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ESTADOS UNIDOS

Trump manda suspender emissão de vistos para estudantes estrangeiros

A medida também afeta milhares de jovens estudantes intercambistas

O governo de Donald Trump mandou que as embaixadas e os consulados dos EUA em todo o mundo suspendessem as entrevistas para vistos de estudante. De acordo com mensagem assinada nesta terça (27) pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, e obtida pelo site Politico, a ordem é para que os candidatos sejam submetidos a uma análise mais rigorosa de postagens em suas redes sociais antes de obterem autorização para entrar nos EUA.

A medida também afeta milhares de jovens estudantes intercambistas. "Com efeito imediato, em preparação para a expansão da triagem e verificação obrigatórias nas redes sociais, as seções consulares não devem adicionar mais nenhum visto de estudante ou visitante de intercâmbio (F, M e J) até que novas orientações sejam emitidas", diz a mensagem.

O visto F, citado na ordem de Rubio, é voltado para estudantes que vão às universidades e escolas superiores. O visto M destina-se a alunos que desejem frequentar escolas técnicas ou profissionais. E o J é para estudantes de intercâmbio.
 

Impacto
O Brasil é o nono país que mais envia estudantes para os EUA - foram 16,8 mil brasileiros no ano letivo de 2023-2024, o que representa um aumento de 5,3% em relação ao ano anterior. A grande maioria era de alunos de graduação e pós-graduação.

No ano acadêmico de 2023-2024, o último com dados fechados, os EUA receberam um recorde de 1,1 milhão de estudantes internacionais, que injetaram US$ 44 bilhões na economia americana, sustentando cerca de 378 mil empregos, de acordo com a Nafsa Association of International Educators, que monitora o setor.

Portanto, se a Casa Branca levar adiante o plano, poderá atrasar o processo de vistos de estudante e prejudicar muitas universidades americanas que dependem de alunos estrangeiros para aumentar seu orçamento.

Outro aspecto da medida que preocupa juristas e defensores da liberdade de expressão é a imposição de verificação das redes sociais. Esse tipo de análise não chega a ser novidade, mas até agora era voltada principalmente para estudantes que retornavam aos EUA ou que poderiam ter participado de protestos contra as ações de Israel em Gaza.

Ordens
A mensagem de Rubio, no entanto, não especifica quais critérios serão adotados na análise das redes sociais dos candidatos. Ela apenas faz referência a decretos do presidente voltados ao combate ao terrorismo e ao antissemitismo.

Há meses, muitos funcionários do Departamento de Estado dos EUA se queixam que as orientações do governo Trump têm sido vagas demais. Eles citam a ausência de critérios como, por exemplo, postar fotos de uma bandeira palestina seria ou não motivo para negar um visto.

A notícia foi recebida com espanto por associações de ensino. A Nafsa Association of International Educators criticou a decisão. A CEO do grupo, Fanta Aw, disse que a medida é injusta. "A ideia de que os dólares dos contribuintes estão sendo gastos dessa forma é muito problemática", disse. "Os estudantes internacionais não são uma ameaça. Eles são um ativo."

Deportação
A decisão do governo foi anunciada em meio a uma ofensiva de Trump contra as universidades de elite. O governo acusa essas instituições de serem esquerdistas, de colaborarem com o Partido Comunista da China, e de não adotarem políticas contra o antissemitismo.

Ao mesmo tempo, autoridades vêm apertando o cerco contra a imigração, o que já resultou na prisão de vários estudantes estrangeiros, muitos em situação legal nos EUA. Alguns, como a turca Rumeysa Ozturk, aluna da Universidade Tufts, ou seis semanas em um centro de detenção do Estado de Louisiana.

Ozturk havia escrito um artigo de opinião no jornal estudantil criticando a guerra em Gaza. Ela foi libertada no dia 11, mas ainda corre risco de ser deportada. Desde que Trump voltou ao cargo, em janeiro, mais de mil estudantes estrangeiros tiveram vistos cancelados e enfrentam risco de deportação.

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