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Com sintomas de gripe, Lula encurta agenda na França após discurso em conferência da ONU

Com a voz rouca, brasileiro deveria ficar até a sessão plenária da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, mas saiu mais cedo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encurtou sua agenda na França nesta segunda-feira, último dia da visita oficial ao país, devido a sintomas de um resfriado. Lula participou pela manhã da abertura da 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos (UNOC3), em Nice, mas deixou o evento antes da plenária, como inicialmente previsto.

Com a voz rouca e pigarros durante a fala, Lula discursou com atraso de quase duas horas em relação ao horário divulgado pelo Palácio do Planalto. No palco principal do evento, o presidente fez uma brincadeira sobre o nome da cidade anfitriã — disse que imaginava que “Nice” fosse uma homenagem a uma mulher, mas que aprendeu se tratar de uma palavra derivada de niké, que significa “vitória” em grego.

— Temos orgulho de ser uma nação oceânica — afirmou o presidente, ao mencionar o conceito de “Amazônia Azul”, referência à costa brasileira. — As duas Amazônias sofrem o impacto das mudanças do clima.

A participação de Lula na cerimônia de abertura não estava prevista inicialmente. A antecipação foi mencionada por Rodrigo Chaves, presidente da Costa Rica e atual presidente da conferência. Ao fim do discurso, Lula reforçou o convite para a COP30, marcada para novembro em Belém, afirmando que é preciso convencer as lideranças a acreditar nas mudanças climáticas e a investir na educação sobre o tema.

— Quem defende a Amazônia precisa ver a nossa COP30.

Na mesma sessão, o presidente da França, Emmanuel Macron, dirigiu-se diretamente ao “caro Lula” e destacou a convergência entre os objetivos da UNOC3 e da COP30. Em tom crítico, fez uma provocação indireta ao bilionário Elon Musk, ao afirmar que é preciso explorar “nossa última fronteira, os oceanos, em vez de nos precipitarmos para Marte”. Macron também reagiu a iniciativas de anexação de territórios, ao citar de forma velada o presidente americano, Donald Trump:

— A Groenlândia não está aí para ser tomada — declarou o francês, em referência à proposta de Trump de adquirir o território da Dinamarca.

Ainda na manhã desta segunda-feira, Lula encerrou sua agem pela França com uma visita à sede da Interpol, em Lyon. O encontro, previsto originalmente para a tarde, foi antecipado em função do mal-estar do presidente. Recebido pelo secretário-geral da organização, o brasileiro Valdecy Urquiza, Lula destacou o ineditismo da visita:

— É a primeira vez que um presidente brasileiro visita a sede da Interpol. É motivo de orgulho ser recebido por outro brasileiro que chegou ao cargo mais alto da organização, [que] atua na busca da pressão de alguns dos criminosos mais perigosos do planeta. Combate o terrorismo, resgata vítimas de tráfico e de exploração sexual e protege o meio ambiente.

Agenda carregada
Lula, que completa 80 anos em outubro, já havia demonstrado sinais de indisposição no domingo, durante participação no Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco. Durante o discurso, tossiu e assoou o nariz. Mais tarde, o governo informou o cancelamento de sua presença em um jantar de gala e anunciou as alterações na agenda de segunda-feira.

A agem pela França começou em 4 de junho e foi marcada por uma agenda intensa. No dia seguinte, mesmo sob chuva fina e temperatura de 15°C, o presidente participou de uma cerimônia com Macron e as primeiras-damas diante da Torre Eiffel iluminada com as cores do Brasil.

Coorganizada por França e Costa Rica, a UNOC3 reúne até sexta-feira líderes políticos, organizações internacionais e representantes da sociedade civil. O objetivo é fortalecer o compromisso com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 da ONU: conservar e usar de forma sustentável os oceanos e seus recursos até 2030.

Dados recentes alertam para a urgência da pauta: o nível médio do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018; a temperatura dos oceanos aumentou 1,5°C no último século; e a acidificação oceânica já cresceu 30% desde a era pré-industrial. Além disso, 37,3% dos estoques pesqueiros estão sobre-explorados.

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