Paz na Ucrânia: Amorim defende, em reunião no Brics, que negociações sejam multilaterais
Representantes do Brics serão recebidos nesta quarta-feira, pelo presidente Lula
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, defendeu, nesta quarta-feira, a participação de outros atores na negociação para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ao abrir a reunião de assessores de segurança nacional do Brics, Amorim disse que vê como positivas as iniciativas para pôr fim ao conflito, mas afirmou que, em algum momento, as discussões devem ser multilateralizadas.
— Há um ano, Brasil e China propam os Entendimentos Comuns de Seis Pontos sobre a guerra na Ucrânia. O Grupo de Amigos para a Paz, lançado em Nova York em setembro, é uma plataforma que pode ser usada para contribuir com as negociações — disse.
Desde que voltou à Casa Branca, no início deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, buscou assumir o protagonismo para uma negociação de paz. Trump conseguiu avançar nas conversas, mas até o momento não conseguiu solucionar o conflito, ou encaminhar uma resolução.
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'Ordem internacional anárquica'
Aos assessores de segurança nacional dos 11 países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã), Amorim ressaltou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levará uma mensagem de paz em visitas que fará, nos próximos dias, à Rússia e à China. Lula receberá, na tarde de hoje, os representantes do grupo no Palácio do Planalto.
Amorim defendeu uma nova ordem multipolar, baseada no direito internacional, no respeito mútuo e na convivência pacífica. Sem isso, alertou, haverá uma regressão para uma "ordem internacional anárquica".
— Não queremos regredir para uma ordem internacional anárquica. Tampouco nos interessa um mundo unipolar, nem desejamos uma nova Guerra Fria — disse.
Sem citar a política protecionista de Trump e o ime entre EUA e China, causado pela elevação de alíquotas de importação, Amorim afirmou que a guerra de tarifas "ameaça de morte o sistema multilateral de comércio".
—As cadeias globais de produção correm sérios riscos, gerando incertezas que afetam as expectativas de renda e prosperidade de nossas populações.
Ele destacou o acirramento das tensões entre os países, cujas regras de convivência estão sendo "abertamente ignoradas".
Disse que, em 2024 os gastos militares globais atingiram o nível recorde de US$ 2,46 trilhões, enquanto os recursos para atender a necessidades como o combate à fome e à miséria e à mudança do clima são insuficientes.
O assessor internacional e ex-chanceler de Lula nos dois primeiros mandatos também citou o conflito no Oriente Médio que, se seu ver, tem potencial de desencadear uma nova guerra mundial. Desde outubro de 2023, após ataques do grupo terrorista palestino Hamas a Israel, a Faixa de Gaza vem sendo totalmente destruídas, com a matança de milhares de civis, especialmente mulheres e crianças.
— As matanças indiscriminadas e o bloqueio à ajuda humanitária chocam a consciência da humanidade. É preciso resgatar uma solução justa que devolva ao povo palestino a esperança de uma vida segura e pacífica. Apoiamos todos os esforços, em particular os dos países da região, nas negociações de cessar-fogo em Gaza que possibilitaram trocas de reféns e prisioneiros — afirmou.
O uso da Inteligência Artificial foi outro tema citado por Amorim. Ele disse que o uso desse instrumento para fins militares já é uma realidade e defendeu que sejam respeitados os direitos humanitários.
— A supervisão humana sobre o uso de armas autônomas é essencial para evitar vieses e erros. A responsabilidade pela morte de inocentes não pode ser transferida para as máquinas.
Disse que a polarização política é agravada pela desinformação que se espalha pelas redes sociais e estimula movimentos de extrema direita. Segundo ele, é preciso restaurar a confiança na democracia e reparar o "esgarçamento do tecido social".
— Grandes empresas de tecnologia não podem desrespeitar a soberania dos países sob o falso pretexto de defender a liberdade de expressão.