Ronnie Lessa e Cristiano Girão são condenados à pena máxima por duplo homicídio
Ex-vereador teria contratado o ex-PM, réu também no caso Marielle, para executar um rival na disputa por territórios
O ex-PM Ronnie Lessa e o ex-vereador Cristiano Girão foram condenados a pena máxima por um duplo homicídio ocorrido em 2014, na Gardênia Azul, Zona Oeste do Rio. O julgamento, iniciado na tarde de quarta-feira foi realizado pelo 3º Tribunal do Júri, comandando pela magistrada Tula Correa de Mello. Pela decisão, Lessa responderá por 90 anos de prisão e Girão por 45, ambos em regime fechado e sem direito a recorrer em liberdade. Os dois, que já estavam presos, devem cumprir 30 anos, que é a pena máxima itida no país.
De acordo com a denúncia, Lessa teria sido contratado pelo ex-vereador para executar um rival do contratante, o ex-policial André Henrique da Silva Souza, o Zóio. Zóio e sua mulher, Juliana Sales Oliveira, foram executados após sofrerem uma emboscada. O casal estava num carro em movimento quando foram alvos dos disparos, feitos de outro carro. A comunidade em que o crime ocorreu é o local onde Girão, que também é ex-bombeiro, é suspeito de comandar uma milícia.
Um dos trechos da decisão ponta que "os crimes foram cometidos por recurso que impossibilitou ou dificultou a defesa da vítima, visto que foram atacadas de inopino no interior do automóvel, fato que as privaram de qualquer chance de defesa e/ou fuga". A sentença lembra ainda a alta capacidade lesiva do autor do delito, que fez mais de 33 disparos de fuzil AK-47 e AR-15contra as vítimas.
Leia também
• PGR pede condenação de Chiquinho e Domingos Brazão
• Caso Marielle: Moraes mantém prisão de Brazão e Rivaldo Barbosa
• Ronnie Lessa é investigado pela PF por mais de uma dezena de assassinatos nos últimos 20 anos
"Isso por si só se trata de tamanha desproporcionalidade em relação às vítimas desarmadas, além de demonstrar-se uma afronta direta ao Estado do Rio de Janeiro organizações criminosas terem em sua posse armas de grosso calibre, utilizadas em contexto de guerras como da Ucrânia e Rússia, utilizando-as para o cometimento de intuitos criminosos, os integrantes dessa ORCRIM não temem a atuação do Estado e dos órgãos de segurança pública, e agem com o nítido intuito de causar temor generalizado na população, nas testemunhas do crime e de fatos correlatos, ainda afrontam a própria existência do Estado Democrático de Direito e dos Três Poderes do Estado Fluminense, diante do nítido desprezo pelas instituições e da crença desmedida na impunidade", diz outro trecho da senteça.
Lessa e Girão acompanharam o julgamento por meio de videoconferência. A decisão de que ambos iriam a júri popular ocorreu em junho de 2023, por decisão do juiz da 3ª Vara Especializada em Organização Criminosa Alexandre Abrahão. Na ocasião do crime, Girão estava preso no Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia.
Em 29 de julho de 2021, o III Tribunal do Júri recebeu a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) e decretou as prisões de Lessa e Girão, sendo que o primeiro já estava preso como autor dos disparos contra a vereadora Marielle Franco e seu motorista.
A Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson do MPRJ e a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) concluíram, à época, que as investigações do homicídio de Zóio comprovavam a ligação entre o executor e o então chefe da milícia da Gardênia Azul. Segundo as investigações, Girão teria contratado Lessa para executar o ex-policial em 14 de junho de 2014, pois a vítima, com origens em Campo Grande, também na Zona Oeste, entrou na disputa com o ex-bombeiro no controle de seu território.