrida de 2026 torna-se praticamente inexistente.

Assim, a era Lula termina em clima de desalento. Falta perspectiva de vitória e, pior, já se desenha um cenário de fim de governo, mesmo com quase dois anos pela frente. Cabe ao presidente, se almeja algum resgate histórico, agir como um estadista e lançar um amplo programa de apoio à juventude, de modo que ela possa enfrentar os desafios da nova era. Esse gesto final, valorizando as próximas gerações, seria capaz de deixar algum legado e propor uma reflexão: até que ponto um líder pode se reinventar quando as circunstâncias já parecem ditar o seu desfecho?


* Cientista político, professor da UFPE.

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