Sob pressão de Trump, agência migratória troca lideranças e amplia ofensiva para deportação em massa
Em quatro meses de governo, indicadores do ICE estão abaixo da meta da Casa Branca, que quer 3 mil prisões diárias e 1 milhão de deportados no primeiro ano de mandato
Em meio às dificuldades para cumprir sua promessa de deportação em massa, o governo do presidente americano Donald Trump promoveu uma dança das cadeiras no alto comando do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), agência responsável pela detenção e remoção de imigrantes dentro do território do país.
A medida é mais um capítulo da ofensiva do republicano contra a imigração, uma das principais bandeiras da Casa Branca e uma das poucas áreas de aprovação do governo, segundo pesquisas. Dos 11 milhões de imigrantes irregulares nos EUA, mais de um milhão têm ordens de deportação.
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Robert Hammer, que estava à frente do braço investigativo do Departamento de Segurança Interna (HSI), foi demitido do cargo após apenas quatro meses. Também está de saída Kenneth Genalo, chefe interino das operações de deportação. As mudanças foram anunciadas nesta quinta-feira pelo Departamento de Segurança Interna (DHS).
A reformulação veio um dia depois de o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, afirmar em entrevista ao jornal americano Fox News que o governo quer que o ICE realize ao menos 3 mil prisões por dia — mais que o dobro da meta estabelecida no início do segundo mandato, que previa de 1.200 a 1.500 detenções diárias.
Até agora, o ICE tem ficado longe da meta de de prisões e de deportações, que inclui a expulsão de 1 milhão de imigrantes sem documentos por ano. Segundo dados do DHS, nos primeiros 100 dias do governo Trump foram realizadas pouco mais de 66 mil detenções, uma média de 660 por dia. Em fevereiro, o primeiro mês completo de Trump no cargo, 37,6 mil migrantes foram deixaram o país, segundo dados obtidos pela agência Reuters — uma queda de quase 34% em comparação com o ano ado, quando 57 mil pessoas eram deportadas em média por mês.
— Não estou satisfeito com os números — disse o "czar da fronteira" Tom Homan nesta quinta-feira. —Mas aumentamos bastante o número de equipes e esperamos um crescimento rápido nas prisões.
Desde a campanha presidencial, Trump promete liderar a maior operação de deportação da História americana. Para acelerar o processo, seu governo tem recorrido a medidas extremas — como a invocação da Lei do Inimigo Estrangeiro, de 1798, que não era decretada desde a Segunda Guerra Mundial, para deportar sumariamente imigrantes suspeitos de integrar gangues sem o devido processo legal. Ainda assim, o ritmo continua abaixo do esperado pela Casa Branca.
Nova liderança sob pressão
Com a saída de Hammer, quem assume o comando das investigações é Derek Gordon, ex-agente especial em Washington. Já Marcos Charles substitui Genalo no comando das operações de prisões e deportações.
Charles é um nome conhecido entre juízes federais. Ele tem sido responsável por prestar informações à Justiça sobre tentativas de deportação de imigrantes oriundos de países como México e Vietnã para o Sudão do Sul — mesmo que os deportados não sejam cidadãos do país africano. A prática foi barrada por decisão judicial, que exige notificação prévia para que os imigrantes possam contestar a remoção.
Em documento recente enviado à Justiça, Charles revelou que começou a carreira na Patrulha de Fronteira, no Texas, antes da criação do DHS, após os ataques de 11 de setembro. Desde 2008, atua no ICE e já comandou escritórios em Boston (Massachusetts), St. Paul (Minnesota) e Dallas (Texas).
A vice de Charles será Mellissa Harper, que também está sob escrutínio. Na quarta-feira, uma juíza federal de Maryland criticou duramente a resposta dela a uma ordem judicial que exigia informações sobre um solicitante de asilo venezuelano enviado a uma prisão de segurança máxima em El Salvador.
A juíza Stephanie Gallagher, nomeada por Trump, classificou como “superficial” a resposta apresentada por Harper, afirmando que houve “falta flagrante de esforço para cumprir” a ordem que determinava o retorno do imigrante.
Trocas em série
As demissões não são inéditas na agência. Em fevereiro, o governo já havia retirado do cargo o então diretor do ICE, Caleb Vitello, apenas um mês após sua nomeação. Segundo fontes da Casa Branca ouvidas pelo jornal americano Washington Post, ele teria sido afastado por não alcançar os números esperados de prisões. Todd Lyons assumiu o posto.
Um ex-funcionário do DHS ouvido pela imprensa americana atribuiu as recentes mudanças à frustração da Casa Branca com os resultados do ICE.
— Mas não há ninguém que consiga atender às expectativas que estão sendo impostas pelo governo — afirmou.
Enquanto a Casa Branca tenta aumentar a pressão, congressistas republicanos trabalham para liberar bilhões de dólares adicionais para ampliar a estrutura e a escala da máquina de deportações em massa. Até março, o ICE contava com um efetivo de apenas 6 mil agentes e 41,5 mil leitos.