Saudosa monarquia
“Oh quarta-feira ingrata, chega tão depressa só pra contrariar”, depois da trégua que mais uma vez nos foi presenteada pelo grande Rei Momo, que se despede prometendo voltar com mais força no emblemático 2026, para nos ajudar na restauração da esperança por dias melhores sob a égide da pacificação do país.
Elemento de união nacional, que segundo o frevo "carnaval só tem três dias, nasceu no Céu, foi os anjos quem inventou”, sempre funcionou como poderoso analgésico para as tensões político-ideológicas que assolam a nação, tão importante que vem sendo ampliado para a semana pré e pós-carnavalesca.
Com efeito, sua majestade Momo acompanhado do seu primeiro escalão, o Galo da Madrugada, da Mulher do Dia, do Papa Angu, dos Caboclinhos e outros ministros, restauraram com alegria, extrema irreverência e aliviada descontração, Olinda e seu filho primogênito Recife, como a capital do Brasil, fazendo parte do decreto real, a rigorosa observação da paz, da solidariedade, dos beijos e abraços, curtindo o privilégio de ser brasileiro, misturando como pano de fundo musical, o frevo, patrimônio imaterial do Recife declarado pela UNESCO, o samba, o axé, o carimbó e muitos outros.
Embora o frenesi carnavalesco às vezes se assemelhe a uma verdadeira explosão de loucura coletiva, é saudável sob todos os aspectos, para os que gostam e até mesmo para os pouco festivos, que reconhecem o fenômeno como marca registrada internacionalmente como “Made in Brazil” um verdadeiro bálsamo para todos, todas e todes como manda a nova nomenclatura de gênero.
Percebemos na coleção de registros históricos, que parte das alegorias, ritmos e figuras do carnaval do Brasil, tiveram origem no ado em costumes importados, alguns trazidos por estrangeiros misturando estratégias de conquista com o gosto popular, a exemplo do “Boi Voador” do conquistador holandês Maurício de Nassau no século XVII, por coincidência, no evento de lançamento da ponte projetada a época, onde hoje de instala todos os anos o nosso “Galo da Madrugada”, como também os “Papa Angus” de Bezerros, inspirados nas figuras do milenar carnaval de Veneza, festa instituída em 1094, ou do “Entrudo” brincadeira de carnaval trazida da Índia pelos portugueses, os “Caboclinhos de Lança” de origem africana, surgindo através dos escravizados em meados do século XVIII, o “Samba” que vem da expressão africana “semba” ou umbigada, dança de roda.
Por tudo isso não é à toa que o carnaval se instalou e consolidou-se no Brasil como elemento vital, é parte de nosso DNA ancestral, pronto para nos socorrer nos momentos mais delicados como válvula de alívio e pressão para a caldeira de problemas político- ideológicos não explodir, “as águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu o a mão na saca, saca, saca-rolha. E bebo até me afogar, deixa as águas rolar ...”
* Consultor empresarial ([email protected]).
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