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guerra no oriente médio

Trump compara guerra entre Rússia e Ucrânia a briga de crianças e diz: "É melhor deixá-las brigar"

Declaração evidenciou a mudança de tom do republicano, que no ado chegou a dizer que seria capaz de encerrar o conflito em apenas um dia

Durante meses, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressou diferentes níveis de otimismo de que ele seria capaz de resolver o conflito na Ucrânia rapidamente. No entanto, o progresso estagnado, os ataques com drones cada vez mais mortais e a rigidez nas posições de negociação parecem ter cobrado seu preço. Na tarde de quinta-feira, enquanto o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, sentava-se ao seu lado em silêncio no Salão Oval, Trump usou uma analogia marcante para itir que a guerra está longe de terminar:

— Às vezes você vê duas crianças pequenas brigando feito loucas. Elas se odeiam e estão brigando em um parque, e você tenta separá-las. Mas elas não querem ser separadas. Às vezes, é melhor deixá-las brigar por um tempo e só depois separá-las — declarou ele, afirmando ter falado a mesma coisa ao líder russo, Vladimir Putin, durante um telefonema de 75 minutos na quarta-feira. — Eu disse: ‘Talvez vocês precisem continuar lutando e sofrendo muito antes de poderem ser separados’.

O americano hesitou em aplicar novas sanções a Moscou, receoso de afastar ainda mais Putin da mesa de negociações, e também não aprovou novos pacotes de ajuda militar à Ucrânia, na esperança de que um fim rápido à guerra tornasse a medida desnecessária. O prazo que ele havia dado na semana ada para avaliar se Putin realmente queria encerrar o conflito — “duas semanas” — também não foi mais mencionado desde então, e há pouca expectativa de que ele tome alguma atitude quando esse período expirar, na próxima segunda-feira.

Sua postura, porém, deverá ser testada nas próximas semanas, quando ele embarcará numa série de cúpulas globais em que sofrerá pressão de aliados dos Estados Unidos para adotar uma posição mais firme. É provável que ele encontre pessoalmente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na cúpula do G7 no Canadá, marcada para este mês. A conferência tem sido, nos últimos três anos, uma espécie de comissão para coordenar o apoio ocidental à Ucrânia, com Zelensky participando como convidado para reforçar seus pedidos por ajuda.

Dias depois, uma cúpula da Otan também deverá colocar o apoio de Washington a Kiev em destaque. Os líderes da aliança desenharam o encontro para ser breve e focado no aumento dos gastos com defesa por parte dos países-membros — uma exigência que tem partido do próprio presidente americano. Ainda assim, a posição de Trump em relação à Ucrânia poderá representar questões existenciais para líderes ansiosos por estimular tentativas de cessar-fogo por parte dele, publicou a CNN.

Ataques em larga escala
Enquanto isso, os combates se intensificaram novamente no início da manhã desta sexta-feira, quando grandes explosões sacudiram Kiev, a capital ucraniana. A Rússia lançou um ataque em larga escala que incluiu drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro, segundo autoridades locais e da Força Aérea da Ucrânia. Pelo menos três pessoas morreram e 49 ficaram feridas. Na mesma madrugada, a Ucrânia afirmou ter bombardeado com sucesso duas bases aéreas da Rússia.

Segundo o ministério russo, suas Forças Armadas “lançaram um ataque massivo com armas de alta precisão e longo alcance a partir do ar, do mar e por terra, além de drones de ataque”. A ofensiva ocorreu horas depois de Trump ter dito que Putin prometeu retaliar o ataque ucraniano realizado dias antes dentro do território russo. Trump afirmou ter aconselhado o líder russo a “não fazer isso”, mas não parecia confiante de que suas palavras tivessem surtido algum efeito, acrescentando:

— Provavelmente, [o ataque] não vai ser bonito.

Segundo a Força Aérea Ucraniana, a Rússia lançou 407 drones e 45 mísseis, sendo seis deles balísticos. Destes, 369 drones e 36 mísseis foram abatidos. Eles tinham como alvo “infraestrutura civil e crítica”, de acordo com o Serviço Estatal de Emergência. Entre os mortos em Kiev estavam socorristas. Na capital, o metrô — cujos túneis profundos servem como abrigos — teve sua infraestrutura danificada, e uma de suas principais linhas está parcialmente fechada.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que “quase toda a Ucrânia” havia sido alvo dos ataques. Três regiões no oeste do país foram afetadas, com infraestruturas industriais danificadas, segundo governadores locais. Três mísseis foram interceptados sobre a região de Lviv, onde houve cortes no fornecimento de energia, assim como na cidade de Ternopil. Mais de 2 mil residências em Kiev ficaram sem eletricidade após os ataques noturnos, segundo a empresa DTEK.

“Agora é exatamente o momento em que os EUA, a Europa e todos ao redor do mundo podem pôr fim a esta guerra juntos, pressionando a Rússia”, escreveu Zelensky, fazendo uma referência indireta à aparente relutância de Trump em pressionar Moscou: “Se alguém não está pressionando e está dando mais tempo para a guerra tirar vidas — isso é cumplicidade e responsabilidade. Precisamos agir com decisão.”

A mais recente ofensiva da Rússia contra a Ucrânia acontece poucos dias depois de Kiev ter lançado seu maior ataque com drones de longo alcance desde o início do conflito em larga escala, atingindo pelo menos 40 aviões de guerra russos em quatro bases militares. Zelensky afirmou que 117 drones foram usados na operação Teia de Aranha, destruindo “34% dos portadores estratégicos de mísseis de cruzeiro da [Rússia]”.

Enquanto isso, várias regiões russas também foram alvo de ataques com drones, embora nenhuma morte tenha sido registrada. Ao todo, a Rússia destruiu 174 drones ucranianos durante a noite, informou o Ministério da Defesa. Dez foram abatidos enquanto se aproximavam de Moscou, segundo o prefeito da capital. Três aeroportos na área de Moscou foram temporariamente fechados por segurança, mas já foram reabertos.

Em Engels, na região de Saratov, drones causaram um incêndio em um local industrial e danificaram um edifício residencial, segundo o governador local. Na região de Kaluga, destroços de drones caíram sobre uma rodovia. Em Belgorod, uma explosão nos trilhos interrompeu temporariamente os serviços ferroviários.

No início deste mês, conversas diretas de paz entre Rússia e Ucrânia ocorreram em Istambul, mas terminaram sem avanços significativos. Negociadores ucranianos disseram que a Rússia rejeitou um “cessar-fogo incondicional” — principal exigência de Kiev e de seus aliados ocidentais, incluindo os EUA. A equipe russa afirmou ter proposto uma trégua de dois ou três dias “em determinadas áreas” da extensa linha de frente.

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