"Tenho medo que caia e atinja minha casa", diz vizinha do prédio que desabou em Jaboatão
Comerciante tem casa adaptada para cuidar da mãe, que teve AVC, há 4 anos
Vigilância da Defesa Civil do município, curiosos e clima de apreensão por parte dos vizinhos do Edifício Kátia Melo circulam a Rua Joaquim Marquês de Jesus, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, na manhã desta quarta-feira (7).
Desespero
Um dia após o desabamento de parte do imóvel, que - felizmente, não teve vítimas, moradores como a comerciante Katarina Pimentel, de 43 anos, procuram uma resposta por parte da Defesa Civil do município ou da síndica do prédio que, sequer, apareceu ao local.
Pimentel teve a casa interditada, por causa do risco de novo desabamento do que restou do prédio. A casa dela fica ao lado direito do Kátia Melo e foi adaptada para a mãe, de 64 anos, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), há 4 anos.

A residência dela tem térreo e primeiro andar. No total, são quatro quartos, duas salas e duas cozinhas. Ela mora em cima, com a irmã. Os pais residem no térreo. Com a interdição, todos foram realocados para casas de parentes, próximas de onde aconteceu o incidente.
“O meu medo é que as paredes desabem e atinjam a minha casa. Minha mãe é acamada e a casa é toda adaptada para ela. Onde estamos, não há completo e para que minha mãe possa ficar e nós estamos apreensivos. Não sabemos o que pode acontecer. Estamos aguardando o que pode ser resolvido”, contou ela à reportagem da Folha de Pernambuco.

Katarina aguarda por um pronunciamento da síndica do prédio, que, segundo informações de agentes da Defesa Civil, assinou um documento, ainda ontem, que a comprometia, enquanto a, na tomada de decisões em até 24 horas depois do ocorrido. Entre as opções estão a demolição total do imóvel ou possíveis reformas, o que seria inviável, ante os estragos causados.
O prazo já venceu, e ela não foi ao local. De acordo com o que foi reado à reportagem, ela terá que um termo que vai ser encaminhado à Procuradoria do município que, por vez, vai enviar o ofício ao Ministério Público, para que decida o que deverá ser feito, uma vez que o município não tem competência para demolir o Kátia Melo, que, por ter 45 anos, é considerado como uma construção velha.
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Outras interdições
Além da casa de Katarina Pimentel, uma peixaria foi interditada. O comércio fica aos fundos do edifício.
Os agentes da Defesa Civil estão se revezando, há 24 horas, para impedir invasões ao local, para evitar saques e possíveis vítimas em caso de novo desabamento.
O órgão foi procurado pela reportagem. Questionada sobre se novas medidas poderiam ser tomadas e se os moradores teriam chance de receber algum auxílio, a assessoria de imprensa informou que o secretário de Defesa Civil, coronel Elton Moura, está reunido com outras secretarias, neste momento, para estudar novas medidas.
Sobre o auxílio, a resposta foi negativa, uma vez que nenhum morador solicitou qualquer tipo de recebimento de ajuda por parte da prefeitura.
Estrutura
O Kátia Melo era um prédio-caixão. Além do térreo, possuía três andares. Eram 16 apartamentos.
O que são os prédios-caixão?
O que diferencia um prédio-caixão de outro tipo de edificação é, basicamente, o fato de usar alvenaria resistente na função estrutural do prédio, ou seja: no lugar de vigas e pilares, são as próprias paredes da edificação que sustentam a estrutura.
Esse tipo de imóvel se popularizou nos anos 1970, especialmente entre as classes de menor poder aquisitivo – devido ao baixo custo, sendo uma “solução” para um profundo déficit habitacional à época.
Há 20 anos, está proibida em Pernambuco essa técnica de construção. Isso porque foi constatado que o modelo não apresentava condições de durabilidade e resistência ao longo do tempo.
Problema crônico
O histórico mostra que, de 1977 até 2023, houve um total de 18 desabamentos de prédios-caixão, resultando em 54 mortes.
Só em 2023, foram registrados dois desabamentos com mortos: o Edifício Leme, em Olinda, que ruiu após interdição, chegando a vitimar fatalmente seis pessoas; e o bloco D-7 do Conjunto Beira Mar, em Paulista, que desabou parcialmente, provocando a morte de 14 pessoas.
Riscos de desabamento de prédios-caixão: ouça o podcast